14 Fevereiro 2013
"A decisão mais moderna, tomada pelo papa menos moderno das últimas décadas". Essa é a opinião de Carl Bernstein, protagonista do escândalo Watergate juntamente com Bob Woodward, e depois autor com Marco Politi do livro Sua Santidade, dedicado ao pontificado de João Paulo II. "Essa medida, no entanto, oferece à Igreja a grande oportunidade de finalmente se medir com o mundo que muda e custa a se reconhecer nos seus ensinamentos".
A reportagem é de Paolo Mastrolilli, publicada no jornal La Stampa, 12-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
O senhor, juntamente com Woodward, causou a renúncia mais chocante do século passado, do presidente Nixon. Há semelhanças?
No episódio, não. Nixon era um criminoso, que foi forçado a deixar a Casa Branca por causa dos crimes cometidos, com os quais havia violado a Constituição. Ratzinger é uma pessoa já fraca demais no plano físico e intelectual, que optou por abandonar o seu cargo. É verdade que um ato desse tipo não ocorria há 700 anos, mas o seu valor histórico dependerá mais do que o conclave irá decidir fazer agora, do que na renúncia em si mesma.
Por quê?
O conclave anterior não fez um grande serviço à Igreja, aos católicos e ao mundo inteiro. Ele escolheu uma pessoa muito avançada na idade, mas principalmente caracterizada por uma relação difícil com a modernidade. Bento XVI escolheu seguir o rastro traçado por João Paulo II para todas as coisas menos populares e e de menor sucesso do pontífice anterior: penso no papel das mulheres na Igreja, ou também no modo como tentou encobrir o problema dos abusos sexuais cometidos pelos sacerdotes. No plano da comunicação, ao invés, esse papa não conseguiu conciliar a teologia eterna do catolicismo com a realidade em rápida evolução do nosso mundo. Wojtyla, por fim, era um gênio da geopolítica, enquanto Ratzinger não tinha feeling com essas questões. Talvez as críticas que eu estou fazendo sejam injustas, porque estamos falando de duas pessoas diferentes que viveram o papado em momentos diferentes, mas mesmo assim o resultado é uma Igreja cada vez mais insular como instituição.
Admitindo-se que o senhor tenha razão, a renúncia de Bento XVI não assume um valor ainda maior como tomada de consciência desses problemas?
Como jornalista, eu trabalharia acima de tudo sobre as motivações físicas do gesto: há coisas que não sabemos acerca das verdadeiras condições de saúde e as capacidades mentais do papa? Os recentes escândalos tiveram um papel? Apurado isso, não há dúvida de que o aspecto mais importante da história é a forma como a Igreja reagirá. O papa menos moderno das últimas décadas fez uma escolha muito moderna, que de certa forma muda a sua herança. Agora, o desafio está nas mãos do conclave, que é dominado pelos homens escolhidos por Wojtyla e Ratzinger, mas tem a oportunidade de finalmente abrir a Igreja ao mundo. Nesse sentido, talvez, há o único ponto de contato com o episódio Nixon: a possibilidade oferecida a uma grande instituição de se renovar e de se relançar.