16 Mai 2011
Nenhum leigo cristão nos séculos modernos havia subido mais alto no governo central da Igreja do que Guzmán Carriquiry (foto), um advogado uruguaio de 67 anos, que Bento XVI nomeou, no último sábado, como secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina.
A reportagem é de Giancarlo Zizola, publicada no jornal La Repubblica, 16-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um cargo que a constituição e a práxis da Cúria Romana atribuem a um arcebispo, como ocorreu durante décadas, é, pela primeira vez, submetido à responsabilidade de um leigo, casado, pai de quatro filhos e avô de oito netos. Um sinal, mesmo que episódico, que Ratzinger lança para a reforma de uma cúria afundada em seus ritos imutáveis, onde leigos e mulheres têm no máximo cargos executivos e a atmosfera difundida se alimenta de clericalismo.
Há 40 anos em Roma, Carriquiry frutificou a sua experiência de dirigente latino-americano da Juventude Estudantil e Universitária Católica em seu cargo de subsecretário do Pontifício Conselho para os Leigos. Nessa posição, ele deu uma mão à organização das Jornadas Mundiais da Juventude e à verificação dos "critérios de eclesialidade" exigidos pela Santa Sé para o reconhecimento canônico das várias comunidades, associações e movimentos que constituem a galáxia laical do catolicismo após o Concílio Vaticano II.
Uma história nada fácil, atravessada por tensões e não isenta de fracassos, na fronteira crítica entre a Igreja carismática e as exigências da instituição, entre o entusiasmo religioso dos movimentos, tendencialmente autárquicos, e a exigência à disciplina comunitária da autoridade eclesial. A ideia de leigo visíveil em Carriquiry se assemelha à do cardeal J. Henry Newman. Também para ele, "a Igreja seria ridícula sem os leigos". Cada parte constitutiva da Igreja tem uma função específica. Daí a convicção de que o envolvimento dos leigos também no governo da Igreja é uma obrigação, não um hobby: Newman lembrava que, no século IV, foram os bispos que caíram na heresia do arianismo, enquanto os leigos, fiéis, haviam preservado a fé da Igreja.
Com o novo cargo, a atenção se desloca para o papel de Carriquiry de ponte entre a cúria romana e o catolicismo latino-americano. O fato não ser mais um eclesiástico, mas sim um leigo que assume a responsabilidade dessa mediação poderia significar que Bento XVI visa a uma maior recepção das instâncias das Igrejas latino-americanas no sistema romano. Segundo o motu proprio de Wojtyla publicado em 1988, a Comissão para a América Latina tem a tarefa de "estudar de forma unitária os problemas doutrinais e pastorais concernentes à vida e ao desenvolvimento da Igreja na América Latina, além de assistir e ajudar os organismos da Cúria mais interessados".
A primeira missão do novo secretário é na Assembleia Geral do Conselho Episcopal Latino-Americano - Celam, programada para Montevidéu, entre os dias 17 e 20 de maio). Apaixonado pela América Latina, por cultura e solidariedade, e não só de nascimento, e ele farão referência em Roma os cardeais e os bispos do "primeiro continente cristão", onde vive quase a metade dos católicos do mundo.
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A escolha do papa: um leigo para tratar com a América Latina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU