26 Março 2011
"A Igreja deveria abrir uma espécie de Átrios dos Gentios, onde os homens possam, de alguma forma, se agarrar a Deus, sem conhecê-lo e antes que tenham encontrado o acesso ao seu mistério".
A reportagem é de Philippe Clanché, publicada na revista Témoignage Chrétien, 23-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Esse desejo expresso por Bento XVI em 2009 encontra realização hoje em Paris. "Espaço de troca e de diálogo entre crentes e não crentes", o Átrio dos Gentios – alusão ao pátio do Templo de Jerusalém, onde os não judeus (os gentios) eram recebidos – é realizado pelo Pontifício Conselho para a Cultura, o equivalente ao ministério da Cultura do Vaticano.
O evento ocorre em três encontros em torno do tema "Luzes, religiões, razão comum" – na Unesco, com diplomatas e responsáveis políticos (dentre os quais Giuliano Amato, ex-presidente do Conselho italiano, e Pavel Fischer, embaixador tcheco na França), na Sorbonne, com professores universitários, e no Institut de France, com o mundo das artes –, mais uma noite "cultural espiritual e festiva" para os jovens, em frente à catedral de Notre-Dame.
"No mundo do ateísmo, pessoas que não querem ser evangelizadas são receptivas ao discurso sobre Deus", explica o padre Laurent Mazas, coluna romana do projeto, que indica que o projeto não se situa no âmbito da Nova Evangelização.
A psicanalista e escritora Julia Kristeva, que irá participar da mesa redonda, se reconhece nessa descrição. "Não posso evitar a questão religião. Chegou o momento desse debate, em uma Europa em via de laicização, já que cada um é consciente dos seus próprios limites. Posso discutir com o continente religioso sem medo de ser engolida".
Confronto
Julia Kristeva, o geneticista Axel Kahn e outros embaixadores dos não crentes se apresentarão na tribuna, ao lado de personalidades católicas (Jean Vanier, Jean-Luc Marion, Dominique Ponnau, Claude Danges...) para um diálogo que se imagina de alto nível, mas também sem asperezas.
Uma figura como o filósofo ateu radical Michel Onfray poderia tornar os debates mais pungentes? "Dialoguei com ele", explica o padre Mazas. "Em um primeiro momento, preferimos não ter um debate com um certo tipo de ateísmo".
Embora o representante do Pontifício Conselho para a Cultura assegure que "não exclui nada", ainda não é o momento dos confrontos muito desestabilizantes.
A ideia do Átrio dos Gentios corresponde seguramente a uma necessidade autêntica sentida pelos crentes iluminados e pelas pessoas de bom senso em busca. Bento XVI o situa ao lado do diálogo com as religiões.
O conceito lançado na ville lumière será desenvolvido no outono [europeu] em Tirana e em Estocolmo, depois, no ano seguinte, em Praga, Assis, Genebra e Québec, e, em 2013, em Marselha. Mas esse colossal desafio do diálogo dos católicos com os não crentes não poderia ser correspondido multiplicando-se as propostas modestas, interpessoais e nem sempre marcadas pelo carimbo oficial da Santa Sé?
Esse evento intelectual visa, de fato, ao prestígio. Corre o risco, assim, de interessar só de muito longe a crescente população dos não crentes comuns, que poderiam ter um diálogo com o mundo católico.
É, talvez, aquilo que irão pensar os ex-militantes daquele que foi o serviço Incroyance-Foi do episcopado francês. "Não pretendemos fazer as coisas no lugar das Igrejas locais, mas sim dar um impulso", responde o padre Mazas, consciente dos limites do evento parisiense. "Com relação aos encontros destinados às elites, a noite do dia 25 de março será realmente popular".
Por isso, os organizadores esperam que os jovens católicos convidem os seus amigos não crentes para dialogar sob as tendas montadas diante da Notre-Dame, para assistir a um espetáculo teatral (criado por Fabrice Hadjadj), para admirar uma coreografia e, fechamento da noite, ver e ouvir Bento XVI no telão gigante.
"A praça de Notre-Dame é um lugar inclusivo, convida a entrar", alegra-se o padre Patrick Jacquin, reitor da Notre-Dame. Esse entusiasmo, a maciça distribuição de panfletos nas midiatecas do Ile-de-France e a promoção na Rádio Notre-Dame e KTO servirão para atrair os não cristãos para esse encontro? A resposta, no dia 25 de março.
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''Os não crentes são gentios'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU