Bento XVI em Assis. Os zelosos e desrespeitosos católicos que procuram influenciar o Papa

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13 Janeiro 2011

Um abaixo-assinado, escrito por alguns "zelosos católicos italianos" denuncia a Bento XVI o horror sincrético da oração de Assis, em 1986, o incremento dado por ela ao relativismo e a vantagem concedida aos católicos que, na opinião dos autores, não reconheceriam em Jesus Cristo o Salvador.

A opinião é Alberto Melloni, historiador da Igreja italiano e professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia, em artigo publicado no jornal Corriere della Sera, 12-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

A obediência sobrenatural devida ao Papa pode ser ofendida tanto com a explícita rebelião ao seu ministério de unidade, quanto com aquele zelo untuoso e cortesão que procura se apossar de algum pedacinho do seu magistério para bater naqueles que pensam diferente. Quando esta última tendência se faz levar pela mão, torna-se adulação intimidatória, uma chantagem laudativa.

Como ocorre na carta aberta publicada neste terça-feira pelo jornal Il Foglio, com a qual se pede que Bento XVI não compareça ao encontro dos chefes das Igrejas cristãs com os líderes das religiões mundiais que ele mesmo anunciou há poucos dias. O apelo, assinado por alguns zelosos católicos italianos, se delonga para explicar a Ratzinger o horror sincrético da oração de 1986, o incremento dado por ela ao relativismo e a vantagem concedida aos católicos que, na opinião dos autores, não reconheceriam em Jesus Cristo o Salvador.

Eles explicam ao Pontífice que o evento de Assis escondia uma "communicatio in sacris" e fazem do ato do beatificando Wojtyla um exemplo de escola de uma recepção aumentativa do Vaticano II e da Nostra ætate, uma insensatez ou herética ou estúpida.

Não por último, os signatários lembram ao Pontífice de hoje que quem marcou alguma distinção foi o então cardeal Ratzinger: e assim continuam um jogo já visto e desagradável, que reduz afirmações e finezas do teólogo alemão a um consenso tardio às "razões" dos incontestáveis tradicionalistas.

Essa intimidação tentativa, talvez não isenta de algum apoio interno nas congregações da Cúria, tem objetivos claros. Não a podendo impedir, visa a tornar mínima, em termos quantitativos e qualitativos, a presença de Bento XVI em Assis. Espera obter uma afirmação do discurso papal, a ser usado "ad nauseam" como uma sanção contra aqueles que detestam, não no vasto mundo da busca de Deus, da qual Abraão, o nômade hospitaleiro, é o ícone, mas sim dentro da Igreja Católica.

Medida audaz e equivocada: quem a entregou ou inspirou deve hoje esperar que aquele apelo ameaçador não chegue ao Papa. Basta conhecer um pouco da vida, da parábola teológica, da personalidade intelectual de Joseph Ratzinger para saber que nenhum conformismo jamais lhe prendeu as mãos: por que deveria conseguir desta vez?