01 Março 2013
Cardeais que elegerão o próximo papa querem detalhes da investigação sobre tráfico de influência, chantagem e homossexualidade no Vaticano antes do conclave. A revelação foi feita ontem, em Roma, pelo cardeal brasileiro d. Geraldo Majella Agnelo, arcebispo emérito de Salvador. Para d. Geraldo, o dossiê "deveria ter sido comunicado" à cúpula da Igreja e não apenas ao futuro pontífice, como Bento XVI determinou.
A reportagem é de Andrei Netto e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 01-03-2013.
A existência da investigação foi revelada na semana passada. Segundo a imprensa italiana, trata-se de um dossiê de 600 páginas produzido por três cardeais, Juan Herranz, Josef Tomko e Salvatore De Giorgi, elencados por Bento XVI para a apuração. O documento reuniria informações sobre as origens do escândalo Vatileaks, o vazamento de informações confidenciais do Vaticano.
Conforme o jornal La Repubblica, o dossiê revelaria a divisão da Cúria Romana em facções políticas que fariam lobby. Além de tráfico de influência, teriam aflorado casos de chantagem, de desrespeito ao voto de castidade, de homossexualidade e até mesmo o uso de redes de prostituição por membros do clero.
O dossiê, que teria sido entregue ao pontífice em 9 de outubro de 2012, seria uma das razões para a renúncia de Bento XVI. Mas, antes de deixar o posto, o pontífice teria ordenado que o resultado da investigação seja entregue ao seu sucessor - portanto, após o conclave.
Ontem, d. Geraldo admitiu que cardeais estão preocupados com o teor da investigação. Questionado sobre se o conteúdo do dossiê deveria ser revelado ao Colégio de Cardeais antes do conclave, ele foi enfático. "Eu acho que deveria ser comunicado. Se é um dossiê grande, deveria ser comunicado."
Para d. Geraldo, o ideal seria que os três investigadores fizessem um relatório de suas conclusões antes da votação, ainda "nas primeiras reuniões". "Nós vamos ter reuniões a partir de segunda-feira, quando saberemos como vai ser realizado o conclave. Provavelmente os próprios cardeais vão querer saber se houve uma comissão", disse. "Isso nós vamos querer saber, pois diz respeito à Igreja, hoje."
Nos últimos dias, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, tem criticado a imprensa por supostamente publicar informações inverídicas e "difamatórias" com o objetivo de orientar o conclave. Apesar disso, não negou a existência do dossiê. "O santo padre decidiu que os atos, que só são conhecidos por ele, estarão à disposição exclusiva de seu sucessor", esclareceu Lombardi.
As declarações de d. Geraldo foram feitas em entrevista concedida no Colégio Pio Brasileiro, na capital italiana. Na oportunidade, o arcebispo emérito de Salvador disse acreditar que o conclave de 2013 será "um pouco mais difícil" que o de 2005, quando Joseph Ratzinger era membro de destaque entre os cardeais. "Agora não temos ninguém que se sobressai. Não existe ninguém que chame a atenção. Estão todos mais ou menos nivelados", analisou. O cardeal admitiu ainda ter "uns cinco" nomes em mente para votar, sem, claro, revelar sua preferência.
Como grande parte dos cardeais, d. Geraldo teve ontem pela manhã a oportunidade de se despedir de Bento XVI. Em uma rápida conversa, o agora papa emérito recordou o tempo em que ambos se encontravam na Cúria Romana.
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Votantes querem dossiê sobre Vatileaks antes da eleição - Instituto Humanitas Unisinos - IHU