27 Novembro 2011
A monja budista Palden Choestso tinha 35 anos quando tirou a própria vida para protestar contra a política chinesa para as regiões habitadas por tibetanos no país. No dia 3, ela ateou fogo a seu corpo e gritou "longa vida ao dalai lama" e "deixem o dalai lama voltar ao Tibete", segundo disseram testemunhas a entidades pró-Tibete sediadas no exterior.
A reportagem é de Cláudia Trevisan e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 27-11-2011.
Palden morreu no mesmo local onde o monge Tsewang Norbu, de 29 anos, tinha se imolado em agosto, na cidade de Tawu, Província de Sichuan. Desde março, 11 monges ou ex-monges tibetanos atearam fogo a seus corpos, uma forma extrema de protesto político que está sendo cada vez mais utilizada pelos tibetanos. Só em outubro foram 7 casos. Das 11 pessoas que se imolaram neste ano, 6 morreram e o paradeiro das demais é desconhecido, segundo as mesmas entidades.
Antes de 2011, o único episódio de imolação entre os tibetanos na China havia sido registrado em fevereiro de 2009 e envolveu um monge chamado Tabe, que sobreviveu às queimaduras. A primeira mulher a se imolar antes de Palden foi a também monja Tenzin Wangmo, de 20 anos, que morreu em 17 de outubro.
Todos os casos ocorreram em áreas habitadas por tibetanos na Província de Sichuan, vizinha ao Tibete. O centro dos protestos é o mosteiro Kirti, onde vivem 2.500 monges na cidade de Aba, que foi ocupada por forças militares e paramilitares depois da imolação de março e vive sob um não declarado estado de sítio.
Há barreiras policiais nas estradas que levam à região e jornalistas são impedidos de chegar ao local. Apenas dois conseguiram furar o bloqueio nos últimos meses.
Na semana passada, painel da ONU sobre liberdade religiosa manifestou preocupação com as medidas de segurança impostas em Aba, que incluem constante presença de policiais dentro e fora dos monastérios e monitoramento das atividades religiosas. Segundo o grupo, as ruas estão ocupadas pela tropa de choque e por soldados armados.
"Essas medidas não apenas limitam a liberdade religiosa ou de crença, mas exacerbam as tensões e são contraproducentes", declarou Heiner Bielefeldt, relator especial sobre liberdade religiosa e de crença da ONU. Para Bielefeldt, as medidas de segurança agravaram a tensão entre a população tibetana e Pequim.
Dalai lama
As autoridades chinesas reagiram à série de imolações na Província de Sichuan com acusações ao dalai lama, a quem classificam de separatista e "terrorista disfarçado". Na quinta-feira, o porta-voz da chancelaria chinesa, Hong Lei, responsabilizou os tibetanos no exílio pelas imolações. "Os grupos pró-independência do Tibete elogiaram esses suicídios e até defenderam sua imitação", declarou Hong à imprensa.
"O que eles estão fazendo desafia a moral humana e eles nunca conseguirão o que querem. Os budistas chineses sabem que o suicídio deve ser condenado. Pessoas de comunidades religiosas acreditam que a vida deve ser valorizada e eles devem seguir a verdadeira doutrina do budismo", acrescentou o porta-voz. "O dalai lama é a mais importante figura religiosa para os tibetanos e esses monges manifestaram devoção a ele durante todas as suas vidas. Para alguns é preferível perder a vida do que ter de renegá-lo", disse ao Estado Andrew Fischer, professor do Instituto de Estudos Sociais de Haia, na Holanda.
Em sua opinião, as imolações são provocadas por um sentimento de desespero e frustração em relação às políticas de Pequim para os tibetanos, que são agravadas pela extrema repressão imposta ao monastério Kirti, na cidade de Aba.
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Tibetanos apelam ao recurso extremo da imolação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU