O governo negocia com a
Federação Internacional de Futebol (Fifa) descontos substanciais no preço dos ingressos para a
Copa do Mundo de 2014. O número máximo de "entradas populares" poderia ser definido, segundo apurou o Valor, de acordo com um percentual sobre a capacidade de público dos estádios ou a localização dentro das arenas - por exemplo, em áreas como as situadas atrás das balizas.
A reportagem é de
Cristiano Romero,
Mauro Zanatta e
André Borges e publicada pelo jornal
Valor, 10-10-2011.
O tema foi tratado pela presidente
Dilma Rousseff e o ministro dos Esportes,
Orlando Silva, com o secretário-geral da Fifa,
Jérôme Valcke, durante sua visita a Bruxelas, na semana passada.
O subsídio aos ingressos estará no centro da discussão entre
Fifa e governo marcada para esta semana no Brasil, com a diretoria jurídica da Fifa, de Zurich. A presidente quer empurrar a conta para a
Fifa porque considera, segundo auxiliares, que o governo já faz sua parte ao financiar a construção de estádios e investir pesado em mobilidade urbana e na infraestrutura das cidades-sede.
Na conversa,
Dilma também fechou posição de não alterar a legislação federal, como o
Estatuto do Idoso, que prevê desconto nos ingressos para esse público. O governo decidiu deixar a Estados e municípios o ônus de negociar o direito à "meia entrada" para estudantes e a venda de bebidas alcoólicas nos estádios. Governadores e prefeitos devem ceder nesses pontos, avalia o governo federal. Assim, o desgaste não recairia sobre o Palácio do Planalto.
Como pano de fundo dessa ofensiva do governo brasileiro, está a estratégia de agradar uma fatia menos abastada do público, neutralizando a oposição contra a eventual pecha de Copa das elites. O Palácio do Planalto também avalia que a medida garantiria um público razoável em jogos de menor apelo, como um hipotético, e improvável, jogo entre Romênia e Honduras, por exemplo. Na
Copa da África do Sul, em 2010, a
Fifa teve que distribuir ingressos de forma gratuita por falta de interesse em alguns jogos. Na
Copa das Confederações, em 2009, a Fifa distribuiu entradas para o jogo entre Espanha e Iraque, em Bloemfontein.
"É natural que haja alguns pontos de questionamentos, mas o governo acredita que é possível encontrar um caminho para atender a Fifa e, ao mesmo tempo, preservar o direito do cidadão", disse ao Valor o secretário nacional de futebol do Ministério do Esporte,
Alcino Reis.
Segundo
Reis, que acompanhou a comitiva brasileira na semana passada, o governo vai buscar uma forma de centralizar as decisões, mas o martelo não será batido sem ouvir cada uma das 12 cidades-sede dos jogos. "Vamos estudar agora as opiniões da Fifa. Podemos concordar com eventuais ajustes. O governo está disposto a buscar soluções nacionais", comentou.
O secretário, no entanto, minimizou efeitos práticos de novas leis que pudessem legislar sobre temas como a venda de bebidas nos estádios e a meia-entrada para estudantes. "Uma lei nacional não tem poder de substituir uma lei local. Isso não resolve. Nosso esforço é para que a Fifa compreenda isso e aceite os direitos que já foram dados a setores da sociedade."
Segundo
Reis, quando o Brasil apresentou suas garantias à Fifa, a meia-entrada não foi tratada. O que estava estabelecido é que a instituição regula o preço dos ingressos, mas não os direitos locais concedidos a determinado público.
Reis também acredita numa solução pacífica para a venda de bebida nos estádios. "A experiência que se tem nas Copas é de que a comercialização de cerveja nos estádios não causa nenhum problema relacionado à segurança", disse. "Uma coisa é proibir a venda de bebidas em situações com torcidas organizadas de clubes. Outra coisa são jogos de Copa, que não têm histórico de confronto."
Na semana passada, após o encontro com a
Fifa, o governo se reuniu com grandes patrocinadores da Copa, como
Itaú,
Visa,
Ambev,
Mc Donald"s,
Oi e
Coca-Cola, para fechar um plano de promoção do evento.
Durante o encontro, diz
Reis, o governo fez questão de deixar claro que a possibilidade de o país perder a Copa para outro país "foi absolutamente afastada".
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Governo quer Copa com ingressos populares - Instituto Humanitas Unisinos - IHU