19 Mai 2012
Um panelaço executado por uma multidão antecedeu a última assembleia do primeiro aniversário do 15-M, o movimento dos "Indignados", e outro semelhante marcou seu fim e o início de uma marcha em que mais de mil pessoas abandonaram a Porta do Sol pela rua de Alcalá até a Bolsa, vigiada por cerca de 20 furgões policiais.Porque a saúde não é uma empresa. Porque há pessoas sem casas e casas sem pessoas. Porque a demissão será procedente e seus direitos improcedentes. Muitos cidadãos podem estar de acordo com essas afirmações dos cartazes do 15-M pendurados na Porta do Sol. Na assembleia final escutaram-se propostas muito concretas, que desmentem os que chamam os indignados de voláteis, mas esse mesmo fortalecimento provocou uma menor conexão com o público em geral.
A reportagem é de Marta Fernández Maeso, publicada no El País e reproduzida pelo Portal Uol, 17-05-2012.
O movimento reafirmou no 12M15M seu caráter pacífico, combinado com certa resistência à autoridade. Agora pretende continuar com suas ações para construir um modelo político, econômico e social alternativo, com ações já em andamento como as de Stop Despejos ou o Escritório Precário e outros novos, como a campanha Desmontando Mentiras.
Estas são algumas leituras de quatro dias de indignação:
- Mais concretos, menos inclusivos. Uma assembleia pública na rua em que qualquer pessoa pode tomar a palavra. É a alma do 15-M, seu símbolo de identidade, um ponto de partida diferente para construir um modelo de convivência idem. E uma de suas principais dificuldades. Foi seu primeiro foco de críticas: "Passam horas falando, mas não chegam a nenhuma conclusão". "Vamos devagar porque vamos longe", respondem os indignados, conscientes das dificuldades de seu método de trabalho.
O primeiro aniversário revitalizou a convocação pública das assembleias de Madri, que vêm se realizando o ano todo, ao concentrá-las durante vários dias no centro. A participação nas mesmas foi mais modesta que um ano atrás, e nelas se percebe o protagonismo dos que têm certa tarimba no movimento. Todos insistem em seu caráter público e continuamente animam à participação de "quanto mais gente, melhor". Mas o compromisso é complicado e o trabalho contínuo, indispensável para definir atuações concretas e as pôr em prática, o que afasta muitos cidadãos que no ano passado se animavam a tomar a palavra.
Dezenas de milhares de pessoas participaram da manifestação de sábado (30 mil, segundo o Ministério do Interior), e as assembleias nunca perderam seu caráter aberto, porém as necessidades de organização do movimento, de certo compromisso para desenvolver um trabalho contínuo, o afastam da sociedade em geral. Uma pesquisa do Centro de Pesquisas Sociológicas confirma essa perda de apoio, porque embora a maioria dos pesquisados demonstre simpatia (51%) pelo movimento, o faz em menor medida que no ano passado (71%).
- Iniciativas já em curso. Com o exemplo da paralisação de despejos, outro dos signos de identidade do 15-M em colaboração com a Plataforma de Afetados pela Hipoteca, os indignados pretendem continuar ativando iniciativas voltadas para pôr em prática as bases do movimento e, em última instância, modificar o sistema capitalista. Na assembleia de encerramento do 12M15M foram escutados os resumos do trabalho das assembleias temáticas que durante estes dias se realizaram nas praças do centro de Madri.
Várias comissões já implementaram a campanha Desmontando Mentiras, com a qual pretendem combater o "pensamento único" imposto pelos poderes políticos, econômicos e midiáticos. Elas são de caráter econômico ("baratear a demissão gera emprego", "a reforma financeira vai resolver os problemas do setor", "o sistema elétrico privatizado funciona melhor que o público"), político ("a soberania reside no povo", "a justiça é igual para todos") ou social ("não há dinheiro para a educação pública", "a saúde privada é mais barata"). "A ideia é que vão se unindo as diferentes áreas de trabalho e reunamos nossos argumentos contra o que devemos crer", indica uma porta-voz do 15-M.
Na área da habitação, além de reforçar a campanha contra os despejos, nestes dias foi proposto, por exemplo, criar cooperativas de dívida para aproveitar os descontos dos bancos sobre certos créditos com o fim de desfazer-se dos mesmos. Também querem criar um parque autoadministrado de moradias, começando por um censo de apartamentos vazios cuja propriedade seja investigada e, depois de estudar o caso, liberados para colocá-los "à disposição do povo".
Esses atos são acompanhados de uma série de reivindicações, como a regularização da cessão em pagamento, a criação de um parque público de aluguel ou a descriminalização da ocupação de espaços abandonados. Em economia também se definiu uma série de propostas, como a anulação da reforma trabalhista, a redistribuição da riqueza com limites de salários máximos e mínimos ou a auditoria cidadã. Esta comissão prevê uma série de mobilizações que começam nesta sexta-feira com uma concentração diante da sede da Comissão Europeia em Madri, paralelamente a uma ação de protesto no Banco Central Europeu em Frankfurt.
Houve espaço para temas muito diferentes, do movimento Palestina Toma a Rua à comissão de feminismo, saúde ou meio ambiente. Um dos grupos que causou maior simpatia foi o dos idosos, também conhecidos como "yayoflautas", que estão recolhendo assinaturas para apresentar uma iniciativa legislativa popular contra o congelamento das aposentadorias.
- Pacíficos mas desobedientes. "Somos pacíficos, segundo a delegada do governo, e mesmo assim temos um saldo de 30 detidos", lamentou o representante da comissão jurídica, sem conhecer o balanço da última noite. Esse grupo assessorou os participantes nas atividades. Apesar de no domingo a polícia ter impedido a realização de assembleias, apelando à restrição do direito de reunião em via pública a 20 pessoas se o fato não tiver sido informado, os maiores problemas foram registrados à noite. A Delegação autorizou concentrações no Sol, a partir da solicitação de um particular, até as 22h nos quatro dias. Os indignados sempre desafiaram o toque de recolher, e a polícia esperou até altas horas da madrugada, quando restava pouca gente, para desalojar.
Os indignados insistiram em seu caráter pacífico, e o grito de "estas são nossas armas", com as mãos para cima, foi escutado de forma reiterada. Queixam-se da violência policial e de maus-tratos nas delegacias. A delegada do governo, Cristina Cifuentes, fez um "balanço muito positivo" da atuação dos agentes que vigiaram a área.
O 15-M combina sua rejeição à violência com a incitação à desobediência civil. É por isso que se rebelaram contra o horário limitado de sua concentração e criticam o fato de ser desalojados e detidos por levar o debate ao espaço público. Essa posição pode se estender a outros âmbitos, como a objeção fiscal ou a insubmissão dos funcionários da saúde contra o "decretaço", às quais convocaram ontem.
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"Indignados" ganham força nas propostas, mas perdem conexão com o público - Instituto Humanitas Unisinos - IHU