14 Mai 2011
Publicamos aqui o Manifesto Público das organizações populares e dos movimentos sociais da diocese de Sucumbíos, no Equador, publicado no blog da Igreja de San Miguel de Sucumbíos - ISAMIS, 12-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Organizações populares,
Organizações e movimentos sociais,
Organizações sindicais,
Nacionalidades de Sucumbíos
Organizações não governamentais
E povo da província de Sucumbíos
reunidos na sede do Fondo Ecuatoriano Populorum Progressio - FEPP Regional Lago Agrio, no dia 10 de maio de 2011
Considerando:
- Que, no último dia 30 de outubro, ocorreu no Vicariato de San Miguel de Sucumbíos (ISAMIS) a remoção violenta da Administração dessa Igreja, sem opção para uma transição natural, serena e aberta positivamente ao futuro;
- Que Dom Gonzalo foi obrigado a sair de maneira violenta desta Igreja e da província em que viveu, trabalhou e sonhou junto com outros atores eclesiais e sociais, uma província com equidade, integração, justiça e paz por mais de 40 anos;
- Que a administração da Igreja de Sucumbíos foi entregue à Sociedade Virgo Flos Carmeli, pertencente à congregação dos Arautos do Evangelho, organização clerical vinculada ao movimento Tradição, Família e Propriedade, conhecido na América Latina como um movimento ultradireitista e conservador, que se contrapõe totalmente ao modelo de Igreja, e o processo social que foram vivendo na província;
- Que, desde a chegada dos Arautos do Evangelho à província de Sucumbíos, demonstraram atitudes agressivas, desrespeitosas, autoritárias e discriminatórias, o que se agravou nos últimos meses, especialmente na violação de direitos e de segurança de trabalho.
- Que a presença invasiva dos Arautos do Evangelho na província provocou divisão entre a população, situação nunca antes conhecida, nem nas crises mais profundas ela viveu em sua história, o que constitui um risco público permanente;
- Que sua prática individualista e individualizante pressupõe uma ameaça ao tecido social da província, devido à sua desvalorização de toda forma de reunião, assembleia e organização em que se possa chegar a acordos e articular os diferentes setores de forma participativa e democrática para enfrentar coletivamente os problemas que mais urgem a província, o que afeta temas de alta sensibilidade como a fronteira, os direitos humanos, o meio ambiente, pondo em risco a segurança construída em anos de esforço na província, porque não são atores neutros;
- Que sua ideologia machista e patriarcal atenta contra a dignidade e os direitos das mulheres, convertendo-se em uma ameaça para o processo de consolidação dos princípios de igualdade, equidade e dignidade contemplados na Constituição equatoriana e nos tratados internacionais de Direitos Humanos;
- Que, para conseguir seus fins, recorrem ao engano, à mentira, à ameaça, à pressão e ao assédio, tentaram enganar o governo equatoriano suplantando a Assembleia Diocesana de Pastoral para obter o reconhecimento oficial de um Conselho Jurídico à sua medida que atualmente continua sem se legalizar. Da mesma forma distorcida e fora de contexto, eles divulgam textos, testemunhos, fotografias e outros produtos comunicacionais, totalmente alheios à verdade:
- Que, depois de mais de um ano e meio de presença sem a legalização do Conselho Jurídico do Vicariato e de seu Procurador, eles continuam atuando até a nomeação e a legalização do Legado Pontifício, em campos jurídicos, administrativos e financeiros, afetando interesses e direitos de missionários/as e empregados/as do Vicariato;
- Que, por causa da desinformação sistemática promovida pelos Arautos do Evangelho para com as autoridades do Vaticano sobre as ações e a suposta desobediência ao Papa da Igreja de Sucumbíos, dos Padres Carmelitas Descalços e de outras congregações religiosas, o clero local, os Ministérios das comunidades e demais agentes de pastoral e comunidades, essas autoridades ordenaram a saída dos seis missionários Carmelitas Descalços que, em sua maioria, estão há quase 40 anos acompanhando os processos eclesiais e sociais em Sucumbíos;
- Que, por causa da própria desinformação sistemática promovida pelos Arautos do Evangelho, a maioria dos meios de comunicação locais fizeram eco e permanentemente geraram notícias sem critérios, sem contexto e sem conhecimento nem análise da complexa realidade, desfocando o problema, com o que fomentam a violência, promovem e fortalecem a divisão e o confronto da sociedade.
Frente a todo o exposto sobre a situação que se gerou na província com a sua presença e ação:
Responsabilizamos os Arautos do Evangelho pelo conflito que se está vivendo na província, tanto dentro quanto fora da Igreja, e que afeta famílias, comunidades, organizações e a sociedade em seu conjunto por dividir e fomentar o enfrentamento entre os diferentes setores da Igreja e da sociedade.
Rejeitamos as campanhas difamatórias e demais ações contra Dom Gonzalo, os Carmelitas de Sucumbíos, o clero diocesano, os agentes de pastoral, os empregados do Vicariato diversos agentes sociais, o que continua agravando a comoção social interna.
Manifestamos nossa dor, inconformidade e desacordo com a decisão do papa de remover da Província os seis sacerdotes missionários da Ordem dos Padres Carmelitas Descalços, por não corresponder em justiça à verdade e transparência de suas ações e exercício do Ministério durante o tempo que permaneceram em Sucumbíos.
Solicitamos respeitosamente que Dom Ángel Polibio Sáanchez, Legado Pontifício para Sucumbíos, entre em comunicação direta e urgente também com a Coordenação da Assembleia Diocesana da ISAMIS e com a Sociedade Civil que a respalda.
Rejeitamos todas as emissoras, jornais e outros meios que entram nessa linha de comunicação sensacionalista e irresponsável, que atuam em nome de interesses de setores poderosos da província, confundindo a população, elevando os ânimos e contribuindo com o clima de instabilidade social.
Decidimos abrigar-nos nas instalações do Governo Autônomo Descentralizado de Lago Agrio e manter uma presença pacífica permanente nessa nossa Casa Municipal, até a saída dos Arautos do Evangelho da nossa Província de Sucumbíos, sem causar qualquer prejuízo às instalações e ao seu funcionamento.
Exigimos a intervenção do senhor presidente do Equador, Rafael Correa, e do Governo Nacional, através das diversas pastas do Estado, para agir em defesa dos direitos da população de Sucumbíos que se viram afetados, ordenando a saída dos Arautos do Evangelho da nossa província, o mais rapidamente possível, já que a situação ultrapassou os limites possíveis da tolerância.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Manifesto público em apoio aos carmelitas de Sucumbíos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU