15 Fevereiro 2011
Um matrimônio entre “marido e marido” ou entre “mulher e mulher”, poderá ser celebrado em igreja na Inglaterra de 2011. O trabalhista Tony Blair havia preparado a virada introduzindo há sete anos as “uniões civis” entre casais do mesmo sexo, que davam aos homossexuais os mesmos direitos dos heterossexuais casados, em matéria de herança, aposentadoria e status social. Mas agora, no quadro de uma ulterior reforma proposta pelo conservador David Cameron, os casais gays poderão ser unidos por um verdadeiro e próprio matrimônio religioso, subindo ao altar, se o desejarem, exatamente como os casais hetero.
A reportagem é de Enrico Franceschini e publicada pelo jornal La Repubblica, 14-02-2011. A tradução é de Benno Dischinger.
É o fim do último tabu numa sociedade que deu passos gigantescos desde quando, no século dezenove, Oscar Wilde foi processado e lançado numa prisão de Londres por homossexualidade. A reforma se articula em dois planos. De um lado, os gays adquiriram o direito legal de chamar “marido”, no caso dos casais homossexuais, e “mulher”, no caso dos casais lésbicos, o parceiro [ou parceira] com o qual firmam um acordo de “união civil”. De outro lado, aquela união não será mais necessariamente “civil”. Cairá, de fato, a proibição de usar textos bíblicos e referências religiosas para a cerimônia e o fatídico sim entre gays poderá ser pronunciado não só em sede municipal, como é atualmente obrigatório, e sim em qualquer lugar incluindo os lugares de culto, igrejas, sinagogas, mesquitas.
Naturalmente, para que isso ocorra, é preciso que o lugar de culto esteja de acordo. A Igreja anglicana, bem como a católica da Inglaterra, até agora se opôs formalmente a uniões religiosas entre gays e mesmo os rabinos e as autoridades islâmicas davam o seu veto. Mas, algo está mudando também em tal âmbito. A ala liberal da igreja anglicana pressiona há tempo para permitir aos próprios fiéis celebrarem um matrimônio gay na igreja. Outras confissões protestantes presentes no Reino Unido, como os Quackers e os Unitários, solicitam expressamente poder fazê-lo. E análoga é a posição dos judeus reformistas.
O projeto será apresentado nesta semana pelo ministro da Paridade, Lynne Featherstone, segundo indiscrições noticiadas ontem em primeira página pelo Sunday Times. Legalizar os matrimônios gays, e oferecer-lhes a possibilidade de um ambiente religioso, é um cavalo de batalha dos liberais-democratas, parceiros dos conservadores no governo conduzido por Cameron, mas o próprio premier e outros expoentes dos Tory se declararam, faz tempo, a favor da iniciativa.
Na Grã-Bretanha até agora 26 mil casais gay se “casaram” com o pacto de união civil, mas se prevê que haverá muitos outros, uma vez aprovada a lei sobre os matrimônios entre homossexuais. “Convivo com o homem que amo há 17 anos e agora também temos um filho (de uma mãe sub-rogada, ndr), mas não podemos casar-nos legalmente, o que é ridículo”, comenta o cantor Elton John. Recentemente, um casal gay viu ser-lhes recusada uma sala matrimonial por um hotel inglês: acionaram o proprietário e o juiz lhes deu razão, condenando o hotel ao pagamento dos danos.
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Cai um tabu. Casamento de gays também na Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU