Aquele "mea culpa" de Wojtyla que ainda é útil para o diálogo

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28 Fevereiro 2011

"Na quaresma jubilar do ano 2000, Wojtyla marcou um ponto alto do diálogo judaico-cristão, totalmente assimétrico, preparado entre erros e intuições"

A opinião é Alberto Melloni, historiador da Igreja italiano e professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia, em artigo publicado no jornal Corriere della Sera, 27-02-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Dois aniversários próximos da vida de Karol Wojtyla – o do "mea culpa" pronunciado no dia 12 de março de 2000 em São Pedro e, pouco depois, a entrega, no Muro das Lamentações, do folheto com esse texto – poderiam fornecer os conteúdos ideais para as Igrejas que estão ordenando monumentos a serem inaugurados em maio.

Quem quisesse verdadeiramente "prender" João Paulo II por aquilo que ele foi não deveria colocar sobre os altares estátuas de bronze deselegantes, pinturas feias, arrogâncias inexpressivas do "conhecido artista", mas sim vídeo-ícones: e, como Bill Viola, dilatar em horas os poucos segundos de um gesto que, de 1978 em diante, é quase o único magistério do Papa capaz de falar.

Na quaresma jubilar do ano 2000, de fato, Wojtyla marcou um ponto alto do diálogo judaico-cristão: diálogo totalmente assimétrico, já que Israel não tem necessidade de dizer o que é a Igreja, enquanto a Igreja tem a necessidade de dizer o que é Israel. Um ponto preparado entre erros, entre intuições: como a de acrescentar um inciso ("repito: por qualquer um") ao discurso na sinagoga de Roma em 1986, para destacar como a tomada de distância conciliar do antissemitismo praticado "em todo o lugar e por qualquer um" não admitia reservas. E que culminou na quarta oração proferida em São Pedro, naquele 12 de março, domingo do perdão, e entregue ao Muro ocidental.

"Na recordação dos sofrimentos sofridos pelo povo de Israel na história", reconhecia os pecados cometidos "por não poucos" contra "o povo da aliança e das bençãos": e confessava a Deus a profunda dor "pelo comportamento daqueles que, no curso da história, fizeram esses teus filhos sofrerem", empenhando-se "em uma autêntica fraternidade com o povo da aliança".

Levar essas palavras a Jerusalém queria dizer verdadeiramente subir à morada de Deus para um ato de humilde desafio a si mesmos, submeter-se a uma prova que não admitia equívocos. E que mereceria ser lembrado por um vídeo-altar em uma igreja católica. Não para celebrar "resultados", que não existem: compreender-se não é uma coisa e não se transmite. Mas para lembrar que o diálogo assimétrico com Israel se faz assim (uma demonstração disso é a cúpula judaico-cristã de hoje em Paris): com o tremor de quem sabe que tem que caminhar em direção a um muro, para encontrar espaço no muro que se ergue dentro de cada um no mudo fragor da indiferença.