04 Abril 2011
Desembarcam da lancha CP 301 da guarda costeira, parecendo cadáveres. Uma ambulância logo carrega um deles sem sinais de vida. Os outros descem da passarela para a doca Favaloro carregados pelos homens da Guarda de Finanças e da Guarda Costeira italianas. Estão vivos, mas exaustos. Descem envolvidos em cobertores térmicos, lâminas douradas que ressaltam ainda mais os rostos do sofrimento. São seis, mas estão salvos. Os outros 11 – e, dentre eles, um menino – estão mortos. Afogados no Canal da Sicília.
A reportagem é do jornal La Repubblica, 04-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ibrahim, somaliano, cerca de 25 anos, não fala, está endurecido pelo frio, repete apenas "my friend is dead". Encaminha-se para o poliambulatório de Lampedusa.
No dia seguinte, ele não é mais um morto que caminha, veste um macacão e uma jaqueta, e conta: "Partimos em 17 de Misurata. Era de noite, e o mar estava tranquilo. Afastamo-nos e, durante horas, navegamos na escuridão giubbotto.
Ibrahim se detém por um instante e depois recomeça: "Ficamos no mar por oito dias. No quinto, o motor ficou avariado. No sétimo, chegaram as ondas, nos apertávamos uns contra os outros. Também estava conosco um menino de 5-6 anos. E, de repente, acabamos na água".
Eis a entrevista.
Mas enquanto isso vocês não viram mais ninguém?
No terceiro dia, um navio de guerra se cruzou conosco, falavam inglês [era um navio canadense envolvido nas operações perto das costas líbias]. Aproximaram-se de nós e nos deixaram ir embora.
Não lhes socorreram?
Não, apenas nos deram água e continuamos viagem.
E quando vocês caíram na água, o que aconteceu?
Não sei o que aconteceu. De repente, uma onda nos derrubou. Eu tinha uma garrafa de plástico presa na minha cintura. Outros se agarraram a pedaços do navio que se partiu em dois. Por quase um dia, ficamos assim, no meio do mar, com as forças que nos abandonavam minuto a minuto. O menino logo desapareceu no meio das ondas. Outros 10 se afogaram com o passar das horas.
Depois, Ibrahim lembra bem pouco. Um pesqueiro egípcio os salvou a 50 milhas de Lampedusa, deu o sinal de alerta, e a lancha CP 301 foi resgatar aqueles seis mortos que caminhavam.
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"Assim vi os meus amigos morrerem entre as ondas" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU