Indignação e esperança

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30 Novembro 2012

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas Lucas 21,25-28. 34-36 que corresponde ao Primeiro Domingo do Advento, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

 

 

 

Uma convicção indestrutível sustém desde o início a fé dos seguidores de Jesus: alentada por Deus, a história humana encaminha-se para a sua libertação definitiva. As contradições insuportáveis do ser humano e os horrores que se cometem em todas as épocas não devem destruir a nossa esperança.

Este mundo que nos sustém não é definitivo. Um dia a criação inteira dará “sinais“ de que chegou ao seu fim para dar passo a uma vida nova e liberta que nenhum de nós pode imaginar nem compreender.

Os evangelhos recolhem a recordação de uma reflexão de Jesus sobre este final dos tempos. Paradoxalmente, a sua atenção não se concentra nos “acontecimentos cósmicos” que se possam produzir naquele momento. O seu principal objetivo é propor aos seus seguidores um estilo de viver com lucidez ante esse horizonte.

O final da história não é o caos, a destruição da vida, a morte total. Lentamente, no meio de luzes e trevas, escutando as chamadas do nosso coração ou deixando o melhor que há em nós, vamos caminhando em direção ao mistério último da realidade que os crentes chamam “Deus”.

Não temos que viver presos pelo medo ou a ansiedade. O “último dia” não é um dia de ira e de vingança, mas de libertação. Lucas resume o pensamento de Jesus com estas palavras admiráveis: “Levantai-vos, erguei a cabeça; acerca-se a vossa libertação”. Só então conheceremos com profundidade como Deus ama ao mundo.

Temos de reavivar a nossa confiança, levantar o ânimo e despertar a esperança. Um dia os poderes financeiros irão se afundar. A insensatez dos poderosos acabará. As vítimas de tantas guerras, crimes e genocídios conhecerão a vida. Os nossos esforços por um mundo mais humano não se perderão para sempre.

Jesus esforça-se por sacudir as consciências dos seus seguidores. “Tende cuidado: que não se vos fraqueje a mente”. Não vivais como imbecis. Não vos deixeis arrastrar pela frivolidade e os excessos. Mantei viva a indignação. “Estai sempre despertos”. Não vos relaxeis. Vivei com lucidez e responsabilidade. Não vos canseis. Mantei sempre a tensão.

Como vivemos este tempo difícil para quase todos, angustiante para muitos, e cruel para quem se afunda na impotência? Estamos despertos? Vivemos permanentemente dormindo? Desde as comunidades cristãs temos de alentar a indignação e a esperança. E só há um caminho: estar junto aos que ficarão sem nada, afundados no desespero, na raiva e na humilhação.