07 Junho 2011
A criação de uma Câmara Setorial, proposta por empresários, trabalhadores e centrais sindicais, pode resultar em benefícios para a sociedade, diz Fernando Sarti na entrevista que concedeu por telefone à IHU On-Line. Na avaliação dele, todas as iniciativas que tentam reduzir os riscos da desindustrialização são positivas. Porém, para resolver o problema de perda de competitividade da indústria nacional, é preciso mais do que acordos setoriais; a mudança central tem de ser feita na política econômica. "O Brasil está desperdiçando uma ótima janela de oportunidades e isto é provocado por uma política macroeconômica inconsistente, que se preocupa muito mais com a questão da estabilidade embasada numa cultura rentista do que com o desenvolvimento social e crescimento econômico", argumenta.
Na entrevista, Sarti também comenta as reivindicações feitas por trabalhadores e empresários no pacto setorial. Em relação ao Programa de Participação nos Lucros e Resultados – PLR, ele enfatiza que o "país precisa deixar para trás a ideia de que salário é custo e que a empresa deve maximizar apenas o retorno dos proprietários ou acionistas. Nós precisamos entender que salário é poder aquisitivo e representa ampliação do mercado doméstico". E mais, as empresas industriais precisam direcionar seus recursos internos prioritariamente para novos investimentos. Já em relação à queixa do setor industrial às altas taxas de financiamento do BNDES, ele diz que os problemas centrais são outros: a falta de financiamento do setor privado e a atual política econômica. "O país está se expondo a uma concorrência internacional intensa, de forma absolutamente despreparada, com um regime macroeconômico perverso que não beneficia o desenvolvimento industrial, com juros distorcidos, com câmbio superapreciado", ressalta.
Fernando Sarti é graduado e mestre em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp com a dissertação Evolução das estruturas de produção e de exportações da indústria brasileira nos anos 80. Ele também cursou o doutorado na mesma instituição com a tese Internacionalização comercial e produtiva no Mercosul nos anos 90. Atualmente, é professor do Instituto de Economia da Unicamp.
A entrevista foi feita em parceria com o Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Qual sua opinião em relação à criação de uma Câmara Setorial para a indústria? Quem se beneficia com isto?
Fernando Sarti – Todos os esforços de tentar uma concertação, um acordo, são importantes, dado que o desafio posto à indústria é muito grande. A criação de uma Câmara Setorial é uma condição necessária, mas não suficiente. Não acredito que, dado o tamanho do desafio que se tem pela frente, só um pacto entre os empresários e as centrais sindicais seja suficiente para dar conta dessa questão.
Experiência histórica
As Câmaras Setoriais dos anos 1990, em especial a automobilística, foram fundamentais para a recuperação da competitividade de alguns setores industriais, que corriam risco inclusive de desaparecimento. Nos anos 1992 e 1993, no setor automotivo, as Câmaras Setoriais envolveram todos os agentes relevantes para o debate. Cada um colocou na mesa os seus interesses, as questões que poderiam ceder, e todos foram beneficiados de alguma maneira. Os trabalhadores aceitaram a elevação dos seus salários, mas com a manutenção dos níveis de emprego, os distribuidores de veículos aceitaram reduzir a margem de lucro, os produtores aceitaram retomar os investimentos em novas plantas e produtos e ao mesmo tempo reduzir margem. As autopeças e demais fornecedores do setor também chegaram a um acordo de redução de preço e margem e o governo entrou com a redução dos tributos. Esses acordos foram o ponto de partida para a elaboração do regime automotivo em 1995 que permitiu a retomada dos investimentos, da produção, das vendas e do emprego setoriais no país. Os trabalhadores, empresas e a sociedade ganharam.
Novamente, a criação de uma câmara setorial pode representar a aproximação dos diversos atores. Se o debate frutificar e implicar em ações importantes do ponto de vista da política de desenvolvimento industrial, a sociedade será beneficiada. Não consigo ver o desenvolvimento econômico e desenvolvimento social sem uma indústria forte. Todas as ações feitas na direção de promover o desenvolvimento industrial e tentar reduzir os riscos de uma desindustrialização são positivas.
IHU On-Line – A situação da indústria é critica em que sentido?
Fernando Sarti – O Brasil vive hoje um momento singular de oportunidades, mas, junto disso, há um grande risco. O país tem uma variável importante e que no mundo está escassa, exceto nos países emergentes: demanda. Poucos países estão conseguindo se beneficiar de uma demanda relativamente dinâmica. Neste sentido, o Brasil ainda terá um ciclo de demanda relativamente longo, dados alguns fatores importantes, como os investimentos associados aos eventos esportivos, ao pré-sal, à infraestrutura de uma forma geral. Tudo isso, junto com o consumo, tenderá a manter a demanda da economia brasileira relativamente aquecida.
O Brasil vai trabalhar nos próximos anos com um patamar de 5 a 6% de crescimento, o que é certamente o dobro da taxa dos últimos 30 anos. Por si só, este é um momento importante que gera oportunidades para a indústria. A grande pergunta que fica no ar é: quem vai atender esta demanda? E é neste ponto que começa o risco, porque o país está jogando fora esta oportunidade, transformando-a em um problema muito sério na medida em que a crescente demanda vem sendo deslocada para a importação de bens finais e intermediários.
Esta demanda poderia ser um vetor fundamental de reestruturação e de desenvolvimento industrial. No entanto, o Brasil está desperdiçando esta rica oportunidade por causa da política macroeconômica inconsistente, uma política que atende muito mais aos interesses rentistas e prioriza a falsa questão da estabilidade do que com o desenvolvimento social e o crescimento econômico. Digo falsa porque a melhor forma de se obter estabilidade inflacionária é com o crescimento da oferta e, portanto, dos investimentos. As taxas de juros praticadas no Brasil têm implicações diretas sobre o câmbio, e isso acaba promovendo uma valorização cambial absurda, que faz com que se tenha perda importante de competitividade do setor produtivo doméstico, reduzindo as exportações e facilitando as importações.
Então, embora se tenha demanda, ela está sendo desviada, fazendo com que não se produza o que poderia ser produzido e, mais do que isso, joga-se fora o futuro, porque ele está associado a investimentos, a uma forte elevação na taxa de investimento, hoje baixa e em torno de 18% do PIB. A indústria deveria estar em um patamar de investimento muito maior, olhando para os próximos dez anos e não refém da inflação dos últimos dez dias.
IHU On-Line – Embora o pacto seja local, ele pode possibilitar a criação de um pacto nacional ou novas reivindicações e acordos para os diversos setores industriais?
Fernando Sarti – É interessante analisar as duas partes envolvidas neste pacto: trabalhadores e empresários. O país não quer uma produção ou indústria ineficiente, a qualquer preço, que comprometa o poder aquisitivo do cidadão comum. Sabe-se, porém, que, sem o desenvolvimento industrial, o Brasil perde a sua capacidade de crescimento sustentado e includente.
Não tenho dúvidas de que esta aproximação entre capital e trabalho é positiva. Entretanto, este acordo tem que beneficiar toda a sociedade. Nesse sentido, a mediação do poder público, por meio da política industrial, é fundamental.
O fato de ter, de um lado, os empresários e, de outro, as centrais conversando e entendendo que o risco de desindustrialização está cada vez mais crível e próximo, já parece uma ótima iniciativa. A partir desse diálogo é possível equilibrar a correlação de força, que é muito favorável aos atores que se beneficiam de um padrão de crescimento rentista, passivo e excludente.
Também não queremos um crescimento dependente e populista. O risco é reduzirmos a discussão à manutenção ou ampliação da renda dos agentes envolvidos: empresários e trabalhadores. Não basta taxar e transferir renda dos setores mais competitivos, que são os setores produtores de commodities agrícolas e minerais. Sobretudo se essa transferência de renda significar apenas mais consumo ou transferência de recursos para municípios e estados. É fundamental gerar recursos para financiar o investimento produtivo, que é o nosso passaporte para o futuro. Essa é a direção desejada,que coloca o desenvolvimento industrial como prioridade porque gera emprego e renda permanente. Não são mediações simples. Porém, uma concertação entre os principais agentes envolvidos é o primeiro passo decisivo.
IHU On-Line – Entre as reivindicações, empresários solicitam a redução dos juros cobrados pelo BNDES nos empréstimos que concede às empresas. Como o senhor vê esse pedido do setor industrial em um momento em que diversas empresas se internacionalizam depois de terem recebido incentivos fiscais? Esse é um dilema da indústria?
Fernando Sarti – São duas coisas diferentes. Primeiro, acredito que o próprio padrão de financiamento no Brasil vai ter que passar por uma mudança importante. O BNDES está muito próximo do seu limite de expansão; ele praticamente triplicou a sua atuação no mercado; saiu de 50 a 60 bilhões de reais em financiamento em menos de dez anos e foi para algo em torno de 160 bilhões. Pode chegar a 200 ou 250 bilhões de reais. Mas ainda será insuficiente para financiar uma economia que precisa investir 25% do PIB. O BNDES teve um papel decisivo neste ciclo recente de investimentos e na saída da crise financeira. De qualquer modo, sabemos que não há espaço para o BNDES continuar crescendo indefinidamente, porque faltam recursos. Nesse sentido, não se trata de o banco não querer emprestar dinheiro para as empresas, mas de saber de onde vêm os recursos. Há um limitante claro na continuação desse processo.
Não basta reduzir as taxas de juros do BNDES. Há uma questão muito mais ampla a ser resolvida: como será feito o financiamento industrial daqui para frente? Não adianta colocar todas as fichas em cima do banco, como se ele pudesse resolver todos os problemas da indústria brasileira. A solução passa pelo desenvolvimento do mercado de capitais e pela maior presença do setor financeiro privado.
Internacionalização
Não há nada de incoerente no fato de o BNDES ter apostado e apoiado a internacionalização das empresas brasileiras. Pelo contrário, acredito que isto é absolutamente importante sob vários pontos de vista: no sentido de prover escalas maiores para as empresas nacionais, promover um processo de concentração e centralização de capital. Não conheço nenhum padrão de desenvolvimento industrial que não tenha contado com fortes empresas nacionais. O fato de dar recurso para empresas se internacionalizarem não significa que se está reduzindo a capacidade de investimento doméstico. Pelo contrário, quanto mais forte e internacionalizada for a Petrobras, quanto mais forte for qualquer uma destas empresas nacionais internacionalizadas, maior será a cadeia de fornecedores locais, melhor o posicionamento na cadeia de valor, maior o desenvolvimento tecnológico interno.
IHU On-Line – E quando as empresas acreditam que é mais importante e lucrativo investir no exterior e fecham uma planta industrial no Brasil para investir no mercado asiático, a exemplo da Azaleia, o que se faz?
Fernando Sarti – Esse processo de internacionalização não é culpa do financiamento e, sim, do atual contexto macroeconômico. Com o câmbio de hoje, com o nível de rentabilidade, com a pressão competitiva dos produtos importados, o custo de produção e de engenharia ficou caro, a energia elétrica deixou de ser competitiva. Assim, a indústria perdeu competitividade e tudo isso força as empresas a buscarem ganhos de competitividade no exterior, subcontratando ou montando suas próprias plantas produtivas em outros países. É um absurdo imaginar esta inversão na lógica produtiva e comercial. Empresas brasileiras transferindo sua produção para o exterior para reexportar para o país. Mas isso não tem a ver com o financiamento; tem a ver, isso sim, com esta política macro de juros elevados e câmbio valorizado.
Se o governo condicionar que uma empresa terá de investir somente no país e não poderá se internacionalizar, a fim de continuar utilizando recursos públicos, é provável que a empresa feche as portas porque não tem competitividade para fazer frente a importações, sobretudo chinesas. Nesses casos extremos, a internacionalização foi um caso de sobrevivência. Mas ainda são casos de exceção. Portanto, tem de se ver os dois lados da moeda; não dá para isolar uma situação.
Não vou culpar uma empresa que, de repente, diante de uma competição predatória como a de hoje, busca alternativas que certamente não buscaria sob outro regime competitivo. Se o Brasil tivesse um câmbio mais razoável, uma política de defesa comercial mais ativa, a situação seria outra. O país está se expondo a uma concorrência internacional intensa, de forma absolutamente despreparada, com um regime macroeconômico que não beneficia o desenvolvimento industrial, com juros distorcidos, com câmbio superapreciado. Como, a partir dessa conjuntura, é possível pôr a culpa na empresa que busca uma reestruturação no exterior? Talvez a Azaleia não tivesse ido para a Índia se o Brasil tivesse, além da demanda interna forte, uma política adequada. O absurdo é que a empresa não foi para o exterior para vender para outros mercados, mas para retornar com a sua produção e vender no Brasil.
IHU On-Line – A principal reivindicação dos trabalhadores é referente à participação dos lucros e resultados. Como o senhor vê essa reivindicação?
Fernando Sarti – Este é um padrão cada vez mais moderno; é uma forma de trazer também uma corresponsabilidade no processo de gestão e de participação nos resultados. Este país precisa deixar para trás a ideia de que salário é custo. Nós precisamos pensar que salário é poder aquisitivo, representa ampliação de mercado doméstico. Acho fundamental que o envolvimento dos trabalhadores vá além da questão de participação nos resultados. Mas que também acho importante que haja influência nas decisões das empresas.
Alguns setores já dividem os lucros e vejo que isso gera um ambiente para tomada de decisões e para busca de inovações muito mais rico do que o sistema de remuneração exclusiva via salário. Esse mecanismo de remuneração não elimina as tensões capital/trabalho. Pelo contrário, facilita a gestão e solução dos conflitos. Deste ponto de vista, vejo com bons olhos, mas não penso que isto seja a solução para o desafio da indústria. É mais um degrau, apenas. Os desafios são muito maiores.
Além disso, os trabalhadores precisar]ao ter consciência de que, ao participarem diretamente dos resultados, as consequências podem ser boas ou ruins. Quer dizer, se os lucros das empresas forem menores, eles serão menos remunerados. De alguma maneira, cria-se uma corresponsabilidade maior entre o capital e o trabalho, para os momentos positivos e negativos da economia. Os trabalhadores precisam ter clareza do significado desse processo porque ele não diz respeito apenas à remuneração, mas ao envolvimento na própria gestão, nas decisões estratégicas das empresas.
Futuro
Se no futuro for exigido um padrão de remuneração e existir uma pressão para que um percentual cada vez maior do lucro seja repartido, será preciso pensar nas consequências. Ou seja, ver o quanto isso comprometerá ou não a capacidade de financiamento e, portanto, de crescimento das empresas no longo prazo.
Estas novas formas de modalidade de gestão e participação nos lucros não podem trazer uma visão de curto prazo para dentro do processo. O país está em um momento-chave e, ao mesmo tempo, delicado. Precisa olhar para o futuro, pensar em como serão feitos os investimentos, pois o destino da indústria depende deles. Se essas questões de divisão de lucro estiverem claras e contempladas nas mesas de negociação, parece-me positivo.
A empresa é uma instituição que afeta a vida de todo mundo: do governo, dos empresários, dos trabalhadores, da sociedade. Portanto, esta visão de uma instituição mais ampla tem que contemplar interesses mais amplos.
Temos de considerar que muitas empresas podem ser lucrativas para os empresários e distribuírem resultados para os trabalhadores, mas não terem nenhum compromisso com os investimentos necessários para o desenvolvimento produtivo e tecnológico, nenhum compromisso com a questão social, ambiental etc. Quais as vantagens desse modelo de governança para a sociedade? Nenhuma. Estes acordos precisam ser visto no sentido de dividir responsabilidades e abranger uma gama mais ampla de interesses.
IHU On-Line – O senhor disse que o padrão de financiamento BNDES tem de mudar. Em que sentido? O setor privado tem de começar a financiar a indústria?
Fernando Sarti – Além do financiamento público de longo prazo, o país precisa consolidar seu mercado de capitais e trazer o setor financeiro privado para o financiamento de risco, abandonando uma postura excessivamente rentista. Algumas medidas que considero certas e coerentes foram adotadas no final de 2010, quando se facilitou o processo para que as empresas colocassem papéis no mercado para aumentar a capacidade de captação e de autofinanciamento. Mas que empresa, hoje, vai colocar títulos no mercado com a atual taxa de juros?
Não será possível consolidar o mercado de capitais com uma taxa de juros proibitiva como esta. Acredito que o mercado de capitais poderia ter uma contribuição maior, poderia trazer novos investidores institucionais para este processo. Aliás, defendo a tese de que nós deveríamos ser mais ousados. Nesse sentido, a criação de um fundo soberano seria fundamental para pensar o financiamento de médio e longo prazos das grandes empresas brasileiras, sobretudo para financiar as pesadas operações de aquisição e fusão.
Uma vez que o Brasil tem reservas cambiais e terá um elevado excedente de recursos com o pré-sal, poderíamos pensar uma engenharia financeira para constituir vários fundos e facilitar este processo de financiamento, sobretudo o financiamento das empresas que querem se internacionalizar. Isto poderia ser feito liberando recursos para outras operações, como o financiamento maior para pequenas e médias empresas, ou para outras finalidades como gastos em inovação.
Os recursos que virão com o pré-sal e as reservas cambiais do país poderão melhorar a intensidade e qualidade do financiamento de longo prazo. O Brasil tem que reunir todos estes instrumentos, não somente reduzir a taxa de juros. O setor público já deu e continuará dando sua contribuição fundamental. Mas está na hora de o setor privado participar mais ativamente deste processo. Dado o contexto macroeconômico e institucional atual, o setor privado não quer correr risco, não quer se envolver neste padrão de financiamento de longo prazo, que é absolutamente decisivo.
IHU On-Line – Pode explicar melhor essa ideia de um fundo soberano? Esse fundo seria financiado por pelo setor privado?
Fernando Sarti – O Brasil tem expressivas reservas cambiais e terá a geração de elevados excedentes a partir da renda gerada pelo pré-sal. Então, poderia, dentro de uma lógica financeira, usar parte desses recursos para financiar os investimentos das empresas nacionais, sobretudo nas grandes operações de aquisições e fusões, a exemplo da China. É evidente que, se estas reservas são denominadas em dólar, o país terá que financiar operações que deem resultado em moeda forte. O BNDES com toda sua expertise na análise de crédito e de planos de negócios, em cooperação com outras instituições públicas e/ou privadas, poderia coordenar o funcionamento do fundo.
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Câmara setorial? Necessária, mas não suficiente. Entrevista especial com Fernando Sarti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU