30 Agosto 2012
O tema bicicleta envolve a unanimidade dos candidatos a prefeito. Nenhum se furta de relatar as quantidades de quilômetros de ciclovias que pretende construir para deixar as cidades livres da poluição, do trânsito e, de quebra, com eleitores em boa forma. Nenhum nega os investimentos em infraestrutura que um sistema de deslocamento sobre duas rodas integrado a outros meios requer. Mas nem tudo pode ser resolvido pelas prefeituras. As regras de circulação de veículos e medidas para punir infrações estão amarradas ao Código Brasileiro de Transito e são, portanto, uma incumbência federal.
A reportagem é de Marli Olmos, Fernanda Pires, Raphael Di Cunto e Sérgio Huck, publicada no jronal Valor, 29-08-2012
Ao contrario do que acontece na China, Paris ou Copenhague, pedalar pelas ruas não faz parte da cultura dos que vivem nos centros urbanos brasileiros. E o Poder Municipal não tem como fiscalizar ou punir quem provocar um acidente nessas circunstâncias. Bicicletas não são veículos licenciados pelos órgãos de transito e, portanto, não têm placas. Ao mesmo tempo, ao contrário do condutor de carro ou motocicleta, o ciclista sequer precisa de habilitação.
O limite de velocidade numa ciclovia sempre foi tema polêmico no Brasil. A situação piorou com a chegada da bicicleta elétrica. Em cidades como Pequim e Paris há regras específicas para esse tipo de veículo trafegar em ciclovias. Já no Brasil, os fiscais de trânsito se atrapalham. Às vezes um veículo com jeito de bicicleta até parece moto porque tem um motor (elétrico). Na dúvida, acabam proibindo a circulação em ciclovia.
A fisioterapeuta Roberta Amaral Henriques tem uma bicicleta elétrica da marca Ciclovolt que pode até ser confundida com uma motoneta. Por pressão dos demais usuários, preocupados com a potência da bike elétrica, ela se viu obrigada a abandonar a ciclovia de Santos (veja matéria ao lado).
O país tem ainda muito para avançar na área. E não são apenas os usuários comuns que reclamam "O estado das ruas dificulta circular em bicicleta", diz Celso Russomano, candidato do PRB à Prefeitura de São Paulo. Russomano se apresenta como um "ciclista contumaz" e diz ter 22 bicicletas "espalhadas pelo Brasil". Pedalar está em seus sonhos como prefeito: "Se me permitirem, irei todos os dias até a prefeitura de bicicleta". Para organizar o sistema, ele defende a volta do emplacamento de bicicletas e campanhas educativas.
Soninha Francine (PPS) pedala até para ir até os debates da eleição. Seus planos cicloviários envolvem cada região da cidade. "Alguns planos já foram feitos, mas não foram colocados em prática. Sem planejamento, aparecem os remendos, que não ajudam quase nada", afirma.
José Serra (PSDB) atribuiu à sua gestão na prefeitura paulistana a iniciativa das ciclovias, que, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), somam 54,4 quilômetros. Ele pretende ampliar não só as ciclovias, como também as ciclofaixas de lazer.
A última pesquisa Origem- Destino, da Companhia do Metro, mostrou que, entre 1997 e 2007, o número de viagens de bicicleta nas ruas paulistanas cresceu 176%. No mesmo período, o número de usuários do metrô cresceu 31%.
Gabriel Chalita (PMDB) promete ciclovias bem sinalizadas, sistemas de aluguel, integração com o metrô e vagas de estacionamento. Fernando Haddad (PT) se propõe a criar uma rede pública de aluguel de bicicletas integrada aos demais meios de transporte, com bicicletários em terminais de ônibus, além de estacionamentos para os veículos de duas rodas em prédios públicos, como escolas e hospitais. A rede seria integrada ao Bilhete Único.
Em Sorocaba (SP), o usuário utiliza o cartão do transporte público para fazer o empréstimo das bicicletas públicas, mas não paga pelo uso da bike. Com 96 quilômetros de extensão (a segunda maior do país), a rede de ciclovias de Sorocaba começou a ser construía na primeira gestão do atual prefeito, Vítor Lippi (PSDB), que é médico. "Sedentarismo é o principal fator de risco para quem vive em centros urbanos", explica.
Ainda há poucas ciclovias em Porto Alegre, mas o apelo ecológico coloca o sistema nos planos de governo de todos os candidatos. Em 2009, a Câmara de Vereadores aprovou um plano diretor cicloviário para criar 495 quilômetros de vias para ciclistas até 2022. Até agora há dez quilômetros. O prefeito José Fortunati (PDT), que concorre à reeleição, promete mais 40 quilômetros de até 2014 e um sistema de aluguel. Segundo ele, o custo varia de R$ 250 mil a R$ 400 mil por quilômetro, dependendo da estrutura de proteção aos ciclistas.
Já a candidata do PCdoB, Manuela D'Ávila, pretende enviar à Câmara um projeto de lei para obrigar a oferta de bicicletários em locais de grande movimento, como estádios de futebol. O candidato do PT, deputado estadual Adão Villaverde, prega mais rigor na fiscalização. Para o candidato do PSOL, Roberto Robaina, as ciclovias apenas "amenizam" os problemas de mobilidade. Wambert Di Lorenzo, do PSDB, defende a construção de rede interligada de ciclovias e bicicletários e vestiários nos órgãos públicos para estimular o ciclismo entre os servidores. "Ciclovia é complementar, mas gera simpatia pelo ponto de vista ambiental", diz Érico Corrêa, do PSTU.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Bicicletas caem na ciranda eleitoral - Instituto Humanitas Unisinos - IHU