19 Outubro 2011
Desta vez, os separatistas nem os fundamentalistas islâmicos têm algo a ver. Não é um crime político, nem uma explosão de ódio religioso. Fausto Tentorio, missionário católico, que desde 1978 vivia no sul das Filipinas, foi morto quase certamente por ordem dos latifundiários de Kidapawan, na ilha de Mindanao.
A reportagem é de Gabriel Bertinetto, publicada no jornal L"Unità, 18-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A sua culpa, ter assumido a defesa dos pobres agricultores locais ameaçados de desapropriação. Dois pistoleiros esperaram o Padre Pops, como ele era chamado carinhosamente pelos habitantes locais, enquanto ele saía de casa para Arakan. Um deles ficou na motocicleta. O outro, com o rosto coberto por um capacete, disparou três tiros à queima-roupa. Quando os vizinhos perceberam, atraídos pelo barulho dos disparos, tiveram apenas o tempo de ver a moto se afastar com dois assassinatos.
Fausto Tentorio tinha 59 anos e era originário de Santa Maria Hoé, perto de Lecco, onde seus familiares ainda vivem. O irmão Felice se lembra dele com comoção: "Eu perguntei aos seus colaboradores qual poderia ser a explicação de um gesto tão cruel. Eles me disseram que não haviam chegado ameaças. Eles pensam que o homicídio está ligado a velhos rancores, devido ao seu compromisso em favor das populações locais. Fausto sempre defendeu os habitantes da região dos fazendeiros que queriam expropriar as terras".
Interesses
Se não houve ameaças recentes, há quem se lembre de como o missionário, há oito anos, sobreviveu a um atentado, conseguindo escapar dos assassinos e se esconder em uma casa de campo, protegido pelas pessoas do lugar que o amavam pelo compromisso desinteressado em seu favor.
Na região de Arakan, na ilha de Mindanao, vivem os índios da etnia Lumad, em luta pelo reconhecimento dos seus direitos às terras ancestrais, que estão sob constante ataque de empresas de mineração, como a anglo-suíça Xstrata, interessadas no ouro e em outros metais do subsolo. O padre Pops era, para os Lumad, um médico e um professor, mais ainda do que um padre. Todos se lembram dele pelas batalhas travadas abertamente, sem medo de dizer o que pensava.
"É claro que o Exército governa este país", disse ele no ano passado em um congresso. "Enquanto as forças armadas se submeterem ao governo civil, não haverá paz para as comunidades individuais".
Tentorio tinha posto o dedo na ferida da política filipina. Todo novo chefe de Estado começa o seu mandato com grandes promessas de reformas democráticas que logo são desconsideradas. No ano passado, foi eleito Benigno Aquino, filho de Cory, a primeira presidente pós-Marcos. Apesar de ter tentado resolver através da negociação o histórico conflito armado com os rebeldes comunistas e com os separatistas da MILF (Frente de Libertação Islâmica do Povo Moro), Aquino ainda não chegou a resultados concretos.
Ao lado os fracos
As associações de direitos humanos imputam a Aquino a fraca determinação no combate ao excessivo poder patronal nas áreas onde o privilégio econômico se baseia na violência e na impunidade. E isso apesar de o objetivo do governo principal por ele indicado durante a campanha eleitoral ser uma luta incansável contra a corrupção.
Em seu crédito, está o desafio à hierarquia eclesiástica no campo da educação sexual. Os bispos chegaram a ameaçá-lo de excomunhão por ter promovido um projeto de lei que permite a distribuição gratuita de preservativos. Mas ele respondeu: "Na escola, uma escola católica, me ensinaram que o árbitro final de cada escolha é a própria consciência".
Igreja de dois rostos, a filipina. Encastelada nos pisos superiores em defesa de posições ultraconservadoras na esfera dos comportamentos privados e sociais. Mas inclinada ao lado dos fracos através da ação de muitos sacerdotes semelhantes ao missionário italiano assassinado em Arakan.
Fausto Tentorio havia sido ordenado em 1977 e havia partido para as Filipinas ainda no ano seguinte. A sua primeira sede havia sido Columbia, na ilha de Mindanao, a maior do arquipélago e a única onde, ao lado dos católicos, que são 90% da população em escala nacional, os muçulmanos são muito numerosos.
Outros missionários foram mortos em Mindanao antes de Tentorio: o padre Tullio Favali, em 1985, e o padre Salvatore Carzedd, em 1992. O ministro das Relações Exteriores [italiano], Frattini, pediu ao governo de Manila, "à luz da situação de periculosidade do território, que seja ampliada a escolta a todos os missionários locais".
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Padre é morto por pistoleiros de latifundiários das Filipinas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU