14 Março 2011
Físico especialista em materiais, membro do Fórum sobre os Problemas Nucleares, conselheiro do governo austríaco e diretor, em Viena, do Instituto de Pesquisa sobre a Segurança e o Risco da Universidade dos Recursos Naturais e das Ciências da Vida - BOKU, Wolfgang Kromp é muito solicitado desde que houve o terremoto do dia 11 de março no Japão. O seu pessimismo sobre o incidente dos reatores de Fukushima conforta a sensibilidade antinuclear da Áustria.
A reportagem é de Joëlle Stolz, publicada no jornal Le Monde, 15-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Os acontecimentos em curso nas centrais nucleares japonesas eram inevitáveis?
Globalmente não. Contra tais forças da natureza, a técnica humana era impotente e continuará sendo. Mas o desdobramento do acidente de Fukushima certamente teria sido menos dramático se já se houvesse renunciado a usar instalações tão velhas. Porém, até com centrais muito mais sofisticadas, era irresponsável recorrer à indústria nuclear em uma região tão exposta ao risco sísmico como o Japão. O epicentro do terremoto também poderia ter se situado nas imediatas proximidades de uma instalação nuclear, e não se pode excluir uma eventualidade dessas no futuro.
O senhor conhece situações semelhantes em outros países?
Independentemente das centrais nucleares instaladas nas costas marítimas que podem ser atingidas por sismos, como no Japão, muitas foram construídas ao longo dos rios, para poder dispôr de água para o resfriamento do combustível. Ora, os rios frequentemente seguem linhas de ruptura tectônica, que são um fator de risco sísmico. O fato de que esses perigos não foram identificados como tais pode ser explicado com os intervalos muito longos entre dois terremotos, que não deixaram rastros na memória humana.
Que lição podemos tirar da catástrofe japonesa?
Em todos os lugares em que o perigo de recorrência de terremotos é mais ou menos o mesmo que a duração de vida de uma central nuclear, não se deveria mais absolutamente construí-las, ou frear imediatamente aquelas que existem. Não há nenhuma necessidade nesses lugares de que se façam estudos custosos de avaliação: basta basear-se nas fontes que referem esses acontecimentos no passado, por exemplo as crônicas mantidas pelos religiosos. Onde essas fontes não forem disponíveis, mas onde existe a suspeita de um risco por causa da presença de linhas de fratura subterrânea, pode-se recorrer a métodos da "paleosismologia", desenvolvida nos EUA. Com a ajuda de amostras do solo próximo das linhas de fratura, que são depois datados com o carbono, é possível precisar a frequência desses acontecimentos sísmicos e assim avaliar seu risco.
No caso das centrais de Mochovce, na Eslováquia, ou de Temelin, na República Tcheca – contra as quais a opinião pública austríaca se mobilizou frequentemente por causa da sua proximidade geográfica –, não há registros históricos de sismos, e os promotores desses projetos asseguram que essas falhas subterrâneas estão "inativas". Nós pensamos que a questão merece um exame mais aprofundado. Em todo o caso, chegou o momento de reconhecer os nossos limites, de deixar de acreditar que podemos domar a natureza com a técnica. As advertências se acumulam, do naufrágio do Titanic até a catástrofe petrolífera do Golfo do México, passando por aquela da fábrica química de Bhopal, sem nos esquecermos do aquecimento climático. Um mundo mais seguro só pode ser um mundo que respeita mais a natureza e encoraja a sobriedade ao invés da satisfação de exigências materiais desmedidas.
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"É preciso deixar de acreditar que podemos domar a natureza com a técnica" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU