21 Mai 2012
A operadora de celulares britânica Vodafone passou a enviar todos os dias para Londres o volume de dinheiro arrecadado na Grécia. Os euros são quase imediatamente transferidos para dólares ou libras. A iniciativa é um reflexo de uma nova realidade: nem a Grécia nem o euro inspiram confiança e, de multinacionais a governos, muitos já antecipam o que seria um "terremoto na economia mundial" diante da eventual saída da Grécia da zona do euro.
A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 20-05-2012.
Seu impacto será uma revisão da posição da Europa no cenário internacional, de seu modelo de integração e do próprio euro como moeda de referência. Para muitos no próprio bloco, o momento não é mais nem sequer o de salvar a Grécia, mas evitar uma contaminação, que derrubaria economias bem maiores, como Espanha e Itália.
O momento crítico será a nova eleição na Grécia em 17 de junho, a segunda em dois meses. Pesquisas de opinião apontam para uma vitória de partidos que são contrários às exigências estabelecidas pela Europa para resgatar a Grécia. Mas, sem esse dinheiro, Atenas não sobreviveria dentro da zona do euro.
O Estado ouviu analistas, representantes de governos, bancos e acadêmicos. Todos, de forma unânime, têm a mesma opinião: uma saída da Grécia terá um impacto global pelo menos equivalente à quebra do banco americano Lehman Brothers, em 2008, e o euro, ainda que sobreviva, não será o mesmo.
Por essa razão, a reunião de cúpula do G-8 neste fim de semana nos Estados Unidos teve em sua agenda um ponto crítico: como isolar a Europa e impedir que uma eventual saída da Grécia não jogue a economia mundial de volta em uma profunda recessão, como a de 2009.
Saída
Os EUA já deixaram claro aos europeus que precisam dar uma solução rápida para a nova crise, sob o risco de desfazer todo o trabalho de recuperação da economia mundial e abrir uma nova recessão que poderia ter uma repercussão anda mais nefasta que a de 2009.
No FMI e no Banco Mundial, economistas já começam a refazer as contas em relação ao crescimento no ano, já prevendo que o contágio da Grécia mine qualquer esperança de expansão do PIB. Um terço do bloco europeu já está em recessão e apenas a Alemanha ainda escapa.
Diplomatas em Bruxelas consultados pela reportagem são céticos em relação à capacidade dos líderes mundiais de criar um muro de proteção. A Organização Mundial do Comércio (OMC) já disse que economias emergentes sofrerão, já que a Europa é ainda a maior importadora mundial. Fundos de pensão que têm recursos em euros perderão, assim como os bancos.
Para a UE, o momento é de definição de seu futuro: se a Grécia abandonar a zona do euro, a moeda única passará por seu pior momento e todas as regras do bloco terão de ser reavaliadas. Se o bloco sobreviver com a Grécia, terá de tomar medidas inéditas de integração e de revisão das soberanias nacionais.
Para analistas e políticos, chegou o momento de os líderes europeus abandonarem a controvérsia entre crescimento e austeridade e entender que o que está em jogo é muito mais crítico: a sobrevivência da zona do euro.
No gabinete de José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia, negociadores reconhecem que insistir na austeridade foi um "tiro no pé". "A ideia era criar uma economia sustentável. Mas na realidade criou uma sociedade insustentável e derrubou governos. A partir de agora, ficar disputando se Hayek ou Keynes tinham razão não vai salvar a Grécia", disse Barroso.
Estratégia de saída já tem nome: 'Grexit'
Enquanto governos não escondem que estão perdidos, a preparação para a saída da Grécia do euro já começou e a estratégia ganhou até mesmo um nome: "Grexit", um jogo de palavras com os termos "Greece" (Grécia, em inglês) e "Exit" (saída).
Um levantamento mostrou que metade das empresas com negócios na Grécia já começou a se preparar para esse momento, com a maioria criando reservas de dinheiro e muitas já abandonando o euro. Mas, para a Icaew, associação de contadores da City de Londres, esse movimento pode ser muito tardio. O foco deve ser agora evitar novas perdas em outros países.
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Nem a Grécia nem o euro inspiram confiança - Instituto Humanitas Unisinos - IHU