31 Agosto 2012
O Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Globalização Transnacional e da Cultura do Capitalismo (NIEG) comenta a situação dos bancos brasileiros em relação às crises que ocorreram no recentemente.
Eis o artigo
A crise que desestabilizou o mercado estadunidense a partir de 2007, com reflexos na Europa nos anos seguintes, foi impulsionada por um superaquecimento do mercado imobiliário, na qual todos os investidores acreditavam que este setor nunca seria desvalorizado. Engano deles, as pessoas, endividadas com as prestações das casas, não conseguiam pagar o que deviam. Os bancos, impacientes para ganhar ainda mais, para além de receber o valor que investiram, montavam pacotes com as mais diversas dívidas e vendiam para outros bancos, e cada vez mais a bola de neve crescia. Foi então que os primeiros bancos começaram a ruir.
A crise espalhou-se pelo mundo, mas o Brasil foi um dos poucos países que passaram ilesos por esse grande “tsunami” econômico. Os bancos não sofreram e tudo ficou bem... Será possível isso mesmo?
Não, grandes bancos já caíram por terra no Brasil, e por mais que isso já tenha acontecido aqui, as pessoas fingem não perceber. Os “formadores de opinião” tem uma memória muito fraca para esse tipo de assusto e a população tende a pouco saber também. A quebra de bancos no “país do carnaval” não vem de hoje, é um tema que está presente há algum tempo dentro de nossa economia, mas somos levados a esquecer de tudo o que foi feito.
Algumas pessoas que estarão lendo este artigo podem lembrar do Banco Sul Brasileiro S/A que surgiu em 1972, de uma fusão do Banco Nacional do Comércio (Banmercio) com o Banco da Província e o Banco Industrial e Comercial do Sul (Sulbanco). Após 13 anos de sua criação, o Sul Brasileiro sofreu uma intervenção do Banco Central por problemas de liquidez – quando se há mais dinheiro emprestado que a capacidade de resgate – e em agosto do mesmo ano foi criado o Banco Meridional do Brasil S/A que, através de decreto-lei federal, teve suas ações desapropriadas, passando o Grupo Brasilinvest a ser seu controlador.
O Banco Meridional do Brasil era uma sociedade de economia mista federal, de direito privado, com capital fechado, tendo a União como sua única acionista, resgatando as dívidas dos bancos com dinheiro público. Era um órgão vinculado ao Ministério da Fazenda.
Neste mesmo período, junto com a "quebra" do Sulbrasileiro, outros bancos também tiveram problemas de liquidez e sofreram intervenção, liquidação extrajudicial ou incorporação. Podemos dar como exemplos o Banco Auxiliar de São Paulo, Banco de Comércio e Indústria do Estado de São Paulo (Comind), Banco Habitasul S/A (que trabalhava como um fundo de investimentos sobre imóveis), Banco Maisonnave. Além de outros, como o Banco Nacional (absorvido pelo Unibanco) - marcado como patrocinador do piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna - e o Bamerindus (vendido ao HSBC).
Todos lembrarão do Banco do Estado de São Paulo (o Banespa), que foi "federalizado" na passagem do governo Fleury/Covas, em São Paulo, no início de 1995 com a instituição do RAET (Regime de Administração Especial Temporária). Em novembro de 2000, sob protestos do então governador Mário Covas, foi saneado com recursos do Tesouro Nacional para, em seguida, ser privatizado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. Os espanhois do Banco Santander venceram o leilão público pelo Banespa por 7 bilhões de dólares – valor um pouco menor que o lucro no Brasil deste banco transnacional em 2011, que ficou em torno de 7,75 bilhões de dólares.
Na ocasião, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) teria injetado significativo valor para que o Banco Santander conseguisse estabilizar o Banespa, que acabara de adquirir. Mas isso é o que contam por aí. A coisa fica relativamente feia quando surgem boatos nos quais a “quebra” do Banespa teria sido uma farsa, anunciada ruidosamente, forjada por Gustavo Loyola, Gustavo Franco – estes, ex-presidentes do Banco Central –, José Serra e aliados (com a conivência do governador tucano Mário Covas). O Banespa jamais quebrou, teria sido uma grande encenação para enganar a opinião pública e levá-la a apoiar a sua privatização.
Em 2010, tivemos o caso do Banco Panamericano, cujo foco era o financiamento ao varejo, financiamento de veículos, cartões de crédito, empréstimos pessoais e desconto de duplicatas. O banco do Grupo Silvio Santos passou por escândalos após descobrir que os seus resultados eram maquiados para enganar o seu controlador. Os seus balanços eram inflados por meio do registro de carteiras de créditos que haviam sido vendidas a outras instituições como parte de seu patrimônio, e quando já não conseguiram mais segurar a corda, viram-se obrigados a recorrer ao Fundo Garantidor de Crédito.
Em 2010, para resolver os problemas do banco, a estatal Caixa comprou 50% do Pan-Americano em pleno período eleitoral para resolver os problemas que sobraram. Em troca, ganharam a novela “Amor e Revolução”, uma telenovela que tratou de forma mais forte a repressão no período da ditadura militar. Silvio Santos ficou apenas com o SBT e a linha de cosméticos Jequiti, enquanto que a população “pagou” a conta novamente.
Recentemente, mais um banco veio tornar-se notícia, o Cruzeiro do Sul. Em junho deste ano, o Banco Central resolveu intervir, identificando o comprometimento da situação econômico-financeira do banco e "grave violação de normas" pela instituição.
Estes foram apenas alguns casos de grandes bancos brasileiros que quebraram ou que foram envolvidos em escândalos. Assim, podemos perceber que na grande maioria dos casos, aqui, nos Estados Unidos ou na Europa, é dinheiro público que acaba sendo injetado para salvar aqueles que são “grandes demais para quebrar”. É dinheiro do povo, é nosso dinheiro que está sendo colocado no jogo desde o início, que está indo para o caixa de bancos e que vai salvá-los se necessário.
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Os bancos brasileiros e o salvador de último instância - Instituto Humanitas Unisinos - IHU