10 Outubro 2012
A vitória na eleição de domingo com o maior percentual de votos entre os candidatos de todas as capitais brasileiras foi a realização de um projeto adiado por 12 anos mas jamais abandonado pelo prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT). Para alcançar o "velho sonho", ele teve que deixar o PT em 2002, dois anos depois de perder as prévias do partido para a prefeitura, e reconstruir a trajetória política na nova sigla, de menor expressão política do que a anterior. Na eleição de domingo, o PT ficou aquém dos 10% dos votos, o pior resultado da legenda na cidade que já governou por quatro mandatos.
A reportagem é de Sérgio Ruck Bueno e publicada pelo jornal Valor, 10-10-2012.
Fortunati foi reeleito em primeiro turno com 65,22% dos votos válidos, 0,62 ponto percentual a mais do que Eduardo Paes (PMDB) obteve no Rio de Janeiro e o melhor desempenho alcançado por um candidato em Porto Alegre desde a redemocratização. O resultado o projetou à condição de principal nome do PDT no Rio Grande do Sul, mas ele descarta concorrer ao governo do Estado em 2014. "Não existe a menor possibilidade, quero ser lembrado pelo meu trabalho na prefeitura", afirma.
Prestes a completar 57 anos, no dia 24 deste mês, o prefeito considera esta como sua primeira eleição de fato para o cargo, porque até 2010 ele era vice de José Fogaça (PMDB), que renunciou para concorrer ao governo do Estado naquele ano. Segundo o presidente estadual do PDT, Romildo Bolzan Júnior, seria um "erro estratégico" retirá-lo da prefeitura em 2014, antes de "consolidar" o mandato na cidade, mas o projeto do partido é contar com ele para a disputa estadual de 2018.
Mesmo assim, depois dos resultados deste ano, Fortunati acredita que o PDT, hoje na base de apoio do governador petista Tarso Genro e da presidente Dilma Rousseff, tem que partir do "pressuposto" da candidatura própria no Estado em 2014. Além de Porto Alegre, o partido venceu em Caxias do Sul, segundo maior colégio eleitoral gaúcho, e ampliou o número de prefeituras no Estado para 70, depois de ter recuado de 97 para 65 em 2008. "Partido grande tem que se apresentar como alternativa de poder", entende. Em todo o país, o número de prefeituras do PDT recuou de 350 para 308.
A maior vitória política do prefeito em Porto Alegre até agora também encerra um capítulo que começou tenso em sua vida pessoal. Há dez anos, a saída do PT, partido que ele ajudou a fundar em 1980, não foi muito tranquila. Em 2000 Fortunati era vice-prefeito na gestão de Raul Pont e a tradição rezava que o vice da sigla era o candidato a prefeito na eleição seguinte. Foi assim com o próprio Pont, ex-vice de Tarso Genro de 1993 a 1996, o qual havia sido vice de Olívio Dutra de 1989 a 1992.
"Eu era deputado federal, líder da bancada e tinha um nome nacional, mas abri mão para ser vice-prefeito [na eleição de 1996] porque tinha o projeto de ser prefeito da cidade", lembra Fortunati. Quando chegou a vez dele, em 2000, porém, a recém-instituída regra da reeleição mudou o jogo e o próprio Pont decidiu tentar a candidatura a um novo mandato, o que exigiu a realização de prévias.
Ainda assim, Fortunati acreditava ter o apoio de Genro (ambos eram da mesma corrente interna, o PT Amplo), mas o então ex-prefeito também decidiu entrar na briga e venceu as prévias. Fortunati ainda concorreu a vereador naquele ano e foi o mais votado, com quase 40 mil votos, mas a partir daí a relação dentro do partido desandou. Depois de disputar a presidência do PT, na disputa vencida por José Dirceu, em 2001, Fortunati concluiu que estava sem espaço e mudou-se para o PDT.
Para muitos petistas, essa decisão não foi totalmente absorvida e até hoje ainda permanece um sentimento de que o agora prefeito abandonou o barco por não assimilar como deveria as derrotas internas. "Mas não há preconceito", diz um dirigente do partido. Já Fortunati garante que não guarda mágoas do episódio. "São águas passadas e prefiro olhar sempre para a frente", afirma.
Logo depois de chegar ao PDT, Fortunati assumiu, em 2003, a Secretaria da Educação do Estado no governo Germano Rigotto (PMDB) e em 2006 tentou novamente uma vaga na Câmara dos Deputados, mas não se elegeu. Diante do novo revés, chegou a pensar em abandonar a política, mas no ano seguinte foi convidado pelo então prefeito José Fogaça, na época no PPS, para assumir a Secretaria do Planejamento de Porto Alegre. Em 2008, participou como vice da chapa que reelegeu Fogaça, que já havia se transferido para o PMDB.
Para o professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), André Marenco, a transferência para o PDT acabou contribuindo agora para a eleição de Fortunati. Primeiro, porque ele mudou sem dar uma guinada para um partido de direita radical e conseguiu atrair a simpatia de antigos eleitores petistas que cansaram do PT no comando da prefeitura. Ao mesmo tempo, o quadro de alianças formado por ele, que inclui siglas como o PP, o DEM e o PMDB, obteve votos de eleitores mais conservadores.
Além disso, entende Marenco, ao longo do tempo Fortunati firmou uma imagem de gestor pragmático, moderado, confiável, aberto ao diálogo, que admite e corrige problemas e executa as obras com competência, o que acabou se expressando nos elevados índices de aprovação revelados pelas pesquisas. "Não sou senhor de todas as verdades, ouço mais de uma opinião, mas depois que tomo a decisão eu vou até o fim", diz o prefeito, que administra uma coligação de seis partidos e que será ampliada para nove no próximo mandato. "Negocio com os partidos, mas sou o prefeito e a última palavra é a minha".
Casado há 20 anos com a relações públicas, estudante de direito e ferrenha defensora dos direitos dos animais, Regina Becker, o prefeito também fixou a imagem de homem de família e religioso. Católico praticante, chegou a romper com a Igreja nos tempos de movimento estudantil, mas há alguns anos retomou a "espiritualidade", como ele mesmo afirma, e durante a campanha costumava encerrar os programas eleitorais e os debates com um "Deus abençoe a todos". "Vamos à Igreja todos os domingos", reforça o prefeito.
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Preterido pelo PT, Fortunati impõe maior derrota à antiga sigla - Instituto Humanitas Unisinos - IHU