30 Março 2012
"Hoje foi atingida a Igreja greco-ortodoxa, perto da nossa comunidade. Na semana passada, uma bomba caiu ao lado da nossa casa, enquanto ontem um grande explosivo atingiu um centro nosso, derrubando um muro". São desse teor os relatos que chegam à revista Popoli da pequena comunidade dos jesuítas de Homs, a terceira maior cidade da Síria, atualmente alvo dos bombardeios mais pesados das forças governamentais contra os grupos rebeldes que querem a queda do regime de Bashar al-Assad. Desde o início da ofensiva do exército, no dia 3 de fevereiro, os mortos são centenas, e, apesar das promessas de um cessar-fogo, os combates não se detêm.
A reportagem é de Francesco Pistocchini, publicada no sítio da revista Popoli, dos jesuítas italianos, 29-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A comunidade dos jesuítas vive no bairro de Bustan al-Diwan, uma área de maioria cristã, onde os bombardeios se interromperam apenas no dia 27 de marco, durante a visita à cidade de Bashar al-Assad. Junto com os jesuítas, encontram-se cerca de 40 refugiados, membros de famílias cristãs e muçulmanas que perderam suas casas.
"Estão assustados e permanecem dentro de casa, enquanto nós tentamos sair, principalmente para procurar alimentos, mas é muito arriscado", conta um dos padres que decidiu não abandonar a cidade e que pede para não ser nomeado. "Muitos já se foram embora, e as estradas ao nosso redor estão cada vez mais desertas".
Grupos do Exército Livre da Síria (os rebeldes principalmente sunitas) se deslocaram dos bairros onde começou a revolta, ocupando casas em outras áreas, abandonadas pelas muitas pessoas que fogem nos vilarejos. Por isso, nos últimos dez dias, intensificaram-se os bombardeios na área de maioria cristã onde vivem os jesuítas.
Não é verdade, como se noticiou nos últimos dias por uma fonte ortodoxa e por algumas agências de notícias que depois tiveram que se retificar, que existem grupos de extremistas islâmicos que obrigam os cristãos a fugir pela força. Quem consegue ir embora o faz para se salvar dos bombardeios ou porque perdeu tudo.
"Todos sofrem com esses bombardeios", observam os jesuítas. "Não seria correto falar apenas da situação em que os cristãos se encontram". Por isso, as ajudas de emergência disponíveis também são distribuídas entre sunitas e alauítas, decisão que levantou algumas críticas em outras comunidades cristãs, mas que é coerente com o trabalho desenvolvido durante anos pelos jesuítas nessa cidade, aberto aos cidadãos de todas as filiações religiosas. Na atual situação de violência, a sua presença visa a amortecer as tensões interconfessionais. Não por acaso, nessa quarta-feira, um imã de uma mesquita próxima levou pão para as pessoas abrigadas na casa.
Além de realizar um trabalho pastoral na paróquia e de formação espiritual, nesses anos os jesuítas criaram um projeto agrícola de desenvolvimento no setor da viticultura (Al Ard) e uma casa de apoio para uma centena de crianças deficientes, para favorecer a sua inserção na sociedade. Trata-se de iniciativas interconfessionais.
Permanecer hoje significa ajudar as pessoas a reconstruir seus bairros, convencendo-as a não abandonar a Síria para sempre. "A questão é como reorganizar a vida das comunidades e reconstruir tantas casas danificadas", contam. "A reconstrução material e espiritual é o nosso compromisso, consolar as pessoas e encorajá-las a recomeçar, demonstrando que continuamos ao lado delas".
Apesar da propaganda da televisão estatal que mostra cenas de vida normal, a realidade em Homs é bem diferente: por causa dos contínuos ataques, as escolas estão fechadas há dois meses, e é cada vez mais difícil encontrar uma loja aberta. "Não aguentamos mais assassinatos, fugas da cidade, pessoas que perdem seu trabalho", observa um dos padres. "Não há alternativa a uma ação diplomática eficaz para frear a violência e as provocações recíprocas".
A Síria inteira perde, e a derrota é de todos.
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Homs: crônicas de um ataque - Instituto Humanitas Unisinos - IHU