04 Dezembro 2011
A paralisação em diversos trechos das obras da transposição do Rio São Francisco provocou demissões em massa e colocou em dificuldades pequenos empresários que fizeram investimentos de olho na movimentação dos operários. O cenário de alojamentos fantasmas representa um prejuízo para uma região já pouco acostumada a investimentos.
A reportagem é de Eduardo Bresciani e Wilson Pedrosa e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 04-12-2011.
A comerciante Rosa Feliciana Rodrigues investiu recursos próprios para fazer um mercadinho na residência em que mora na Agrovila 6, no município de Floresta (PE). Depois de cerca de um ano de movimento forte, ela viu sua clientela sumir aos poucos com a redução dos ritmos das obras. Diz ter levado calote de alguns dos trabalhadores e agora tem deixado o comércio desabastecido para não ter prejuízos maiores.
"Foi um ano de bom movimento, depois foi parando. De uns quatro meses para cá não tem mais ninguém. Não tenho comprado mais mercadorias por não ter pra quem vender", conta ela, que hoje deixa apenas entreaberta a porta do estabelecimento.
O desemprego também atingiu os moradores da região que foram recrutados para trabalhar nos canteiros de obras. Gerson José de Lisboa trabalhou durante dois anos e oito meses na transposição como operador de motosserra e armador de ferragens. Em junho, foi demitido sob a justificativa da paralisação. "Tem uma promessa de voltar em janeiro. Se não tiver como, vou ter que voltar para a roça", conforma-se Gerson, que recebia R$ 792 por mês.
Seu irmão, José Edison de Lisboa, também trabalhou na obra, mas já tinha deixado a atividade antes, em 2010, por causa do baixo salário. "Na época a gente recebia só R$ 600. Não dava para continuar", disse.
O Ministério da Integração Nacional afirmou que a obra chegou a contar com 9 mil trabalhadores, e atualmente tem apenas 3,8 mil pessoas atuando nos canteiros. A pasta informa, porém, não haver mais possibilidade de recuperar todos os postos de trabalho porque o estágio atual do empreendimento necessita de menos mão de obra. A expectativa é que, no final de 2012, quando as ações retomarem o ritmo forte, 6 mil operários estejam atuando na transposição.
Outra preocupação de operários demitidos é com dificuldades futuras. O coordenador do sindicato dos agricultores familiares de Floresta, Manoel Joaquim da Silva, destaca que alguns dos agricultores da região atuaram na obra e poderão ter problemas para se aposentar. "Essas pessoas 'sujaram' a carteira e foram demitidas em pouco tempo. Agora vão ter problema para conseguir uma aposentadoria rural no futuro", aponta. Na visão dele, a oportunidade de trabalho não foi boa para quem largou seu cotidiano na agricultura porque, no final, teve de retornar à atividade de origem sem conseguir ganho profissional.
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Transposição do Rio São Francisco. Passado o investimento, ficou o prejuízo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU