Por: Cesar Sanson | 04 Mai 2012
Suzana Lisboa, da Comissão de Familiares, Mortos e Desaparecidos, defende que ele seja convocado a falar na Comissão da Verdade.
A ativista Suzana Lisboa, integrante da Comissão dos Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, afirmou ao iG, 03-05-2012, que as revelações do ex-delegado da Polícia Civil do Espirito Santo Cláudio Guerra são “muito impactantes” e que “seria uma grande vitória” ele ser ouvido pela Comissão da Verdade do governo federal, ainda em formação.
As afirmações de Guerra estão em depoimento para o livro Memórias de uma guerra suja, dos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros.
“Sobrevivi para ouvir gente como Guerra”, disse Suzana, que participou por dez anos da Comissao de Mortos e Desaparecidos Políticos e a deixou em 2005, acusando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de esvaziar o grupo e não cumprir a promessa de abrir os arquivos do período da ditadura militar. O marido de Suzana, Luiz Eurico Tejera Lisboa, foi morto sob tortura em 1972 e enterrado como indigente. Seus restos mortais foram os primeiros de vítimas da ditadura a serem localizados e identificados, em 1979, no cemitério de Perus, em São Paulo.
Suzana reconhece que as afirmações do ex-policial precisam ser verificadas para checar sua veracidade, mas afirma que gostaria que Guerra a recebesse para conversar sobre casos específicos de mortos e desaparecidos.“Se ele quiser me receber, gostaria muito de encontrá-lo”, disse.
Cláudio Guerra afirmou ter participado ainda de reunião que decidiu a morte do delegado Sérgio Paranhos Fleury, de São Paulo, do atentado do Riocentro, em 1981, e ter sido designado para matar o jornalista Alexandre Baumgartem, em 82, e Leonel Brizola (governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul).
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Suzana contou que, ao ver as matérias do iG, passou uma série de “torpedos” para amigos e conhecidos, a fim de encontrar e encomendar um exemplar do livro. Suzana admitiu que, em todos os anos de militância nessa área, nunca ouviu falar em Guerra. “Eu nunca ouvi falar nele, mas nós podemos dizer que nunca ouvimos falar nele, esses coronéis (Ustra e Juarez) não podem”, disse.
Ela ressaltou que as pessoas que vêm a público falar sobre os crimes do período correm riscos.
“O Brasil está tão atrasado, e a impunidade é tão corriqueira que é preciso se proteger. Se essas pessoas estivessem presas, mais gente falaria. O espectro dessas pessoas ronda todos. Ora, se foram capazes de cometer tantas atrocidades, poderiam fazer novamente. Lembro de, em viagens ao Araguaia, pessoas me dizerem : ‘Eu falaria, mas o Curió (Sebastião Rodrigues de Moura, o então “major Curió”, um dos principais comandantes de campo do Exército na Guerrilha do Araguaia, em 1974) está vivo ainda. Só falo depois que ele estiver morto ou preso’”, disse.
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“Sobrevivi para ouvir gente como Guerra”, diz mulher de morto na ditadura - Instituto Humanitas Unisinos - IHU