01 Setembro 2011
A acelerada moderação da atividade do país balizou a decisão do Banco Central (BC), avalia Nilson Teixeira, economista-chefe do banco Credit Suisse. Segundo ele, o comunicado que se seguiu à reunião do Copom também sugere grande convicção da autoridade monetária sobre os riscos vindos do mercado internacional. Caso se confirme o cenário do BC, Teixeira julga que a resposta da autoridade foi apropriada. Nesse caso, o mais adequado seria fazer uma redução de juros de uma forma acelerada, e de magnitude importante. Até por isso, ele acredita em forte queda dos juros, de 400 pontos até janeiro do próximo ano. Segundo ele, o PIB do terceiro trimestre já deve mostrar retração, em torno de 0,3%, que se somará aos efeitos da crise que o BC espera.
A entrevista é de Fernando Travaglini e publicada pelo jornal Valor, 02-09-2011.
Eis a entrevista.
Qual a sua avaliação sobre a decisão do Copom?
Quando se lê o comunicado - e por sinal o BC foi na direção correta ao publicar, espero que se torne uma tradição da instituição, uma avaliação mais clara sobre a sua leitura - não há dúvidas sobre por que o BC cortou os juros e sobre a sua leitura da atividade econômica do Brasil desacelerando. A expectativa da autoridade monetária é de que haverá uma intensificação dessa desaceleração. Me parece que ele está sinalizando que o cenário global e essa desaceleração da atividade levarão a uma inflação ainda menor do que a autoridade monetária tinha previsto.
O corte foi muito forte?
Ninguém esperava um corte de 50 pontos. Mesmo a maioria dos nossos clientes que tinha posição [contratos de juros futuros] em um corte de 25 pontos dizia que achava pouco provável. Quando a autoridade monetária vem com [um corte de] 50, sinaliza o seguinte: há riscos importantes de que a desaceleração da atividade seja bem mais expressiva do que os analistas estavam esperando e que o próprio BC achava há um mês. E isso exige corte de juros.
Quando o BC surpreende o mercado, também emite um sinal?
A mensagem me parece clara: não dá para ficar esperando tanto, como foi feito em 2009, e vamos acelerar o processo de corte. Agora, até outubro muita coisa pode acontecer, porque a incerteza sobre os desdobramentos na Europa e nos Estados Unidos é muito grande, consequentemente os impactos aqui são muito incertos.
O BC fará novos cortes?
O que está acontecendo aqui também é muito incerto nesse contexto. Em caminhando para o cenário da autoridade monetária, nós julgamos que a resposta é apropriada. E indo para o cenário que nos parece que está no cenário da autoridade monetária, o mais apropriado é fazer uma redução de juros de uma forma acelerada e de magnitude importante. Em 2008 e 2009 já falávamos a mesma coisa, que o adequado, dadas as incertezas existentes, era que o corte deveria ser até em uma velocidade maior do que foi. Hoje ficamos do mesmo lado. Prevemos um corte de 400 pontos base, com 150 pontos em outubro.
Já há desaceleração na economia brasileira?
Esperamos um crescimento de 2,9% para o Brasil, que na média seria mais ou menos igual a não crescer nada no terceiro e no quarto trimestres. Ou seja, não importa qual seja a métrica que você usa, está crescendo menos do que o potencial. Consequentemente, eu entendo que a autoridade monetária julga que a desaceleração da atividade contribuirá para reduzir a inflação.
Qual será o comportamento da inflação?
Temos uma expectativa de que a inflação permanecerá elevada por mais tempo. Tem um caráter de persistência muita expressivo e alguns mecanismos de indexação que não vão ser desmontados, ao contrário, tendem a ter impacto até maior por conta, por exemplo, do salário mínimo. Mas se ocorrer um cenário em que os preços de commodities recuem um pouco e que a atividade de fato desacelere de forma expressiva, isso tende a ajudar a inflação a ser um pouco melhor do que a expectativa.
A entrevista é de Fernando Travaglini e publicada pelo jornal Valor, 02-09-2011.
Eis a entrevista.
Qual a sua avaliação sobre a decisão do Copom?
Quando se lê o comunicado - e por sinal o BC foi na direção correta ao publicar, espero que se torne uma tradição da instituição, uma avaliação mais clara sobre a sua leitura - não há dúvidas sobre por que o BC cortou os juros e sobre a sua leitura da atividade econômica do Brasil desacelerando. A expectativa da autoridade monetária é de que haverá uma intensificação dessa desaceleração. Me parece que ele está sinalizando que o cenário global e essa desaceleração da atividade levarão a uma inflação ainda menor do que a autoridade monetária tinha previsto.
O corte foi muito forte?
Ninguém esperava um corte de 50 pontos. Mesmo a maioria dos nossos clientes que tinha posição [contratos de juros futuros] em um corte de 25 pontos dizia que achava pouco provável. Quando a autoridade monetária vem com [um corte de] 50, sinaliza o seguinte: há riscos importantes de que a desaceleração da atividade seja bem mais expressiva do que os analistas estavam esperando e que o próprio BC achava há um mês. E isso exige corte de juros.
Quando o BC surpreende o mercado, também emite um sinal?
A mensagem me parece clara: não dá para ficar esperando tanto, como foi feito em 2009, e vamos acelerar o processo de corte. Agora, até outubro muita coisa pode acontecer, porque a incerteza sobre os desdobramentos na Europa e nos Estados Unidos é muito grande, consequentemente os impactos aqui são muito incertos.
O BC fará novos cortes?
O que está acontecendo aqui também é muito incerto nesse contexto. Em caminhando para o cenário da autoridade monetária, nós julgamos que a resposta é apropriada. E indo para o cenário que nos parece que está no cenário da autoridade monetária, o mais apropriado é fazer uma redução de juros de uma forma acelerada e de magnitude importante. Em 2008 e 2009 já falávamos a mesma coisa, que o adequado, dadas as incertezas existentes, era que o corte deveria ser até em uma velocidade maior do que foi. Hoje ficamos do mesmo lado. Prevemos um corte de 400 pontos base, com 150 pontos em outubro.
Já há desaceleração na economia brasileira?
Esperamos um crescimento de 2,9% para o Brasil, que na média seria mais ou menos igual a não crescer nada no terceiro e no quarto trimestres. Ou seja, não importa qual seja a métrica que você usa, está crescendo menos do que o potencial. Consequentemente, eu entendo que a autoridade monetária julga que a desaceleração da atividade contribuirá para reduzir a inflação.
Qual será o comportamento da inflação?
Temos uma expectativa de que a inflação permanecerá elevada por mais tempo. Tem um caráter de persistência muita expressivo e alguns mecanismos de indexação que não vão ser desmontados, ao contrário, tendem a ter impacto até maior por conta, por exemplo, do salário mínimo. Mas se ocorrer um cenário em que os preços de commodities recuem um pouco e que a atividade de fato desacelere de forma expressiva, isso tende a ajudar a inflação a ser um pouco melhor do que a expectativa.