26 Julho 2011
O governo alertou que o papa "não governa a Irlanda".
A reportagem é da agência Efe, 25-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O governo irlandês disse hoje que "continua esperando" uma resposta oficial do Vaticano acerca do último relatório sobre os abusos cometidos por sacerdotes católicos na diocese de Cloyne, no condado sulino de Cork. Em um breve comunicado, o vice-primeiro-ministro irlandês e ministro das Relações Exteriores, Eamon Gilmore, reagiu dessa forma à decisão da Santa Sé de chamar o núncio (embaixador) na Irlanda, Giuseppe Leanza, para consultas.
"A decisão de chamar o núncio papal ao Vaticano para consultas é um assunto da Santa Sé. O governo continua esperando a resposta da Santa Sé ao recente relatório sobre a diocese católica de Cloyne, e é de se esperar que o Vaticano deseje consultar-se em profundidade com o núncio a sua resposta", assinala a nota.
As relações entre Roma e Dublin se esfriaram depois que o primeiro-ministro irlandês, Enda Kenny, lançou, na semana passada, no Parlamento nacional (Dáil), um ataque sem precedentes contra as mais altas instâncias da Igreja Católica.
Entre outras acusações, o "Taoiseach" (primeiro-ministro) assegurou que o Vaticano encorajou os bispos do país a não denunciar os casos de padres pedófilos, ao mesmo tempo em que advertiu o papa que a religião não "dirige a Irlanda", onde impera a lei civil.
"Pela primeira vez na Irlanda, um relatório sobre abusos sexuais contra menores evidencia uma tentativa da Santa Sé de frustrar uma investigação em uma república soberana e democrática", disse Kenny, que qualificou as autoridades católicas de "elite inoperante".
A Rádio do Vaticano informou hoje que, "depois da publicação no último dia 13 de julho do relatório da Comissão de Investigação do governo irlandês sobre as acusações de abuso de menores por parte do clero da diocese de Cloyne e das reações que surgiram, a Secretaria de Estado chamou para consultas o núncio na Irlanda, o arcebispo Giuseppe Leanza".
O Vaticano, que não especificou nada mais sobre o chamado para consultas ao núncio, lembrou hoje as recentes declarações do porta-voz vaticano, Federico Lombardi, que disse que a Santa Sé iria responder "oportunamente" o pedido do governo irlandês e exigia "objetividade".
O porta-voz, que qualificou o que aconteceu em Cloyne como fatos "dramáticos", também ressaltou a necessidade de renovar o "clima de confiança e de cooperação para alcançar esse objetivo, tal como desejado pelo papa em sua carta aos católicos da Irlanda" do dia 19 de março de 2010.
No último dia 13 de julho, o governo irlandês publicou um novo relatório de 400 páginas sobre os abusos sexuais cometidos contra menores na diocese de Cloyne por 19 clérigos, assim como a resposta das autoridades eclesiásticas dessa diocese às denúncias de agressões.
A investigação foi ordenada pelo Executivo de Dublin há três anos, depois que um órgão de supervisão da Igreja indicou que o então bispo de Cloyne, John Magee, atrasou e, de alguma forma, prejudicou as investigações sobre os supostos casos de pedofilia denunciados em sua diocese entre 1996 e 2009.
O documento destaca que o ex-bispo "assumiu com pouco ou nenhum interesse a abordagem dos casos de abusos sexuais contra menores até 2008".
Ele também critica o "número dois" dessa diocese, Mons. Denis O`Callahan, por "bloquear" as denúncias e não seguir as diretrizes definidas em 1996 pelo Vaticano para abordá-las, particularmente a que recomenda alertar a polícia e as autoridades competentes.
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Irlanda "continua esperando" uma resposta oficial do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU