Por: Cesar Sanson | 02 Abril 2013
Os acusados de envolvimento na morte do casal de extrativistas José Claudio e Maria do Espírito Santo vão a júri popular na manhã desta quarta-feira (3), no Fórum de Marabá, no Pará.
A reportagem é do portal G1, 02-04-2013.
O crime ocorreu em maio de 2011, em Nova Ipixuna (PA). Na noite desta terça-feira (2), Claudelice Silva dos Santos, 30 anos, relatou que a família ainda recebe ameaças de morte às vésperas do julgamento. "Minha irmã [Laísa dos Santos Sampaio] ainda vive no assentamento e cuida dos projetos do nosso irmão. Eu saí da região por segurança, para proteger minha família, pois eles [agricultores] me acham bocuda, que falo demais, que faço muitas denúncias. Minha irmã continua na mesma casa e sofre com isso, sofre com emboscadas, com terror psicológico, com bilhetes ameaçadores", disse Claudelice.
Ela afirmou ao G1 que está confiante na condenação dos acusados das mortes de seu irmão José Claudio e de sua cunhada, Maria. "Esperamos Justiça. Sabemos que mais gente participou do crime e que será difícil que eles paguem pelo que fizeram, mas o julgamento de amanhã é o primeiro passo para a Justiça ser feita. A expectativa é a melhor possível. Apesar disso, minha irmã, que será testemunha no julgamento, está muito assustada, muito abalada." Segundo o Ministério Público do Pará, o agricultor José Rodrigues Moreira é réu sob acusação de "planejar, organizar e financiar" do assassinato do casal de extrativistas. As vítimas denunciavam constantes casos de extração ilegal de madeira e grilagem de terras no assentamento Praia Alta Piranheira, em Nova Ipixuna.
Ainda de acordo com o MP, Moreira teria contratado os pistoleiros Lindonjonson Silva e Alberto Lopes do Nascimento para executar a tiros o casal, em uma emboscada no assentamento. Os três réus aguardam o julgamento presos no Centro de Recuperação Agrícola Mariano Antunes, em Marabá.
Terra para o mandante
Em audiência pública realizada na noite desta terça-feira no auditório da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Marabá, Claudelice disse que cobrou posicionamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) pela inclusão do nome da mulher de Moreira em uma lista de beneficiários de um projeto de reforma agrária no Pará. "Ninguém me respondeu. Me disseram que o Incra no Pará não vai se pronunciar para não contradizer o Incra nacional. A sensação que se tem é a de que o crime compensa neste país. Mataram meu irmão e minha cunhada e ainda levaram a terra que tanto queriam", afirmou Claudelice.
O documento detalhando a inclusão de Antônia Nery Sousa foi entregue ao Ministério Público Federal de Marabá em março deste ano. O Ministério Público Federal e o Incra divulgaram documento explicando que o nome de Antônia foi incluído por equívoco no Sistema de Informação de Projetos de Reforma Agrária (Sipra).
Protestos
Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Marabá, um ato ecumênico será realizado na frente do fórum de Marabá por volta das 7h30 desta quarta-feira. Em seguida será montado um acampamento no local até o fim do julgamento. A segurança do fórum da cidade será reforçada por cerca de 30 policiais militares.
"Vamos lembrar dos conflitos por terra que aconteceram na região. Vamos falar de direitos humanos, do extrativismo sustentável, dos conflitos com pecuaristas. Vamos mostrar que é necessário que seja feita Justiça na morte do casal [José Cláudio e Maria]", disse José Batista Afonso, advogado da CPT.
Segundo o juiz Murilo Simão, o julgamento está previsto para começar às 8h. Serão ouvidas 14 testemunhas de acusação e 13 testemunhas de defesa.
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Acusados de envolvimento na morte do casal de extrativistas vão a júri popular - Instituto Humanitas Unisinos - IHU