Para Anistia, grandes investimentos no Brasil podem prejudicar os mais pobres

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26 Abril 2011

O secretário-geral da ONG Anistia Internacional, Salil Shetty, manifestou ontem preocupação com a forma com que os grandes investimentos estão chegando ao Brasil. Segundo ele, é justamente nesses momentos de euforia que os direitos dos mais pobres são mais desrespeitados. "É claro que nós entendemos a importância do crescimento econômico e também dos investimentos, mas isso não precisa ser feito à custa do desrespeito ao próximo", afirma Shetty.

A reportagem é de Paola de Moura e publicada pelo jornal Valor, 27-04-2011.

Ele veio ao Brasil para conhecer mais de perto os problemas do país e ouvir das organizações locais sua visão sobre o desrespeito aos direitos humanos no Brasil. Ontem, além de se encontrar com representantes do Viva-Rio, do movimento Rio pela Paz, entre outras entidades, visitou a favela Cidade Alta, na Zona Norte do Rio, onde ouviu de 20 moradores relatos da violência da Polícia ao invadir as comunidades.

Shetty citou a favela da Restinga, no Recreio dos Bandeirantes, como exemplo de desrespeito aos direitos humanos. É que, devido à obra da TransOeste, que ligará a Barra da Tijuca à Santa Cruz, os moradores do local estão sendo para reassentamentos que ficam a 50 quilômetros de distância. "Eles já têm a vida toda resolvida na região, trabalham perto e os filhos estudam ali. Além disso, a indenização é irrisória", disse.

A ONG reabrirá seu escritório no Brasil depois de dez anos fora. A base será em São Paulo. Para o secretário, isso vai possibilitar acompanhar mais de perto problemas como esse e também ter reações mais rápidas. Shetty explica que o país tem se tornado cada dia mais importante no cenário internacional, econômica e politicamente. Assim, segundo ele, o Brasil terá nos próximos anos um número bem maior de manifestações da Anistia Internacional do que hoje.

Shetty também quer que a organização acompanhe de perto a "Comissão da Verdade" que pretende esclarecer mortes, desaparecimentos e torturas durante os governos militares. Ele diz que a Lei da Anistia, que permitiu o retorno do exilados, mas também isentou os crimes dos militares, "não pode apagar da história os crimes cometidos no período".

Shetty também falou que a experiência brasileira pode contribuir muito para os funcionários da Anistia em todo o mundo. "O intercâmbio é muito importante para nossos colaboradores. Situações vividas aqui e soluções encontradas podem nos ajudar nas negociações em outros países", explica.

Um dos exemplos citados também como importante para Shetty é a situação das cadeias brasileiras. "Elas estão superlotadas, não têm condições sanitárias, há violência e tortura. Isso também acontece em outros países", acrescenta. "Mas aqui são 500 mil presos, a maioria sem julgamento. Precisamos mostrar isso para a sociedade brasileira e mundial", avisa. " Isso é contra a Constituição brasileira. Aqui, as leis não são respeitadas", afirmou.

Outra preocupação da Anistia é com os abusos dos policiais. Na Cidade Alta, Shetty se encontrou com 20 familiares de vítimas desse tipo de violência. Segundo ele, há um grave histórico de violência policial no Brasil e, no Rio, mais de mil pessoas morrem todos os anos pelo abuso da força policial.