Eram 20h de segunda-feira, 15 de agosto, quando um último ônibus, vindo de Portugal, deixou na entrada do colégio jesuíta Nuestra Señora del Recuerdo, em Madri, cerca de 60 jovens de origens diversas. Durante todo o dia, milhares de peregrinos chegaram à capital espanhola onde começou, na terça-feira (16), a
26ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
A reportagem é de
Sandrine Morel, publicada pelo jornal
Le Monde e reproduzida pelo
Portal Uol, 17-08-2011.
Mais de um milhão de fiéis são esperados para essa grande reunião católica. Para receber a entusiasmada multidão que veio conhecer “a diversidade da comunidade dos crentes” e “encontrar o papa
Bento XVI”, quase 1.400 locais, entre escolas, universidades, ginásios, campings e salas paroquiais, foram disponibilizados. Em geral, os peregrinos se dividiram de acordo com sua congregação religiosa. Os
Legionários de Cristo na Universidade Francisco de Vitoria, os membros da
Opus Dei nos inúmeros estabelecimentos escolares dessa instituição na Espanha, ou ainda os
jesuítas no colégio Nuestra Señora del Recuerdo.
Aqui, são quase 3.000 deles, vindos de 55 países, que colocaram suas bagagens nas salas de aula e nos ginásios. Mal chegaram, e os organizadores e os cerca de 150 voluntários já lhes entregaram o “kit de sobrevivência” dos participantes da JMJ. Em uma pequena mochila, eles encontram a camiseta oficial, uma cerveja (sem álcool), um chapéu de pescador e um leque para aguentar o Sol e o calor extenuante, um mapa de Madri, um evangelho, um livro de catecismo e uma história em quadrinhos retraçando a vida de
Bento XVI, e por fim um rosário. Entre esses itens indispensáveis, duas caixas de remédios com instruções, nas quais se encontra um pequeno crucifixo, porque “Cristo é um médico e um remédio”. Eles recebem também um passe de metrô e tíquetes-refeição que podem ser trocados pelo “cardápio do peregrino” oferecido por 160 restaurantes e fast-foods de Madri.
Depois, são encaminhados para os “quartos”, situados no fundo de um segundo corredor. Rapazes de um lado, garotas de outro. Divididas de acordo com seu país de origem, estas últimas são cerca de vinte por classe no prédio normalmente ocupado por alunos do maternal. No fundo, mesas e cadeiras foram empilhadas. Toalhas e enormes mochilas se equilibram sobre os aquecedores. Há roupas de baixo penduradas nos cabides, assim como no chão, e no estrado, uma confusão de isolantes térmicos e sacos de dormir. Mas as que dormem aqui têm sorte: no ginásio de 2 mil metros quadrados, serão 600 jovens dormindo apertadas, envoltas em pesados odores de vestiário...
No alto da arquibancada, três libanesas, curvadas sob o peso de sua bagagem, descobrem decepcionadas seu novo “quarto”. Sem se queixar. “Estamos aqui para viver uma grande experiência, conhecer gente, ouvir o papa, mas também fazer amigos e viver um tempo de festa”, explica
Mygra Tabet em um francês impecável. Essa estudante de 21 anos espera particularmente a missa internacional: “Será grandiosa”.
Do lado de fora, três jovens, enroladas em suas toalhas, atravessam a quadra de basquete. Às 18h30, a missa começou no campo de futebol, mas elas aproveitam esse momento para tomar banho tranquilamente. Já no dia seguinte, os 3 mil jovens terão somente duas horas, entre 7h30 e 9h30, para se revezar nas dezenas de chuveiros em funcionamento. “Temos um alto nível de exigência em matéria de austeridade”, resume
Javier Gimeno, um dos organizadores e ex-pai de aluno.
A missa parece confirmar sua afirmação. Acomodados em cadeiras em torno do palco onde oficiam dezenas de padres, ou então sentados no chão, à sombra dos prédios, os jovens escutam em silêncio a oração e entoam em coro os cantos litúrgicos enquanto abrem bandeiras libanesas, alemãs, argentinas, italianas, francesas, tanzanianas, sérvias e coreanas.
O ofício chega a seu final e o jantar – pizza e hambúrguer – será distribuído quando o último ônibus parar diante do colégio jesuíta. Irlandeses de ar sério, vindos “para a catequese”, descem do veículo, seguidos por um pequeno grupo de sevilhanos com um gongo debaixo do braço, decidido a “festejar”. A comunidade católica em toda sua diversidade está pronta para a JMJ.
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Jornada Mundial da Juventude reúne milhares em Madri para "viver um tempo de festa" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU