22 Outubro 2012
"Na sexta-feira, dia 19-10-2012, Brasilia foi palco de uma denúncia pública contra o genocídio, em especial os povos Kaiowá Guarani. Cinco mil cruzes foram plantadas na esplanada dos Ministérios. A partir de meio dia e meio, sob um sol causticante, representantes de entidades indigenistas, de direitos humanos, acadêmicos e militantes do Conselho Nacional de Psicologia e indígenas, vestidos com camisetas pretas, chamaram atenção da midia que esteve em grande numero no local. Estava sendo esperado um onibus com Guarani e um grupo de kongada e reizado, que infelizmente não conseguiu chegar à tempo. À noite o grupo fez uma apresentação no Centro de Formação Vicente Cañas, onde a CPT está realizando um curso nacional de formação, aprofundando a questão do campesinato. No final da apresentação uma das anciãs do grupo de reizado disse: "estamos realizando essas celebrações em solidariedade aos Kaiowá Guarani. Essa solidariedade certamente continuará essa noite quando estará se realizando uma celebração dos 90 anos de D. Tomás Balduino, que foi presidente do Cimi e da CPT e continua como ativo militante dessas causas", informa Egon Heck, CIMI-MS, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.
Eis o artigo.
Sol de rachar logo após o meio dia. A esplanada dos ministérios amanheceu com cinco mil cruzes plantadas no coração do poder. Cinco mil vidas indígenas ceifadas, simbolizando o genocídio em curso e as décadas e séculos de decretos de extermínio e mortes planejadas. Cenário tétrico, que deveria comover os responsáveis pelos três poderes, em última instância pelo silencioso e continuado genocídio do povo Kaiowá Guarani do Mato Grosso do Sul.
Eliseu e Rose Kaiowá Guarani caminham por entre as cruzes como se estivessem caminhando entre cinco séculos de dominação, perseguições, invasões, expulsões e mortes. Seguram faixas que denunciam o genocídio desse povo e clamam por solidariedade "Salve kaiowá Guarani" , "Em defesa do povo e das terras dos Kaiowá Guarani". Falam da violência que seu povo sofre nos dias atuais, quando várias lideranças foram assassinadas e outras estão seriamente ameaçadas pelo poder dos fazendeiros e do agronegócio. Veja o vídeo.
Na medida em que o tempo foi passando mais e mais pessoas, quase todas vestidas de preto, como gesto de luto e protesto. Nas camisetas o clamor contra o terrorismo dos poderes contra a vida e os direitos dos Kaiowá Guarani e demais povos indígenas do país ameaçados em perder direitos conquistados na Constituição e consagrados na legislação internacional. Existe uma verdadeira guerra contra as terras indígenas e o saque dos recursos naturais.
Imprensa e aliados foram se juntando à manifestação. Entidades de Direitos Humanos, indigenistas, parlamentares de plantão, em tempo de Congresso vazio. Até a veterana jornalista, que desde a década de setenta vem denunciando as violações dos direitos indígenas se fez presente. Eliana Lucena, foi e continua sendo uma aliada dos povos indígenas em nosso país, há mais de 40 anos.
Dentre os articuladores das ações estão o Conselho Federal de Psicologia, Justiça Global, Plataforma de Direitos Humanos,Sociais,Culturais e Ambientais - DHSCA e o Conselho Indigenista Missionário.
Foi um grito forte da sociedade civil exigindo medidas imediatas e eficazes da parte dos três poderes para estancar o genocídio e garantir os direitos dos povos originários deste país. As falas foram neste sentido. Foram elencadas ações em curso para exigir do governo e do Estado brasileiro. Ações e denuncias na Organização dos Estados Americanos (OEA) e Organização das Nações Unidas (ONU). Por isso só com uma aliança ampla com a sociedade e a intensa mobilização dos povos indígenas poderá se dar um exitoso enfrentamento com os interessas anti-indígenas.
Dentre os participantes do ato vale destacar a presença solidária de D. Enemesio, presidente da Comissão Pastoral da Terra, juntamente com outros representantes do órgãos de várias regiões do país.
O genocídio continua, mas também se consolidaram importantes alianças da causa e a esperança também avançou. A luta continua. A luta Kaiowá Guarani ganhou importante visibilidade. Os enfrentamentos vão se dar nos diversos espaços. As cruzes fincadas no coração dos poderes certamente trarão resultados. Os povos resistentes à secular dominação são portadores de futuro e aliados de todos os marginalizados e empobrecidos deste país.
Enquanto isso as comunidades nas retomadas, nos acampamentos, nas aldeias, organizam a esperança, enfrentam os poderosos e lutam com as forças que lhes restam contra as políticas de morte e genocídio.
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Ato contra o genocídio Kaiowá Guarani, em Brasília - Instituto Humanitas Unisinos - IHU