17 Abril 2012
O ministro do Planejamento da Argentina, Julio de Vido, vem ao Brasil na sexta-feira para insistir na expansão dos investimentos da Petrobras no país. Homem-forte do kirchnerismo na área de infraestrutura, De Vido tem reunião prevista com o ministro brasileiro de Minas e Energia, Edison Lobão, e com a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster.
A reportagem é de Daniel Rittner e Cláudia Schüffner e publicada pelo jornal Valor, 17-04-2012.
Fontes do governo brasileiro disseram ao Valor que a orientação à estatal é clara: ajudar no que for possível, aumentando os investimentos em exploração e em produção, mas sem fazer nada "em detrimento da rentabilidade de suas operações". Em outras palavras, a ordem é não ceder a nenhum tipo de chantagem contra a empresa no país vizinho. A expectativa em Brasília é que o ministro argentino esclareça como a Casa Rosada exercerá controle sobre indústria de petróleo local a partir de agora.
Com um plano bilionário para colocar de pé as metas de produção no pré-sal, a estatal brasileira não deve aumentar significativamente seus investimentos na Argentina. E pode enfrentar um recrudescimento do controle de preços de combustíveis naquele país, que vai piorar a já prejudicada margem da distribuição.
A avaliação de uma outra fonte familiarizada com o assunto é que, depois da reestatização da YPF, o governo passe a controlar diretamente os preços dos combustíveis. "Estamos preocupados. Esse é um grande fator de risco. A tendência agora é a YPF baixar preços, e o governo forçar os outros a vender combustíveis com preço dentro de uma faixa, o que afetará mais ainda a economicidade dos projetos".
Em janeiro a empresa brasileira foi acusada, junto com Esso, Shell e YPF de abuso de posição dominante no mercado de combustíveis. No mês passado, a Petrobras teve uma concessão cassada.
O ministro De Vido tem uma relação amistosa com o primeiro escalão do governo brasileiro. No início deste mês, telefonou para Lobão para dizer que a retomada da concessão da área de Veta Escondida - operada pela Petrobras - foi uma atitude isolada da Província de Neuquén, sem anuência do governo federal. Na Argentina, as concessões petrolíferas são dadas pelas províncias.
Em março, quando esteve em Buenos Aires para reunião com De Vido, Lobão foi levado à Casa Rosada para uma conversa fora da agenda com a presidente Cristina Kirchner. Ela lhe pediu maior presença da Petrobras na Argentina. O ministro respondeu que o aumento da participação da estatal brasileira poderia ocorrer, por exemplo, na exploração de gás não convencional (de xisto) ou na ampliação da rede de postos de gasolina.
Dados recentes demonstram, no entanto, um encolhimento dos negócios da Petrobras no país. Segundo a consultoria IES, a fatia da empresa nas vendas de combustíveis diminuiu quase 30% no ano passado, devido à transferência de praticamente metade de seus postos para a Oil M&S. O empresário kirchnerista Cristóbal López, dono da Oil M&S, pagou US$ 110 milhões por 360 postos da Petrobras e pela refinaria de San Lorenzo. Com isso, a fatia da estatal brasileira caiu para 8,1% no mercado de gasolina e para 7,3% no de diesel.
Durante a sua visita oficial ao Brasil, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, comentou rapidamente a reestatização da YPF, após seguidas perguntas dos jornalistas. Questionada sobre Argentina e Chevron, ela se limitou a falar do Brasil e da companhia americana. Quando os repórteres insistiram, Hillary fez um comentário crítico, mas sem citar a Argentina diretamente. "Não sei de detalhes, mas acho que ter competição, mercado aberto, para petróleo e qualquer commodity, é preferível. Os países devem justificar e conviver com as decisões que fazem. Eu, pessoalmente, acho que o modelo de abertura e competição total, com acesso a mercados é o melhor". Já o governo brasileiro evitou comentar o tema.
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Após embate com Repsol, governo argentino deve pressionar a Petrobras - Instituto Humanitas Unisinos - IHU