14 Agosto 2012
Paolo Gabriele, o mordomo do papa, será processado por ter roubado cartas confidenciais em grande quantidade e por tê-las publicado. Mas da acusação do juiz de instrução também surge o nome de um cúmplice, até agora mantido em segredo, um leigo funcionário da Secretaria de Estado, especialista em informática. E o que é possível compreender com clareza, apesar da vontade da magistratura vaticana de circunscrever o episódio unicamente aos aspectos judiciários, é a sombra de um complô de mais pessoas, que, juntamente com Paolo Gabriele, manipulavam e trocavam documentos entre si.
A reportagem é de Marco Tosatti, publicada no sítio Vatican Insider, 13-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quem são essas pessoas? Infelizmente, a acusação, com o envio de Gabriele a julgamento, não dá nomes, mas apenas letras maiúsculas: X., W., Y., todas elas testemunhas ouvidas ao longo da investigação. Mas foram muitas as testemunhas ouvidas durante a investigação, e de nenhuma delas se soube as identidades.
Claudio Sciarpelletti, 48 anos, cidadão italiano, funcionário da Secretaria de Estado é a new entry da investigação. Na sua escrivaninha, foi encontrado um envelope endereçado a Paolo Gabriele, com o carimbo a seco da Secretaria de Estado – Escritório de Informações e Documentações, contendo documentos confidenciais. Escreveu Sciarpelletti: "Este envelope não me foi entregue por Paolo Gabriele, mas sim por W., para que eu o conservasse e o entregasse a Paolo Gabriele".
Aparentemente, Gabriele havia pedido a Sciarpelletti há algum tempo para se encontrar com W., "e, por meio dele, conhecer Y.", outro personagem desconhecido. Mas, evidentemente, sempre no âmbito da Secretaria de Estado e da Cúria.
Sciarpelletti, assim, havia entregue envelopes de W. a Gabriele, e vice-versa. E outro desconhecido, X., entregou a Sciarpelletti um envelope a ser entregue a Gabriele: "X. pensou em mim ao me confiar este envelope por causa das minhas visitas frequentes à Secretaria do Santo Padre. Ainda mais que, quando isso acontece, é justamente Paolo Gabriele quem me acompanha".
Sciarpelletti deverá responder por favorecimento. Mas parece ser evidente, mesmo a partir desses poucos elementos, que Paolo Gabriele não estava sozinho. E se a magistratura examinar os fatos judiciários, há questões de enorme relevância moral, das quais talvez alguém deveria se ocupar. Pensemos particularmente no diretor espiritual de Paolo Gabriele, que também é coberto por um simpático anonimato sob a letra "B.", que recebeu do mordomo "uma coletânea de documentos – importantes por dizerem respeito à Santa Sé". O sacerdote os destruiu, porque "eram fruto de uma atividade não legítima e desonesta, e eu temia que se pudesse fazer deles um uso igualmente ilegítimo e desonesto".
Paolo Gabriele, em uma reunião da Família Pontifícia, negou qualquer responsabilidade. "Por outro lado – declarou –, essa minha atitude de negação das responsabilidades também seguia as indicações do meu pai espiritual, que me dissera para esperar as circunstâncias e, salvo que fosse o Santo Padre que me pedisse isso pessoalmente, que eu não afirmasse essa minha responsabilidade".
Se é verdade, talvez alguém deveria se perguntar sobre a retidão desse guia espiritual.
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Vatileaks: o complô que (talvez) aconteceu - Instituto Humanitas Unisinos - IHU