06 Setembro 2012
Dissidência da Igreja Universal criada pelo apóstolo Valdemiro Santiago em 1998, a Igreja Mundial é hoje a denominação neopentecostal que mais cresce no país. Nesse percurso, arrebanhou fiéis e uma quantidade impressionante de dinheiro, usado na construção de quase 4 mil templos e compra de espaços televisivos - são 22 horas diárias de transmissão de cultos na Rede 21, além de espaço nas emissoras Rede TV!, CNT e Band. A "igreja eletrônica", como define o pastor Ronaldo Didini, está presente também em 42 países da África, na Europa, América Latina e Estados Unidos.
A reportagem é de Vandson Lima e publicada pelo jornal Valor, 06-09-2012.
Homem forte da Universal até 1997, Didini conhece como poucos os bastidores da igreja liderada pelo bispo Edir Macedo. Primeiro diretor da rede Record, quando da compra da emissora pela igreja em 1989, ele foi por anos o responsável pela articulação política da Universal.
Apresentador do programa 25ª hora, na década de 1990, Didini foi próximo do deputado federal Paulo Maluf (PP). Seu primeiro estremecimento com a Universal se deu em 1996, quando a igreja desistiu de apoiar Celso Pitta, indicado de Maluf à sua sucessão na Prefeitura de São Paulo, para aliar-se a José Serra (PSDB), que concorre novamente ao cargo este ano.
Além da questão política, Didini conta que passou a desacreditar das práticas da igreja. "A teologia da Prosperidade ficou ostensiva, trazendo Deus aqui para baixo, como se fosse um gerente de banco para te dar empréstimo. Ficou uma pregação materialista", observa.
Ele também discordou do uso eminentemente comercial da Rede Record, com cultos restritos à madrugada. "Por que usar uma emissora que foi adquirida com recursos de fiéis - porque essa é a verdade, recursos dos quais não são recolhidos impostos - para fins tão comerciais?", questiona.
"Quatro meses depois da minha saída da Universal, o Valdemiro deixou a igreja. Devolveu tudo que a Universal havia colocado em seu nome - três emissoras de rádio e duas de TV. Macedo deu 50 mil reais a ele e um carro Gol velho para recomeçar a vida", relembra.
Um ano depois de deixar a Universal, Didini aventurou-se nas urnas como candidato a deputado estadual pelo PP, em 1998. Tinha de Maluf a promessa de um secretariado. Apesar de fazer campanha "dobrada" com nomes como Celso Russomanno e Arnaldo Faria de Sá, amealhou apenas 29 mil votos. Maluf também foi derrotado e Didini deixou o país por nove anos.
Nesse meio tempo, montou uma igreja familiar, o Ministério Caminhar, em Lisboa, Portugal, depois englobada pela Mundial. Em 2007, voltou ao Brasil e viu uma Igreja Mundial ainda distante do tamanho atual, mas que retomava a ênfase na proposta original da Universal - campanhas de cura, libertação espiritual e milagres. "Sentei lá e vi paralítico levantar, cego enxergar. A Mundial faz hoje o que a Universal não faz mais, de curar enfermos e expulsar demônios. Por isso as pessoas migram para a Mundial", acredita.
Didini diz não conseguir mensurar o tamanho da Mundial. "O nosso maior público é a igreja eletrônica. A TV é um fator multiplicador que vale mais que as 4 mil igrejas".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Expansão da Igreja Mundial acirra embate com a Universal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU