Por: André | 05 Fevereiro 2013
“Para quem conhece os protocolos da hierarquia católica, a notícia é surpreendente. O arcebispo de Los Angeles exonerou publicamente seu antecessor, um cardeal, por suas graves deficiências no tratamento dos abusos sexuais cometidos por sacerdotes”. Estas palavras do editorial do National Catholic Reporter, a principal revista católica americana, dizem muita coisa sobre a surpresa da mídia dos EUA sobre o anúncio do arcebispo José Gómez, que afastou publicamente seu predecessor o cardeal Roger Mahony de “todas as suas funções públicas ou administrativas”.
A reportagem é de Natalia Trouiller e está publicada no sítio da revista La Vie, 04-02-2013. A tradução é do Cepat.
“Sem precedentes” para a CNN, “sem equivalente” para o Los Angeles Times, a decisão do arcebispo Gómez é mais simbólica do que real: como o cardeal Roger Mahony estava aposentado, suas atividades já eram bem reduzidas. Mas mostra mais do que qualquer outro gesto o caminho percorrido nos últimos dez anos pela hierarquia católica americana relativo ao tratamento dado aos abusos sexuais. Atingido, primeiro, por uma onda de escândalos que chegaria na Europa, alguns anos mais tarde, a Igreja americana viu seu capital de respeito derreter como neve ao sol e seus fundos serem significativamente drenados por avultosos processos: Tucson, Portland, Milwaukee e várias dioceses foram à falência depois de terem pago centenas de milhares de dólares às vítimas dos sacerdotes.
Desta máquina de lavar roupa legal, financeira e midiática, saiu um desejo de transparência e de “tolerância zero” exemplar: é assim que se deve compreender não só a frase do arcebispo Gómez, mas também a publicação, no sítio da arquidiocese, de milhares de páginas de documentos da Igreja de Los Angeles descrevendo nua e cruamente os acordos não muito católicos do cardeal Mahony e, sobretudo, de seu braço direito no assunto, o bispo Thomas J. Curry.
Até sexta-feira, o bispo Curry ainda era vigário episcopal em Santa Bárbara. Ele foi exonerado face aos escândalos: algumas frases tiradas destes famosos documentos são absolutamente estarrecedoras. Por exemplo, no caso do padre Kevin Barmasse, enviado a Tucson após agredir um menino em Lakewood, e que pergunta para saber se poderia retornar à diocese de Los Angeles, o bispo Curry escreveu: “O rapaz envolvido terá dezoito anos de idade, Kevin não deverá, portanto, retornar antes de dois anos, data em que o prazo para apresentação de queixa irá caducar”. Em outros casos, parece cheio de empatia para com os agressores em detrimento das vítimas. Em outro ainda, ele confia um padre pedófilo a um terapeuta que também é advogado, para que suas conversas sejam cobertas pelo privilégio advogado-cliente e a fim de que este último não possa testemunhar contra o seu paciente.
O arcebispo Gómez, atual titular da Arquidiocese de Los Angeles, desculpou-se publicamente. O caso está apenas no seu começo.
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Arcebispo de Los Angeles exonera seu antecessor por tratamento dado à pedofilia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU