20 Julho 2012
O presidente venezuelano e candidato à reeleição, Hugo Chávez, disse que estará presente no dia 31 de julho no Brasil, quando se formalizará a entrada do seu país como sócio pleno do Mercosul. Com as eleições no dia 7 de outubro, um Chávez com câncer precisa se mostrar totalmente ativo dentro das possibilidades de seu físico para deixar o menor espaço possível para o principal candidato opositor, Henrique Capriles.
A reportagem é de Martín Granovsky, publicada no jornal Página/12, 19-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Consultores informou a consultora Consultores Venezuelanos de Opinião Pública, 61,9% votarão em Chávez. A consultora Interlaces indicou no fim de junho que Chávez tinha 52% das intenções de voto, contra 31% de Capriles. Já a empresa Consultores 21 dá um empate técnico, com Chávez com 45,9%, e Capriles com 45,8%. É verdade que outra pesquisa dá 55,4% a Capriles e 44,96% a Chávez, mas se trata de perguntas formuladas aos clientes da empresa Choferes de Camionetas Negras, um ramo da empresa Táxis de Venezuela. Mas os resultados deveriam alegrar Chávez por seus 44,96%. O universo abrange a classe média alta, porque as caminhonetes pretas são as que transportam os passageiros pelo trajeto do aeroporto.
Naturalmente, as eleições de outubro não figuraram de modo explícito no anúncio de Chávez sobre a viagem ao Brasil. "É uma maravilha, uma benção a incorporação da Venezuela, e o Mercosul se abre ao Caribe. O bloco terá uma das maiores reservas de gás, petróleo e água de todo o continente. A integração e o fortalecimento do Mercosul que havia entrado em um processo de delibitamento perigoso é um ganho para todos".
Embora a Bolívia não seja membro pleno do Mercosul, a integração energética é uma das chaves da América do Sul. Nessa quarta-feira, o gás deu o tom à visita da presidente argentina a Cochabamba. "Vão a ser quase seis milhões de metros cúbicos a mais entre 2012 e 2013", lembrou o ministro do Planejamento argentino, Julio De Vido. "A Argentina vai ser cada vez mais demandante do gás boliviano, até chegar a esse volume de 27,7 milhões dos quais a presidente falou".
A incorporação da Venezuela como membro pleno foi acordada pelos governos da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai em 2006. Ela nunca se concretizou porque, das oito câmaras legislativas, uma, o Senado paraguaio, nunca votou pela ratificação, em um virtual bloqueio à entrada da Venezuela. Em sua última cúpula em Mendoza, no dia 29 de junho, os presidentes Cristina Fernández de Kirchner, Dilma Rousseff e Pepe Mujica concordaram com a suspensão do Paraguai das reuniões de alto nível em punição pela destituição do presidente Fernando Lugo. Também concordaram que a Venezuela se integraria plenamente. A letra jurídica mais precisa do acordo ainda está sob negociação entre as três chancelarias.
Dos três países em pleno uso dos seus direitos, o caso da Venezuela fez mais barulho no Uruguai. Danilo Astori, vice-presidente de Mujica e ex-ministro da Economia de Tabaré Vázquez, o presidente da Frente Ampla do período 2005-2010, escreveu uma coluna no portal Uypress. Ele opinou que "o maior e mais grave retrocesso que sofreu o Mercosul em toda a sua complexa história é que agora a única institucionalidade válida não é a dos tratados, não é a dos mecanismos que protegem a todos nós, e exigem longas e trabalhosas negociações", mas sim que "agora dependemos das decisões dos presidentes dos países". Ao replicar o argumento da ferida grave, Mujica disse que "não é nada letal". E acrescentou: "Letal é como estávamos antes. Há 20 anos que dizemos que o Mercosul não anda e, se não anda, é preciso mudá-lo. Queremos um Mercosul para seguir criticando-o? Não".
De todas as formas, a discussão central do Uruguai nestes dias não é a Venezuela, mas sim a Pluna. Mujica decidiu fechar a companhia pela catástrofe orçamentária. Astori reconheceu em carta pública que se equivocou, como ministro de Tabaré, quando, ao salvar a Pluna depois de uma "desastrosa gestão da Varig", permitiu a associação do Estado com o Leadgate, um fundo presidido pelo financista argentino Matías Campiani argentinos.
Em uma carta aberta, Astori aproveitou o momento para mostrar a homogeneidade da Frente Ampla contra a oposição branca e colorada. "Aos meus companheiros, liderados pelo presidente Mujica e pelos ministros Pintura e Lorenzo, quero dizer que me orgulha compartilhar com eles a tarefa de governar e de fazer política", escreveu. Enrique Pintado é ministro dos Transportes e Obras Públicas. Fernando Lorenzo é o ministro da Economia.
Com o barulho no Uruguai aquietado por ruídos maiores, o processo de entrada da Venezuela conta com um marco fluido. O ex-vice-chanceler de Lula e ex-diretor do Mercosul, Samuel Pinheiro Guimarães, escreveu no portal Carta Maior que "o ingresso da Venezuela no Mercosul teria quatro consequências: dificultar a 'remoção' do Presidente Chávez através de um golpe de Estado; impedir a eventual reincorporação da Venezuela e de seu enorme potencial econômico e energético à economia americana; fortalecer o Mercosul e torná-lo ainda mais atraente à adesão dos demais países da América do Sul; dificultar o projeto americano permanente de criação de uma área de livre comércio na América Latina, agora pela eventual 'fusão' dos acordos bilaterais de comércio, de que o acordo da Aliança do Pacifico é um exemplo". Essa aliança une o México, Colômbia, Peru (foi assinado por Alan Garcia antes da posse de Ollanta Humala) e Chile. Os quatro países têm acordos de livre comércio com os Estados Unidos.
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Venezuela no Mercosul. Com toda a energia na América do Sul - Instituto Humanitas Unisinos - IHU