27 Setembro 2011
Num episódio confuso em meio a manifestações e contramanifestações, o chanceler da Bolívia, David Choquehuanca (foto) denunciou que foi sequestrado por um grupo de indígenas. Os manifestantes que protestam contra a construção de uma estrada negam ter sequestrado o chanceler, mas o governo anunciou que serão acusados por esse delito em uma corte internacional.
A reportagem é do Página/12, 25-09-2011. A tradução é do Cepat.
Segundo fontes governamentais, os manifestantes usaram-no de escudo humano para avançar por uma barreira policial que mantem bloqueada a manifestação por dez dias e o libertaram quatro horas depois. Os indígenas consideram que a estrada interestadual projetada para unir os departamentos de Cochabamba e Beni afetará o meio ambiente do Território Indígena do Parque Nacional Isíboro Sécure (Tipnis).
A marcha até La Paz partiu da Amazônia faz quarenta dias. As tentativas do governo de Evo Morales para atender as demandas dos manifestantes até o momento foram infrutíferas. Morales declarou tempos atrás que se o projeto for tema de plebiscito receberá um grande apoio e ligou as marchas indígenas a interesses políticos de opositores.
Nm um gesto de conciliação, o chanceler se apresentou em Chaparina, departamento central de Beni, onde se encontram os indígenas parados faz dez dias por um cordão policial. A 10 km ao sul, em Yúcumo, se encontra um bloqueio feito por civis e camponeses que se opõe a manifestação e são favoráveis à estrada interestadual. Segundo o governo, quando Choquehuanca se oferecia para intermediar com os colonos que apoiam a construção da autopista e os manifestantes, o chanceler foi tomado como refém e utilizado como escudo humano para romper a barreira policial.
O ministro de Coordenação dos Movimentos Sociais, César Navarro – que se encontrava junto ao chanceler – falou de empurrões. "Quando nos dispomos a deixar o lugar, depois de explicar que deviam conversar com os colonos, nos sequestraram e nos obrigaram a caminhar", disse Navarro.
O ministro de Governo, Sacha Llorenti, disse numa coletiva de imprensa que a polícia foi enviada ao lugar com instruções claras de envitar confrontos entre as manifestações. Llorenti disse que acionará a Comissão de Direitos Humanos (CIDH) para que penalize os responsáveis. "Há pessoas que querem se beneficiar políticamente de um enfrentamento", disse.
De sua parte, o chanceler ratificou que foi obrigado a caminhar com os indígenas e, posteriomente, recuaram uma vez que avaliaram que essa ação poderia piorar o conflito. "Apesar da situação hostil, vou continuar tentando superar o conflito mediante o diálogo. Essa é a única alternativa, faremos gestões", afirmou Choquehuanca de retorno a La Paz.
Os indígenas, entretanto, negaram veementemente a versão dos representantes do governo. No diálogo com Página/12, José Ortiz, da Central dos Povos Indígenas de La Paz, falou desde a capital da Bolívia, onde realizavam uma vigília em apoio à marcha. "Ninguém o sequestrou, não houve agressões. Os manifestantes caminharam dois quilometros com Choquehuanca. Veio o chanceler ao bloqueio em Yúcumo para dialogar com os colonos. A marcha era pacífica e já leva mais de quarenta dias e faz dez que está parada por ordens do governo que a mantém cercada", dise Ortiz.
No mesmo sentido se expressou o dirigente dos camponeses das terras altas que acompanha a marcha dos indígenas das terras baixas, Rafael Quispe. Disse que o chanceler aceitou marchar com a coluna até Yúcumo para converar com os colonos e convencê-los que levantassem o bloqueio e permitisse a passagem da marcha. "Nós estamos dispostos ao diálogo. É totalmente falso que tenham tomado reféns. Como poderíamos fazê-lo com tanta polícia presente e nós desarmados", perguntou.
Ontem (sábado) transcorreu o sexto dia da vígila na Igreja São Francisco de La Paz para pedir que deixem a marcha continuar e realizou-se um protesto frente ao magistério. "Já se fizeram vigílias em Santa Cruz, Cochabamba e Sucre. Na segunda está chegando uma mobilização desde Oruro com sindicatos", disse a Página/12 Mila Andrade, uma militante do Coletivo Audiovisual Videourgente.
Mais cedo, Morales cancelou um ato em Santa Cruz por temer um possível boicote. "Temos informações de que grupos radicais querem gerar problemas. Devido a isso, o presidente tomou a decisão de retornar a La Paz", disse o ministro de Comunicação Iván Canelas, sem imaginar o que aconteceria horas depois em Beni.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Um chanceler boliviano em apuros - Instituto Humanitas Unisinos - IHU