Por: André | 06 Dezembro 2011
"Lendo com atenção o relato do Juízo Final (Mt 25, 31-46), descobre-se que o que importa, o que interessa, o que Deus levará em conta, no juízo último e definitivo da humanidade, não será a fé, nem a religiosidade, nem a piedade, mas apenas uma coisa: o comportamento que cada um teve para com os seus semelhantes, especialmente com os que mais desfavorecidos".
A reflexão é do teólogo espanhol José María Castillo, em seu blog Teología sin Censura, 01-12-2011. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Lendo com atenção o relato do Juízo Final (Mt 25, 31-46), descobre-se que o que importa, o que interessa, o que Deus levará em conta, no juízo último e definitivo da humanidade, não será a fé, nem a religiosidade, nem a piedade, mas apenas uma coisa: o comportamento que cada um teve para com os seus semelhantes, especialmente com os que mais desfavorecidos. Ou seja, os que passam fome, os doentes, os necessitados, os estrangeiros, os presos. Os que agiram dessa maneira neste mundo serão os aprovados por Deus, sem aludir sequer ao fato de que se tinham ou não crenças religiosas, se eram pessoas piedosas e praticantes, e outras coisas semelhantes.
De acordo com os Evangelhos, Jesus deu a entender, com frequência, que é isto que lhe importava. Neste sentido, é eloquente o relato da cura do criado de um centurião romano (Mt 8, 5-13; Lc 7, 2-10; Jo 4, 43-54). Aquele militar, como todos os militares do Império, tinha que fazer um juramento de fidelidade ao Imperador, que era considerado como Deus ("ipse deus"). Portanto, aquele centurião não tinha as mesmas crenças que os israelitas. Não tinha as verdadeiras crenças, mas tinha uma conduta exemplar, ao se preocupar tanto por remediar o sofrimento de um criado. E por isso, Jesus disse: "Eu lhes garanto que em nenhum israelita encontrei tamanha fé" (Mt 8, 10; Lc 7, 9). Que fé tinha aquele militar pagão? Nós diríamos: "uma fé equivocada". E, no entanto, na opinião de Jesus, por mais equivocado que se esteja na fé, se é boa pessoa de verdade, isso é mais determinante, diante de Deus, do que todas as crenças, por mais ortodoxas que sejam. E, caso contrário, como se explica que na parábola do bom samaritano (Lc 10, 30-37), precisamente o modelo que Jesus coloca é o do herege samaritano, em contraste com o sacerdote e o levita, que eram os modelos da ortodoxia observante?
Não estou me exasperando. As "crenças religiosas" dividem as pessoas e opõem os crentes. Por causa das crenças se perseguiu, se torturou, se fez guerras, se matou os infiéis e agora se ofende e se insulta aqueles que não concordam com as crenças que eu tenho. Ou seja, por causa das crenças se despedaça a ética e se despreza os pecadores. E, em definitiva, as crenças são, com frequência, o argumento que justifica e legitima a violência. Pelo contrário, a retidão ética e a bondade com misericórdia, é isso que une, que rompe os fanatismos e acaba com os integrismos fundamentalistas, que tanto mal nos fazem e tanto sofrimento geram.
Termino com uma pergunta importante neste momento: é possível garantir que os povos mais crentes e observantes são exatamente os povos em que há menos corrupção, mais honradez no trabalho, mais honestidade na hora de fazer a declaração do imposto de renda, mais generosidade nos patrões e mais laboriosidade nos trabalhadores? Que cada qual veja, em sua consciência, que resposta damos a esta pergunta inquietante e incômoda.
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A ética é mais determinante que as crenças - Instituto Humanitas Unisinos - IHU