11 Julho 2012
Apesar da forte oposição do lobby judeu, o Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra aprovou, ontem, moção que apóia o trabalho do Programa Ecumênico de Acompanhamento na Palestina e Israel (PEAPI). A moção exorta os fiéis anglicanos a participarem como voluntários no programa e pede às congregações que recorram à experiência dos participantes quando regrassarem ao país.
A reportagem é de Manuel Quintero e publicada pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 10-07-2012.
A moção, proposta pelo Dr. John Dinnen, da diocese de Herefor, recebeu o apoio de organismos como Judeus pela Justiça para os Palestinos, Vozes Judias Independentes e o Comitê Israelense contra a Demolição de Casas.
Ainda que a moção solicitava o apoio para agências de ajuda que trabalham com palestinos, os israelenses e os palestinos em todas as organizações que trabalham pela justiça e a paz na área (mencionando particularmente o chamado Círculo de Pais - Fórum da Família) e aquelas organizações que trabalham para garantir a presença permanente de palestinos cristãos na Terra Santa, a campanha do lobby judeu dirigiu-se especificamente contra o PEAPI.
“A Junta, naturalmente, elogia àqueles que querem proteger os direitos dos palestinos que vivem na Faixa Ocidental. Como resultado disso, apoiamos qualquer organização que alente à reconciliação, mas nos parece que PEAPI não promove isso”, declarou Vivian Wineman, presidenta da Junta Britânica de Deputados de Judeus.
O grande rabino das Congregações Hebréias Unidas da Mancomunidade, Jonathan Sacks, sustentou que a Igreja da Inglaterra corria o risco de prejudicar “as relações inter-religiosas" ao apoiar a moção.
Durante o debate da tarde da segunda-feira, todos os oradores respaldaram a moção e elogiaram o trabalho do PEAPI. A moção recebeu 201 votos a favor e 54 contrários.
O PEAPI é apoiado pela maioria das outras denominações cristãs mais importantes no Reino Unido, entre elas a Igreja Episcopal Escocesa, a Igreja da Escócia, a Igreja Reformada Unida, os metodistas, os quackers e os batistas.
O Programa Ecumênico de Acompanhamento na Palestina e Israel começou em 2002, em resposta a uma solicitação das igrejas de Jerusalém. Sua missão é acompanhar os palestinos e israelenses em suas ações não violentas e realizar esforços de promoção e defesa dos direitos humanos que contribuam para o término da ocupação, o obstáculo mais sério para atingir uma solução justa ao conflito palestino-israelense.
O PEAPI considera que a ocupação é prejudicial não só para os palestinos, senão também para os israelenses, e reconhece a humanidade de todos os envolvidos no conflito, sejam vítimas ou causadoras de violência e abusos dos direitos humanos. Ao mesmo tempo o PEAPI solidariza-se com pessoas de ambos lados que tentam pôr fim à ocupação e atingir uma paz justa de maneira não violenta.
A partir de 2010, um número crescente de voluntários latino-americanos incorporou-se ao programa. Ao todo, 18 acompanhantes ecumênicos da Argentina, Brasil, Colômbia, Equador e Uruguai serviram durante três meses na Palestina e em Israel, e outros oito preparam-se para se incorporarem aos grupos que para lá se dirigirão na segunda metade de 2012.
“Afirmo que o PEAPI é o melhor e mais útil dos programa de paz entre os que conheci e os quais tive contatos na Palestina e em Israel. Desde sua visão imparcial do conflito até a sua dimensão programática, tudo esteve bem preparado e em ordem para nosso melhor resultado”— disse Eduardo Minossi, acompanhante ecumênico da Igreja Evangélica de Confissão Luterana de Brasil. Minnossi serviu entre setembro e dezembro de 2011 na comunidade palestina de Yanoun.
“Viver três meses numa cultura completamente diferente, com valores, tradições, costumes diferentes me fez perguntar como é o encontro com o outro, como é o acercar-se e conhecer a vida dessas pessoas. Ter presente que todos somos sujeitos criados por Deus ajudou a colocar-me de igual a igual e a despojar-me de meus preconceitos", relatou.
Escutar o outro, tratar de entender sua cultura, suas experiências, seus valores, suas expectativas, torna-se mais valioso quando se reconhece Deus no outro, disse Nariana Maldonado, acompanhante ecumênica argentina da igreja dos Irmãos Livres, de Rosário, que serviu na comunidade de Jayyous.
"Nesses três meses aprendi muito de política, de história, de direito internacional, de teologia. Mas o que mais guardo em minha mente e em meu coração é a esperança, o amor, a alegria e a fé com que vivem palestinos e palestinas, nunca se rendendo e sempre resistindo", afirmou.
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Igreja da Inglaterra adere ao programa de acompanhamento no Oriente Médio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU