Sudão do Sul é um explosivo mosaico étnico

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09 Abril 2011

No Sudão do Sul, os que estão contentes com a separação são a imensa maioria, mas não todos. No referendo de janeiro, 3.792.518 eleitores votaram a favor da separação e 44.888, contra.

A reportagem é de Lourival Sant`Anna e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 10-04-2011.

"Estou sem trabalho há dois meses", queixa-se o pedreiro Sarlis Sato, de 50 anos, da etnia bária, nativa da região onde se situa Juba. "Aqui, se você não é dinka, não tem trabalho", diz, referindo-se à etnia majoritária no Sudão do Sul, da qual o presidente Salva Kiir Mayardit faz parte. "Queria que a capital não fosse aqui, porque os dinkas nos enganaram", continua Sato. "Esta terra é dos bárias, mas os dinkas a tomaram à força."

Originalmente, as etnias nilóticas, como os dinkas e nuers, são nômades e guerreiros, enquanto os equatorianos, como os bárias, são agricultores e sedentários. "Dentro de três anos, pode haver nova guerra entre dinkas e equatorianos", prevê Sato.

A resistência dos equatorianos em ceder terras para a construção de edifícios do novo governo tem levado funcionários a ameaçar transferir a capital para Ramciel, reduto dos dinkas, 230 quilômetros ao norte de Juba. "Não queremos nova guerra por terras. Preferimos mudar a capital", disse ao Estado o general dinka Lual Lual, ex-comandante guerrilheiro e líder da Frente de Salvação Democrática Unida. "Não lutaremos com outros clãs a não ser que nos ataquem."

Nem todos os bárias, porém, concordam com Sato. "Estou muito feliz com a separação, porque este é o nosso país", disse a bária Monica Seit, de 23 anos, gerente de escritório do Ministério dos Transportes. "Não é verdade que os dinkas ficaram com todos os empregos. Quem diz isso está enganando o povo. Não haverá problemas entre as tribos."

"Muitos dinkas estavam na guerra e não estudaram, enquanto que os bárias se refugiaram noutros países, onde receberam instrução. Por isso, hoje têm mais empregos no governo do que nós", disse um funcionário público dinka de 30 anos que se identificou apenas como Isaiah. "Estamos felizes. Nossos pais lutaram por esta conquista."

"Não há empregos suficientes para todo mundo", justificou ao Estado o ministro de Assuntos Presidenciais, Cirino Ofuho, da etnia loheto. "Há 32 ministros e 60 tribos. Os bárias têm cinco ministros, mais do que qualquer outro grupo." O vice-presidente, Riek Machar, é da etnia nuer, a segunda maior. O presidente do Parlamento, Wani Igga, é bária. "Isto acontece porque ainda não temos oposição organizada", analisa Ofuho. "Estávamos em guerra." O general Lual, cuja frente é o embrião da oposição, também vê essa relação: "O governo terá de acomodar as minorias. Estamos discutindo a duração desta transição para novas eleições."