Por: Jonas | 06 Março 2012
Tradicionalmente, a estima do mundo mulçumano pelos cães nunca foi muito alta, provavelmente devido ao infortunado episódio em que o profeta Maomé foi atacado. E “qalb ibn qalb”, cão filho de um cão, é um epíteto particularmente ofensivo no mundo árabe. No entanto, não são poucos os observadores que ficaram com uma sensação de inquietude depois da tomada de posição de Hasan Küçuk, um representante político dos Muçulmanos Democráticos da Ásia, que afirmou que os cães deveriam ser proibidos como animais de estimação na cidade, segundo o que informou fontes da imprensa local. Seu partido afirma que os cães pertencem à natureza, não ao interior das casas. O líder político sustenta que fechá-los numa casa representa um caso de maltrato e deveria ser punido pela lei.
A reportagem é de Marco Tosatti e está publicada no sítio Vatican Insider, 03-03-2012. A tradução é do Cepat.
Porém, os maliciosos suspeitam que Hasan Küçük não esteja muito preocupado com os cães, mas sim com o islã, que considera impuro estes animais. De fato, sua proposta, que foi apresentada enquanto os defensores dos direitos dos animais da Ásia pediam que a cidade passasse a ser mais “amigável”, foi rejeitada pelos membros do Conselho Comum. No entanto, ao que parece, a proposta de Küçük não é particularmente nova, pelo menos aos olhos daqueles que seguem com atenção este mundo. Em anos passados, houve casos de pessoas - inclusive cegas – a quem os taxistas mulçumanos negaram o acesso aos carros, ou a negócios administrados por seguidores do islã; e parece que, em algum caso, eles tiveram que descer dos ônibus por causa da reação dos demais passageiros. Daniel Pipes fez uma lista de casos deste tipo, numa área geográfica que vai de Milwaukee e chega até Melbourne, e que data dos anos 1990.
Por exemplo, em julho de 1997, em Nova Orleans, um taxista, Mahmoud Awad, irritou-se tanto com Sandy Dewdney, uma passageira que tentava subir com seu cão no automóvel, que acabou por tirá-la do carro à força, gritando: “Cachorro, não! Cachorro, não!”, ato que lhe machucou o pulso. A defesa (a saliva dos cachorros nos torna impuros) não foi considerada aceitável pelo juiz, e o taxista foi condenado a 120 dias de serviço à comunidade em uma casa para cegos. Em Edmonton, em 2003, Doris Owen tentou entrar no comércio de Mohammad Rafiq, paquistanês, que viveu na Arábia Saudita durante 25 anos. Rafiq não a deixou entrar na loja, mesmo depois que a mulher lhe informou que a lei local permitia aos cegos entrar com seus cães em locais públicos. Rafiq se negava a escutar as explicações de Doris e gritava: “Tire daqui esse cachorro... Este comércio é também minha igreja, porque aqui rezo e como”.
A lista é muito longa. Incluímos somente outro caso, que foi em 19 de julho de 2010. O “Daily Mail” escrevia que muçulmanos, motoristas de táxi e ônibus, ordenavam aos passageiros cegos que descessem, fenômeno que “alcançou tal amplitude que o problema foi levado à Câmara dos Lordes, impulsionando o ministro do Transporte, Norman Baker, a advertir que as objeções religiosas não eram um motivo suficiente para expulsar um passageiro cego de um veículo. George Herridge (73) ficou desconcertado após ter que descer em duas ocasiões do ônibus por causa de seu cão-guia, Andy, um labrador negro, frente ao qual passageiros mulçumanos tiveram reações violentas. Herridge apresentou uma denúncia à empresa de transporte, que iniciou uma investigação; mais tarde, ele foi comunicado que a questão havia sido internamente resolvida.
Outro sinal, desta vez proveniente do Irã, adverte que talvez a situação esteja para dar um novo grito. Há alguns meses, foi apresentada no Parlamento iraniano uma lei que tornaria ilegal e, portanto, punível, ter cães, vinculando-a com a lei islâmica, ou seja, a “sharia”. Segundo quem a propõe, além de uma ameaça para a saúde pública, a questão apresenta outro problema. A popularidade de quem tem um cachorro “apresenta um problema cultural, uma cega imitação da vulgar cultura ocidental”. A legislação proposta delineia punições específicas por “passear e manter animais impuros e perigosos”; por extensão, também poderiam se encaixar nesta lei os gatos, mas neste momento o objetivo principal parece ser só os cães. A partir do momento em que a lei considerar a confiscação dos animais, que só em Teerã são milhares de cães, apresenta-se o problema de qual poderia ser a sorte desses animais.
No entanto, para alguns analistas, o verdadeiro problema está no Ocidente. Eles temem que uma vez que a objeção religiosa sobre os cães ganhe a causa, seja transmitido para outros temas “sensíveis” do ponto de vista da opinião islâmica, segundo o que se define como a “lógica da conquista”. Na Colúmbia Britânica, os taxistas cuja “honesta fé religiosa (...) os impedem de transportar os cegos com seus cães”, têm obtido isenção. O aeroporto de Minneapolis-Saint Louis celebrou um compromisso entre os cegos acompanhados de cães e os taxistas islâmicos. Na Grã-Bretanha, os cães policiais utilizados para identificar terroristas, se são levados a mesquitas ou em casas de muçulmanos, utilizam botas de couro para evitar que se gerem reações. Quanto mais cresce a porcentagem islâmica de uma população, mais rígidas se torna sua tomada de posição. No ano passado, segundo um informe de Soeren Kern, os grupos islâmicos de Lérica, na Catalunha, que tem 20% da população islâmica, pediram a proibição da presença de cães nos transportes públicos e em certas áreas públicas, porque isto violaria “a liberdade religiosa e o direito de viver segundo os princípios islâmicos”. A rejeição da prefeitura em aceitar o pedido teve como conseqüência uma onda de casos de envenenamento.
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Uma Jihad contra os cães? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU