06 Junho 2011
Ele está no Vaticano há apenas quatro meses, mas o arcebispo brasileiro João Braz de Aviz já está recebendo boas avaliações.
A reportagem é de John Thavis, publicada no sítio Catholic News Service, 03-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Como chefe do escritório do Vaticano que supervisiona as ordens religiosas do mundo, o arcebispo de 64 anos herdou inúmeras tensões e uma atribuição que, em alguns aspectos, se assemelhava a um campo de batalha.
Além de ter que concluir uma contenciosa visitação apostólica às ordens religiosas femininas dos Estados Unidos, ele enfrentou o desafio de reconstruir a confiança e os canais de comunicação com os superiores das ordens religiosas do mundo inteiro.
Dom Aviz substituiu o cardeal esloveno Franc Rodé, que acreditava que as modernas ordens religiosas estavam em uma crise causada em parte pela adoção de uma mentalidade secularizada e o abandono das práticas tradicionais. O cardeal Rodé disse que muitos religiosos haviam interpretado mal o Concílio Vaticano II e acusava as ordens femininas de adotar um espírito "feminista".
Quando o papa Bento XVI nomeou o arcebispo Aviz como novo prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, a escolha surpreendeu muitos superiores religiosos. Surpresa que agora se tornou em otimismo para o futuro.
"As janelas foram abertas para novas abordagens. Eu definitivamente sinto que há uma nova esperança para construir relações mais profundos e melhores entre a congregação do Vaticano e os religiosos e religiosas", disse a irmã Mary Lou Wirtz, dos EUA, presidente da União Internacional das Superioras Gerais.
A Ir. Wirtz, superiora geral das Filhas dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, disse que Dom Aviz e o arcebispo Joseph W. Tobin, secretário da congregação vaticana, se reuniram recentemente com os superiores gerais das ordens religiosas em Roma para falar sobre problemas e perspectivas para o futuro.
"Foi uma partilha muito aberta e boa. Nós realmente sentimos a sua vontade de construir pontes com os religiosos e religiosas e para reconstruir a confiança – especialmente com as irmãs dos Estados Unidos após a visitação, e todos os sentimentos que a cercavam e a forma como ela aconteceu", disse a Ir. Wirtz em entrevista no dia 2 de junho.
Raramente uma autoridade recém-nomeada pelo Vaticano anuncia publicamente que irá fazer as coisas de forma diferente. No entanto, essa foi a forma como a maioria das pessoas leram a entrevista dada por Dom Aviz para o jornal do Vaticano no dia 1º de junho.
O arcebispo começou expressando seu apreço pela enorme contribuição dada pelas cerca de 2.000 ordens religiosas de todo o mundo. Ele acrescentou que "nós, bispos, e os superiores da Igreja precisamos ter uma ideia mais positiva do religioso".
Ele disse que a reconstrução da confiança mútua entre o Vaticano e as ordens religiosas era uma tarefa que precisava ser "redescoberta" pela sua congregação. A congregação do Vaticano, disse, tem estado muito distante dos religioso, e sua prioridade é manter uma relação com os superiores religiosos em um nível simples e pessoal.
"Só depois de termos estabelecido um diálogo é que vamos discutir os problemas e tentar esclarecer as coisas, se houver um problema. Isso parece muito mais frutífero do que simplesmente continuar com uma atitude preconceituosa", disse.
Dom Aviz disse também que quer ajudar a melhorar as relações entre os bispos e as ordens religiosas. Muitas vezes, essa não é uma questão de resolver os problemas doutrinais ou disciplinares, mas sim de falar calmamente uns com os outros e de "saber ouvir", afirmou.
Tudo isso parece ser música para os ouvidos dos superiores religiosos.
"Do nosso ponto de vista, essa é uma abordagem diferente. A congregação parece entender que o seu papel é de colaboração, e não tanto de confronto", disse o padre Pascual Chávez Villanueva, reitor maior dos salesianos e presidente da União dos Superiores Gerais.
Padre Chávez disse entender o fato de que a congregação vaticana tenha que lidar com problemas e questões que envolvem as ordens religiosas. Mas, sob a nova liderança, disse, ela está tendo uma visão mais ampla e envolvendo os superiores religiosos sobre as questões da missão e das novas formas de cooperação na evangelização.
"Sentimos que este é um ponto de viragem na nossa relação com a congregação e também pensamos que pode ser um elemento importante para as nossas relações futuras com outras congregações vaticanas – aquelas que lidam com o clero, os bispos e a doutrina da fé", explicou o Pe. Chávez.
Os superiores religiosos leram cuidadosamente uma parte da entrevista de Dom Aviz, na qual ele falou sobre a necessidade de equilibrar o carisma original de uma ordem religiosa com a realidade contemporânea.
"Precisamos ter a coragem de, por um lado, olhar para os fundadores como modelos de fidelidade à regra e, por outro lado, de prestar atenção à cultura de hoje", disse o arcebispo. "Sempre há algo dentro das ordens religiosas que precisa de adaptação ao momento presente".
O Pe. Chávez disse que os superiores religiosos estavam "na mesma sintonia".
"Sempre falamos de uma fidelidade criativa, ou fidelidade dinâmica, ao carisma de uma ordem, que leva em consideração os tempos em que vivemos. Isso garante que o carisma não se torne uma peça de museu, ancorado no passado, mas permaneça válido hoje. Senão, ele não seria capaz de atrair vocações entre os jovens", disse o salesiano.
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Acalmar as águas: a abordagem do mais novo brasileiro no Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU