A semântica do Mistério da Igreja e a perspectiva inter-religiosa em Peter C. Phan

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09 Junho 2012

Peter C. PhanA perspectiva inter-religiosa é uma das interfaces que será debatida durante o XIII Simpósio Internacional IHU. Igreja, cultura e sociedade: a semântica do Mistério da Igreja no contexto das novas gramáticas da civilização tecnocientífica. Para essa discussão foi convidado o professor e teólogo vietnamita radicado nos Estados Unidos Peter C. Phan, que também é padre ligado à diocese de Dallas, Texas.

Phan possui três doutorados acadêmicos: doutor em Sagrada Teologia pela Universidade Salesiana de Roma; doutor em Filosofia e em Teologia Pastoral pela Universidade de Londres. Também foi agraciado com o honorário de doutor em Teologia pela Chicago Theological Union. Ele iniciou sua carreira de professor de filosofia e teologia no Colégio Dom Bosco de Hong Kong e posteriormente lecionou na Universidade de Dallas, na Universidade Católica da América de Washington, DC. Atualmente, Phan ocupa a cátedra Ignacio Ellacuría de Pensamento Social Católico na Georgetown University, em Washington. Ele também tem atuado como professor no Instituto Pastoral da Ásia Oriental, em Manila, e na Liverpool Hope University, na Inglaterra.

Destaca-se a contribuição de Phan com a Federação das Conferências Episcopais asiáticas, particularmente na reflexão sobre o papel das religiões não cristãs no plano salvífico de Deus. Ele possui uma vasta gama de publicações que abrangem diversas áreas da teologia. Em 2010, recebeu o prêmio John Murray Courtney concedido pela Sociedade Teológica Católica da América.

Como narrar a fé em Jesus a partir dos não cristãos? Com efeito, essa é uma das principais questões implicadas no pensamento de Phan. Para o teólogo, conhecer Jesus a partir dos não cristãos é uma proposta e um desafio teológico. Ser religioso é ser inter-religioso. Em outras palavras, ser cristão no mundo de hoje significa viver, trabalhar, teologizar e partilhar experiências espirituais também com os não cristãos.

Phan defende que o pluralismo religioso não é um elemento negativo na história da salvação. A diversidade deve ser percebida como uma expressão querida por Deus. “O pluralismo religioso, do ponto de vista teológico, trata da questão da diversidade religiosa. A questão é: o fato de haver muitas religiões diferentes na história é simplesmente um acidente ou fruto de erros humanos, ou pode ser considerado como algo querido por Deus, como parte da providência divina?”

Desse modo, continua Phan, a própria compreensão cristológica deve ser repensada. Ou seja, se o “pluralismo religioso pode ser visto como algo querido por Deus e, consequentemente, não abolido por Ele, então a afirmação cristã de Jesus como o único e universal salvador necessita ser reexaminada e reinterpretada. O fato de os cristãos crerem em Jesus como o Salvador exclui esse papel para outras religiões, para os fundadores de outros sistemas religiiosos? Jesus inclui de algum modo e se ‘associa’ a outras figuras religiosas em seu trabalho de salvação?”

Phan conduz sua reflexão teológica numa direção que é preciso repensar a própria autocompreensão da Igreja e sua presença e atuação no mundo de hoje. Para ele, diante da realidade contemporânea de pluralismo religioso, não basta que se pratique o diálogo inter-religioso em um nível teológico. Também é preciso que se seja religioso inter-religiosamente. Tal atitude, diz o teólogo, significa ter uma “identidade religiosa hifenizada. Uma pessoa se torna cristã sem deixar de ser muçulmana, budista, judia e assim por diante. Houve pessoas, num passado recente, que tentaram sinceramente ser, ao mesmo tempo, cristãs e hinduístas, cristãs e budistas, e cristãs e muçulmanas. Há os cristãos que leem as escrituras sagradas de outras religiões e adotam novas práticas e orações sem reduzir seu compromisso cristão. Será que isso se tornará mais comum?”, indaga Phan.

Pensando não só o atual momento, mas também o futuro da Igreja, Phan entende que o pluralismo religioso é uma questão incontornável. Em suas palavras, “talvez seja a questão mais desafiadora para o cristianismo. Nós devemos promover uma atmosfera intelectual e religiosa, na qual esta questão possa ser abertamente discutida e estudada, melhor do que em um ambiente repressivo, de medo e condenação”.

A nota é de Luís Carlos Dalla Rosa.