Por: André | 29 Fevereiro 2012
Após sua chegada à Grande Maçã [como é conhecida a cidade de Nova York] e sua surpreendente escolha como presidente dos bispos dos Estados Unidos, os jornais e os canais de TV começaram a chamá-lo de “o papa americano”. Agora que os cardeais o ouviram falar de evangelização durante o encontro prévio ao consistório, Timothy Michael Dolan seria “verdadeiramente” papável, não fosse pelo país em que nasceu, os Estados Unidos: os americanos, diz-se, não podem ser candidatos porque seu país já é uma superpotência no mundo, embora certas análises geopolíticas do passado já não se Dan por descontados.
A reportagem é de Andrea Tornielli e está publicada no sítio Vatican Insider, 25-02-2012. A tradução é do Cepat.
Originário de St. Louis, no Missouri, está com 62 anos, morou em Roma durante sete anos dirigindo o Colégio Norte-americano. Arcebispo de Milwaukee de 2002 a 2009, foi transferido para Nova York há três anos, onde, assim que chegou, declarou: “Meu primeiro objetivo é um, ou seja, encontrar-me com people and people”. Com sua entrada na sede episcopal mais importante dos Estados Unidos, houve quem acreditasse que havia terminado a época da Igreja inamovível na defesa dos princípios: Dolan não é um intransigente e suas posições não são inteiramente assimiláveis às da corrente mais conservadora do episcopado norte-americano. E, contudo, o “Papa americano”, firme na doutrina, mas aberto em questões sociais e à vontade com a modernidade, foi o primeiro a defender como um leão Bento XVI durante o escândalo da pederastia, atacando duramente o New York Times. E agora não deixa de levantar a sua voz contra a decisão da Administração Obama de obrigar as Igrejas e as associações religiosas a adotarem o seguro de saúde para seus empregados, incluindo reembolsos para anticoncepcionais e o aborto: “O presidente nos está dizendo que temos um ano para entender como violar nossas consciências... a sua é apenas um decisão desconsiderada”, comentou Dolan.
O novo cardeal em Roma, no dia de reflexão anterior ao consistório impressionou e surpreendeu seus colegas purpurados por seu ponto de vista: “A nova evangelização se faz com o sorriso, não com as sobrancelhas franzidas”, disse, colocando em dúvida cortesmente a ideia de considerar Nova York como a “capital da cultura secularizada”, o que lhe havia sido dado a entender. Demonstrou que não vê o mundo como um abismo de perdição, mas como um campo cujos frutos é preciso recolher, falando de “uma inegável abertura à transcendência” presente inclusive em lugares que “normalmente são classificados como ‘materialistas’ – como, por exemplo, os meios de comunicação, o mundo do espetáculo, das finanças, da política, da arte”.
Convidou os teólogos para “falarem da fé como uma criança” porque “necessitamos voltar a contar como se se tratasse de uma criança, a verdade eterna, a beleza e a simplicidade de Jesus e de sua Igreja”. Disse que os cristãos têm que estar “seguros”, mas nunca ser “triunfalistas”, reconhecendo que “a própria Igreja sempre necessita ser evangelizada”. E concluiu seu discurso pedindo perdão por seu “italiano primordial”.
A intervenção do arcebispo de Nova York entusiasmou os cardeais, centrando a atenção em um prelado muito distante de certos modos de agir clericais, durante as visitas de cortesia, quando Dolan deu sonoras gargalhadas e fortes palmadas nas costas não apenas dos expansivos nova-iorquinos que estavam em Roma para homenageá-lo, mas também nos espigados prelados da cúria e nos compungidos irmãos purpurados. O mais conhecido dos vaticanistas estadunidenses, John Allen, que recentemente dedicou a ele um livro-entrevista (A people of hope), definiu-o como a “rockstar” do consistório, recordando seus dotes comunicativos. E Dolen foi fiel a si mesmo também na segunda-feira passada, quando levou à audiência a sua mãe de 84 anos, Shirley, e pediu ao Papa que a proclamasse a “primeira dama do colégio cardinalício”. Ratzinger disse à senhora: “Você parece muito jovem para ser a mãe de um cardeal!”. E ela, demonstrando que o gênio é uma característica da família, perguntou: “É uma declaração infalível?”.
Dolan não se nega a se deixar fotografar com boné de beisebol. Reúne-se com os jovens da Grande Maçã nos pubs, onde responde às suas perguntas. Tem um blog que atualizou inclusive durante a sua permanência em Roma: contava sua manhã na Cidade Eterna, com a confissão, a missa e o indefectível prato de massa, convidando o leitor a imitá-lo na confissão frequente. Mas a comida é o seu ponto fraco: durante o último ano esteve de dieta e perdeu 25 quilos, mas apesar disso, o anel cardinalício que o Papa colocou em seu dedo, terá que ser alargado. “Os jejuns quaresmais me darão uma mão”, comentou com o habitual sorriso o “Papa americano”.
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O “papável” americano que desafia Obama - Instituto Humanitas Unisinos - IHU