Por: Cesar Sanson | 06 Julho 2012
Carta cobra ações da Norte Energia para indígenas afetados por usina. Desde 21 de junho, 350 manifestantes ocupam sítio Pimental, no Pará.
A reportagem é de Eduardo Carvalho e publicado pelo sítio Globo Natureza, 05-07-2012.
Imagem de 26 de junho mostra lideranças indígenas que ocupam a ensecadeira construída no sítio Pimental, um dos canteiros de obra da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. (Foto: Divulgação/xingubacajairiri.blogspot.com.br)
Lideranças indígenas que ocupam desde o último dia 21 de junho o sítio Pimental da usina hidrelétrica de Belo Monte, em construção no Rio Xingu, no Pará, afirmaram nesta quinta-feira (5) que não sairão do local até que a Norte Energia, responsável pela obra, cumpra as condicionantes ambientais impostas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama).
Cerca de 350 representantes de nove etnias, que moram em 21 aldeias, ocupam uma ensecadeira, espécie de barragem de terra, construída no sítio Pimental – um dos principais da obra bilionária do governo federal. O local fica 50 km distante da sede da obra em Altamira. O G1 procurou a Norte Energia e aguarda posicionamento da empresa.
Os manifestantes confiscaram chaves de tratores, carros e equipamentos de rádio. Eles querem a paralisação da obra de construção da hidrelétrica por considerar que a construção da usina prejudica o curso Rio Xingu.
Em entrevista concedida em São Paulo, Sandro Bebere Kayapó, o Mukuka, da etnia Kayapó Xikrin que vive na Terra Indígena (TI) Trincheira Bacajá, apresentou carta aberta que cobra ações da Norte Energia para implementar planos de proteção ao Rio Bacajá, afluente do Xingu, liberação do acesso de agentes da Fundação Nacional do Índio (Funai) à aldeia, além de reivindicações de cunho social.
De acordo com Mukuka, o Rio Bacajá, um igarapé utilizado para pesca, corre o risco de secar com o funcionamento pleno de Belo Monte. “Os velhos [índios antigos da aldeia] temem que a obra seque o rio. Nós sabemos viver dele e também o dia a dia do rio”, explica.
Reivindicações
Os indígenas pedem que a Norte Energia permita o acesso de agentes da Funai à aldeia atravessando o sítio Pimental. Segundo Mukuka, os servidores federais são impedidos pela empresa de passar por dentro do canteiro de obras e, por isso, precisam ir de barco pelo rio até a TI.
A carta aponta ainda quatro condicionantes que deveriam ser cumpridas até junho de 2011 – duas delas refere-se sobre a criação de dois comitês indígenas, um para monitorar a vazão do rio e outro para cobrar as compensações pela obra.
O manifesto pede também a capacitação de moradores locais como agentes de saúde e professores nas escolas, proteção territorial das áreas onde vivem, além de um hospital para índios em Altamira.
Belo Monte
A hidrelétrica ocupará parte da área de cinco municípios: Altamira, Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu. Altamira é a mais desenvolvida dessas cidades e tem a maior população, quase 100 mil habitantes, segundo o IBGE. Os demais municípios têm entre 10 mil e 20 mil habitantes.
Belo Monte custará pelo menos R$ 25 bilhões, segundo a Norte Energia. Há estimativas de que o custo chegue a R$ 30 bilhões. Trata-se de uma das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma das principais bandeiras do governo federal.
Apesar de ter capacidade para gerar 11.200 MW de energia, Belo Monte não deve operar com essa potência. Segundo o governo, a potência máxima só pode ser obtida em tempo de cheia. Na seca, a geração pode ficar abaixo de 1.000 MW. A energia média assegurada é de 4.500 MW.
Para críticos da obra, o custo-benefício não compensa. O governo contesta diz que a geração menor evita um alagamento maior e que a energia é fundamental para o país.