02 Agosto 2012
Pode um computador ser fino demais? A Apple diz que não. Ambientalistas afirmam que sim. No novo notebook da empresa, a bateria foi colada ao aparelho, o que dificulta o conserto e a reciclagem.
Kyle Wiens trabalha na Califórnia desmontando computadores, smartphones e outros eletrônicos. Seus métodos para consertar computadores e outros aparelhos em casa são conhecidos mundo afora. Sempre que um produto novo e interessante chega ao mercado, ele o compra e a primeira coisa que faz é desmoná-lo para investigá-lo por dentro. Depois, apresenta os resultados em sua página na internet iFixit (em português, “eu conserto”).
A reportagem é de Greta Hamann, publicada pela Deutsche Welle e reproduzida por EcoDebate, 02-08-2012.
Recentemente, Wiens e sua equipe se debruçaram sobre o novo notebook da Apple, o MacBook Pro com display em retina de alta resolução. “Quando o abrimos, logo identificamos um problema: a Apple colou a bateria à caixa do aparelho, o que torna quase impossível separar a bateria do computador”, diz.
Caso a bateria seja danificada, somente a assistência técnica da Apple pode trocar as peças. Mas não é todo mundo que gosta de enviar computadores com seus dados pessoais para o conserto.
Difícil reciclagem
Além disso, materiais colados uns aos outros dificultam a reutilização dos componentes. A Apple é conhecida por isso entre as empresas de reciclagem, declarou à Deutsche Welle um empresário do ramo que prefere não ser identificado.
As peças costumam ser difíceis de se separar e, muitas vezes, precisam mesmo ser quebradas – o que demanda tempo e energia. Colar a bateria a outros materiais, o que ocorre em diversos produtos da Apple, também dificulta que o aparelho seja desmontado, considera o especialista.
A Apple classifica o MacBook Pro com display em retina como um dos melhores computadores que existem. Wiens acredita que ele seja, sem dúvida, um dos mais difíceis de se consertar. Cada vez mais mais fino, mais compacto e mais prejudicial ao meio ambiente. Pois um computador que não pode ser consertado é logo jogado no lixo e substituído por um novo, critica Wiens.
Selo ambiental
Logo após a chegada do último notebook ao mercado, a Apple anunciou que seus produtos não levariam mais o selo ambiental EPEAT, bastante comum nos Estados Unidos. A Apple não quis informar à DW o motivo da retirada. O selo indica, entre outras coisas, a facilidade de reciclagem de um produto.
Clientes de todo o mundo protestaram contra a abolição. A administração da cidade norte-americana de São Francisco anunciou que, sem o selo, não utilizaria mais produtos da Apple. Isso porque, na maioria das instituições públicas do país, uma determinada parcela dos aparelhos eletrônicos precisa atender a padrões ambientais.
Apple admite erro
A Apple logo percebeu que havia cometido um erro grave e desculpou-se em uma carta aberta. Ao mesmo tempo, ressaltou ser a mais avançada e mais ambientalmente correta empresa de eletrônicos.
Em muitos aspectos, a Apple é realmente avançada e foi diversas vezes pioneira em termos de sustentabilidade, afirma Christian Wölbert, especialista em tecnologia da informação (TI) da revista de informáica c’t. Entretanto, não se pode fazer um julgamento absoluto sobre a empresa.
“O tema TI verde é muito complexo. É difícil dizer de onde vêm os milhares de componentes e cada uma das matérias-primas de um notebook”, diz Wölbert. “Como não se sabe em que condições as matérias-primas são extraídas e os componentes produzidos, também não é possível provar se um fabricante é de fato ‘verde’.”
Tendência prejudicial ao ambiente
Por outro lado, é fácil avaliar se um produto pode ou não ser reciclado. Nesse ponto, a Apple tem deixado a desejar – o que Wiens considera uma tendência. “A Apple cola cada vez mais peças aos aparelhos. Isso não vale para todos os produtos, mas é a direção em que a empresa caminha”, aponta.
O iPad3, por exemplo, também tem seus componentes colados uns aos outros, e o novo smartphone da Apple tem parafusos especiais que só podem ser removidos com uma ferramenta especial.
É por isso que Wiens alerta os consumidores de que eles são os únicos que poderiam influenciar a Apple a mudar de atitude – com seu poder de decisão na hora da compra.
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Produtos da Apple são cada vez mais compactos e prejudiciais ao meio ambiente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU