09 Fevereiro 2011
A Igreja de San Miguel de Sucumbíos lamenta a "triste" saída de seu bispo emérito após várias décadas de ministério.
A reportagem é de Juan Luis Celada e está publicada na revista espanhola Vida Nueva, na edição de 05-11-2010. A tradução é do Cepat.
Recentemente, a Igreja equatoriana acolhia alegre o anúncio de que um dos 24 novos cardeais que receberiam o chapéu cardinalício das mãos de Bento XVI, no Consistório de 20 de novembro, seria o arcebispo emérito de Quito, Raúl Eduardo Vela Chiriboga. Apenas dois dias depois, seu sucessor na arquidiocese da capital, o franciscano Fausto Gabriel Trávez Trávez, tomava posse em uma solene celebração eucarística com a qual, por sua vez, se concluía a Assembleia Plenária que, durante vários dias, reuniu o Episcopado do país. Um encontro em que os bispos reiteraram seu chamamento à "reconciliação e ao diálogo" após os episódios políticos vividos há pouco mais de um mês.
Sua mensagem, no entanto, não parece ter ecoado no interior da própria Igreja. Porque, enquanto tudo isso estava acontecendo, no Vicariato Apostólico de San Miguel de Sucumbíos, na fronteira com a Colômbia, estava para acontecer a demissão episcopal daquele que, desde 1984, era seu pastor, o frei carmelita descalço Gonzalo López Marañón. Uma sucessão que, segundo o teor do manifesto divulgado pela Igreja local, se deu com modos que contradizem este espírito, que "doem e questionam o ser da Igreja como Mãe";
Em outubro de 2008, o prelado apresentou sua renúncia ao Papa ao completar a idade canônica para isso. "Durante este tempo – denunciam os fiéis – houve um silêncio total, não houve aproximação nem acompanhamento, nem palavras por parte das autoridades competentes, solicitando-lhe que continuasse acompanhando a Igreja enquanto se processava a sua sucessão."
Até que, em 24 de outubro passado [2010], o Núncio no país comunicou ao bispo Gonzalo que Bento XVI aceitou sua renúncia e que havia nomeado como administrador apostólico do Vicariato o Pe. Rafael Ramón Ibarguren, argentino, membro da sociedade clerical Virgo Flos Carmeli e assistente espiritual do Colégio Arautos do Evangelho Internacional de Assunção (Paraguai). Mas havia mais. O próprio representante papal lhe entregou uma carta do cardeal Iván Días, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, pedindo ao bispo demissionário que abandonasse o Vicariato dentro de uma semana e convidando-o para retornar ao seu país de origem, a Espanha.
"É muito triste que por parte da Igreja da qual somos parte, o nosso bispo que é o símbolo da Igreja Comunidade, depois de 40 anos dando a sua vida nestas terras, e ao final de seu ministério episcopal, receba este tratamento, rompendo assim a tradição evangélica, que convida à correção oportuna e fraterna (Mt 18, 15ss)", diz o manifesto.
Por isso, e ainda que esperem "em atitude de confiança" o sucessor daquele que "tem sido um sinal de vida no meio desta parte da Amazônia equatoriana", não podem ignorar situações que foram se produzindo nos últimos anos ("O fato de que o Núncio Apostólico nunca tenha nos visitado, apesar dos diversos convites que lhe foram feitos. O fato de que se tenha passado por alto a história e a trajetória de uma Igreja participativa, comunitária e ministerial, constituída segundo o espírito do Concílio Vaticano II e do Magistério da Igreja da América Latina") e que desembocam nos episódios que agora denunciam "com firmeza, mas com paz".
Saída "depreciativa"
Comunidades, ministérios, agentes de pastoral, equipes missionárias, religiosos, religiosas, sacerdotes e todo o povo de Deus em San Miguel de Sucumbíos sentem "com profunda dor e tristeza a forma como se deram os fatos e a maneira tão depreciativa com que se despediu o nosso querido amigo e irmão Gonzalo". Assim mesmo, criticam "o fato de que a posse [do administrador apostólico] se converta em um ato privado e formal sem a participação do próprio povo de Deus que está sustentando esta Igreja".
Apesar de suas reivindicações, os que apoiaram este pronunciamento expressam seu desejo de "seguir caminhando em fidelidade criativa como povo de Deus gerando e trabalhando pela Vida" em Sucumbíos, e de cultivar "a nossa tradicional atitude de acolhida (...) em especial aqueles que se integram neste momento à nossa Igreja juntamente com o novo Administrador Apostólico".
Enquanto isso, ao mesmo tempo em que seguem sonhando em "viver integradamente a experiência de discípulas e discípulos e missionárias e missionários de Jesus" em resposta ao convite de Aparecida, agradecem a Deus a oportunidade que lhes deu de "viver nestes 40 anos a experiência de Igreja das primeiras comunidades cristãs (At 2, 42-47)".
Quem é o administrador apostólico nomeado por Bento XVI para San Miguel de Sucumbíos, Equador? (1)
O Pe. Rafael Ibarguren Schindler, EP, (foto) nasceu em 26 de Junho de 1952 em Buenos Aires, Argentina. Foi ordenado diácono em 8 de Dezembro de 2004 em Avezzano, Itália e sacerdote em 15 de Junho de 2005 na Basílica do Carmo em São Paulo, Brasil. Pertence a Sociedade Clerical de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli.
Realizou seus estudos de filosofia e teologia em São Paulo, Brasil e obteve a licenciatura canónica em Teologia Moral com ênfase em Doutrina Social da Igreja na Universidade Pontifícia Bolivariana de Medellín, Colômbia.
Durante o seu ministério sacerdotal, o Pe. Rafael Ramón Ibarguren Schindler, ocupou os seguintes cargos pastorais:
Desde 2005: Presidente da Irmandade Centro-americana dos Arautos do Evangelho, com sede em San José de Costa Rica.
2001-2007: Responsável local dos Arautos do Evangelho e coordenador da pastoral da Arquidiocese de Manágua, Nicarágua. Capelão do Colégio Pureza de Maria de Manágua. Membro do Conselho Consultivo do Hospital da Mulher Bertha Calderón de Manágua. Responsável pela animação de retiros e palestras para os jovens na Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica.
2002-2008: Colaborador regular da página de opinião do periódico La Prensa, Nicarágua.
2007-2009: Assistente espiritual da Associação Salvai-me Rainha de Fátima (Espanha).
Desde 2009: Conselheiro da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja – Associação de Fiéis de Direito Pontifício e administrador paroquial da Paróquia de Archicollar, Camarenilla em Toledo – Espanha.
Desde 2010: Capelão e assistente espiritual do Colégio Arautos do Evangelho Internacional de Assunção, Paraguay.
Nota:
1.- Fonte: Arautos do Evangelho em Joinville. A foto é do sítio Arautos do Evangelho. Associação Internacional de Direito Pontifício.
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Polêmica saída episcopal no Equador. Arautos do Evangelho substituem Carmelitas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU