09 Setembro 2007
“Adorno: Ideologia, cultura de massa e crise da subjetividade” foi o tema abordado pelo professor Francisco Fianco durante o IV Colóquio Nacional de Filosofia da História, que aconteceu de 27 a 29 de agosto de 2007, na Unisinos. Sobre o tema, a IHU On-Line conversou, por e-mail, como o professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Fianco analisa a Indústria Cultural pensada por Adorno, relaciona-o com Horkheimer, Benjamin, Kierkegaard e Nietzsche e, ainda, disserta sobre a presença da Dialética Negativa na contemporaneidade. “As pessoas desaprendem a viver as suas próprias experiências porque a televisão já lhes traz experiências de vida suficiente, e de repente a vida real se torna menos atraente porque não tem cortes ou trilha sonora. De repente, o mundo não é mais o que eu vejo pela minha janela; o mundo de verdade é o que a televisão me mostra”, observa Fianco.
Luís Francisco Fianco Dias é graduado e mestre em Filosofia pela Unisinos. Seu doutorado, realizado pela UFMG, tem como tema “Nietzsche e a Indústria Cultural: ressonâncias do pensamento nietzscheano na teoria do esclarecimento como mistificação das massas e empobrecimento da vida”.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Para Adorno, o homem, na Indústria Cultural, não passa de mero instrumento de trabalho e de consumo. Sendo o homem o objeto, ele é, atualmente, ainda manipulado e ideologizado de forma que até mesmo o seu lazer, por exemplo, se torna uma extensão do trabalho?
Francisco Fianco - Exatamente. Um dos fenômenos descritos por Adorno é o da mercantilização do lazer, juntamente com um tipo de demonização do tempo livre, do ócio. O lazer na sociedade de consumo não deve, por um lado, ter relação nenhuma direta com a atividade produtiva, pois ele deve servir de momento restaurador de forças ao trabalhador, para que ele encare mais tranqüilamente o seu tempo de trabalho. Ainda assim, tal lazer não pode estar totalmente desvinculado do processo econômico, de maneira que, se ele não faz parte da cadeia produtiva, deve encaixar-se na esfera do consumo. Dessa maneira, descansar ou divertir-se é uma atividade que vai cada vez mais se aliando ao ato de consumir. Basta atentarmos aos locais de lazer contemporâneos, como os shoppings centers, destino indiscutível de milhares de pessoas no seu tempo livre e que são, sabidamente, templos de consumo. Quer seja para comprar um item supérfluo ou desnecessário, quer seja para ir ao cinema, assistir ao último lançamento de sucesso efêmero e fugaz, as pessoas nunca deixam de pagar pelo seu entretenimento.
As tendências de lazer que surgem alheias a esse processo, como as atividades ao ar livre ou os esportes, são imediatamente captadas pela propaganda que transforma seus itens básicos em objetos de desejo e estampam suas marcas para incentivar o consumo, transformando a atividade do camping, para usar um exemplo de Adorno, na indústria do camping, que faz as pessoas crerem que todos os itens que oferecem, de sapatos especiais a talheres de plástico, são estritamente necessários. Assim, as pessoas se concentram mais nas coisas que têm do que na atividade que realizam ou na companhia da qual poderiam desfrutar. O tempo livre, o ócio que foi cultuado pelas civilizações clássicas como momento de reflexão e construção de saber, que tirava o homem da necessidade preemente de luta pela vida, foi transformado na sociedade capitalista em um desperdício de tempo. O conjunto de valores divulgado pela ideologia de consumo faz com que a inatividade seja acompanhada de culpa, pois não estamos nem produzindo nem consumindo, ou seja, não estamos fazendo parte do processo econômico e isso não é interessante para a sociedade de consumo. As pessoas de hoje são tão vazias, tão desacostumadas a estarem sós com seus pensamentos, que o que poderia ser uma oportunidade de pensar sobre si mesmo e seu papel no mundo é acompanhado de um profundo mal-estar. Para afastá-lo nos valemos de qualquer subterfúgio que não demande atenção ou atividade intelectual, como a televisão, por exemplo. Todos conhecem o sentimento de tédio dos domingos à tarde.
IHU On-Line - Adorno e Horkheimer entendiam a comunicação de massa como meio de difusão das ideologias. A Indústria Cultural, para o senhor, gera a ideologia do consumismo?
Francisco Fianco - Mais do que qualquer outro aspecto da sociedade contemporânea, os meios de comunicação são o principal meio de veiculação da ideologia consumista. São eles os responsáveis pela criação artificial de necessidades supérfluas e do desejo de consumir. A propaganda sabe que só o que é visto é cobiçado e desejado, e se encarrega de mostrar suas ofertas repetidamente, até que as pessoas se convençam de que precisam do produto oferecido. Junto a isso, a propaganda explora as carências afetivas das pessoas, através de um mecanismo psicológico de projeção, que faz com que uma determinada imagem seja vinculada ao produto, de maneira que o consumidor não compra o objeto, e sim a imagem que ele passa, a promessa que ele faz. Isto é muito nocivo, pois, imediatamente depois de consumir, a pessoa percebe que aquele objeto não a transforma em alguém melhor ou mais feliz, e precisa imediatamente procurar algum outro objeto de consumo que lhe permita preencher essa lacuna, que é, no fundo, uma lacuna existencial, impossível de ser sanada definitivamente por uma mercadoria, por mais cara que seja.
IHU On-Line - É possível fazer uma relação da crise da subjetividade e da modernidade com a crise da psicanálise?
Francisco Fianco - Sim, se considerarmos todas essas crises diretamente interligadas. As considerações frankfurtianas (1) a respeito da modernidade são oriundas tanto da teoria marxista quanto da psicanálise, principalmente a respeito dos fenômenos psicológicos coletivos, o que aproxima a análise sociológica da psicologia social. Adorno se vale de Freud (2) em alguns momentos, especialmente para caracterizar o fundo psicológico por trás dos mecanismos de consumo e da dominação ideológica, embora critique a psicanálise quanto ao conceito de sublimação como motor da criação artística. Ao analisar a sociedade e os indivíduos, em suas crises e mecanismos de funcionamento, a partir das considerações psicológicas de Freud, Adorno faz notar a imbricação estreita entre todos esses aspectos.
Talvez uma das distinções que possamos fazer seja a de que a teoria psicanalítica em seu surgimento, em uma sociedade burguesa e patriarcal, analise o principal sintoma que surgiu dessa estrutura, a histeria, ou seja, a paralisação das pessoas em função da rigidez moral da sociedade em que vivem. Essa não é mais a nossa sociedade, as barreiras morais tombaram, dando espaço à ação, ainda que não-reflexiva, de maneira que a principal característica psicológica da sociedade atual seja o comportamento maníaco. O consumo, a busca desesperada por prazer imediato, a pressa incontrolável, são todas tendências maníacas da nossa sociedade e da nossa subjetividade, que, não conseguindo manter tal ritmo incessantemente, está sujeita ao transtorno da bipolaridade, que joga o indivíduo impiedosamente na depressão, uma patologia que nunca foi tão popularizada quanto atualmente.
IHU On-Line - Quais são as contribuições que Adorno e Benjamin oferecem para entender as culturas contemporâneas?
Francisco Fianco - Ambos são críticos pontuais e atentos da modernidade, e, ainda que Adorno fale da Odisséia (3) e Benjamin (4) do Teatro Barroco (5), é através de uma oposição ao seu tempo que eles analisam esses fenômenos culturais do passado. Adorno, como sabemos, analisa, juntamente com Horkheimer (6), o Esclarecimento como um novo tipo de mitologia, um tipo de fé na ciência e na razão que se assemelha ao fanatismo ou ao fetichismo das sociedades teocráticas e primitivas. Benjamin vai apontar para o vazio de sentido do mundo moderno, ao descrever a melancolia barroca como sendo o sentimento predominante em um mundo sem sentido, o que é definitivamente atual. Adorno, posteriormente, vai chamar a atenção para o fato de que o mundo não ficou desprovido de sentido ou vazio, e sim pelo contrário: o mundo hoje, mundo administrado, tem cada um de seus aspectos explicado e encaixado como engrenagens de um grande mecanismo que é o todo social, no qual a lógica de consumo criou um conjunto de valores que dá conta de cada aspecto da existência humana. Não vejo essas duas interpretações como auto-excludentes, e sim como duas faces da mesma moeda, dois estágios da bipolaridade da nossa sociedade sobre a qual falávamos anteriormente.
A sociedade atual é plena de sentido se considerarmos o consumo e a produção um sentido para a existência e que impelem ao comportamento maníaco. Claro que tal sentido não é autêntico, e sim uma produção artificial, sustentada pela propaganda e pela Indústria Cultural, tornando a realização de tal demanda uma satisfação substitutiva das reais necessidades existências humanas. Por outro lado, o mundo se esvazia de sentido se o sujeito se dá conta dessa artificialidade de sua existência, da contingência de seus valores e da insignificância de suas realizações materiais, uma vez que ele perceba que é apenas um consumidor, apenas uma engrenagem plenamente substituível dessa grande máquina. Benjamin vai analisar também as modificações da sensibilidade subjetiva por ocasião dos novos meios de comunicação, bem como a democratização do acesso à cultura em virtude do desenvolvimento dos meios de reprodutibilidade das obras de arte, como a fotografia e o cinema.
Adorno observará, posteriormente, que o que ocorreu não foi uma democratização, não foi uma facilitação, e sim uma midiatização, o que a Indústria Cultural levou até as últimas conseqüências. Isso quer dizer que as novas tecnologias se tornaram um entreposto que separa o sujeito da experiência do mundo, de maneira que a nova sensibilidade subjetiva se vê impotente frente a um contato direto com a experiência verdadeira. As pessoas desaprendem a viver as suas próprias experiências porque a televisão já lhes traz experiências de vida suficiente, e, de repente, a vida real se torna menos atraente porque não tem cortes ou trilha sonora. De repente, o mundo não é mais o que eu vejo pela minha janela; o mundo de verdade é o que a televisão me mostra.
IHU On-Line - A Dialética Negativa de Adorno tem um motivo pessoal, histórico. Ao mesmo tempo em que o nazismo ganhava cada vez mais força e Stalin transfomava o sistema numa “câmera de horrores”, Adorno tinha uma predileção pelo marxismo. Podemos entender os problemas atuais no mundo através da Dialética Negativa?
Francisco Fianco - Se pudéssemos entender todas as problemáticas atuais, todas as crises políticas, os conflitos armados, à luz da Dialética Negativa, entenderíamos estas dificuldades como uma característica da estruturação histórica do sujeito ocidental, que sempre considerou o diferente como ameaçador. Isso se baseia no processo dialético tradicional, de origem platônica e, mais recente na história, hegeliana (7), que dava a primazia ao sujeito, numa evidente estruturação racionalista, e que tinha por método sempre chegar à verdade por meio de uma construção linear de argumentos. O problema de tal atitude é que a alteridade, o objeto, vai sendo descartado como inválido e errado, e tende a ser corrigido por meio da sua transformação em sujeito. Isso, a grosso modo, é claro.
A Dialética Negativa quer justamente impedir esse processo de dominação do objeto pelo sujeito, instituindo aquilo que Adorno chamou de primazia do objeto, ou seja, esta dialética é negativa porque não se encerra nunca, nunca chega ao momento de dizer que agora obtém a verdade e que pode descartar o que é inverdade. Isso mantém a possibilidade de autocrítica constante, e pode servir de freio a atitudes autoritárias. Tanto o nacional-socialismo de Hitler (8) quanto o totalitarismo soviético de Stalin (9) são procedimentos instaurados por um sujeito, o nazista, o ariano, o alemão, ou o camarada, que se julga o detentor da verdade e que com ela se autoriza a agir sobre os objetos, sobre a alteridade, sobre aqueles que são diferentes, quer sejam os judeus, os ciganos ou os ucranianos. Isso já seria problemático como fenômeno isolado, e se torna ainda mais terrível se percebermos que é um procedimento padrão da nossa subjetividade, o medo e o ódio do diferente, de maneira que essa mesma argumentação é o que justificou todos os extermínios coletivos da história da humanidade.
E ainda mais terrível é perceber que tal procedimento é realizado não apenas por nós quanto pelas honradas e piedosas pessoas que nos cercam, pois é um procedimento natural da subjetividade ocidental, que só teve nesses acontecimentos terríveis de genocídio a sua exacerbação, a sua aplicação ao exercício da morte. Em termos hegelianos, é o processo através dos quais os indesejáveis são suprassumidos. A necessidade de uma Dialética Negativa é a necessidade de uma nova subjetividade, que, através da primazia do objeto, da primazia da alteridade, não se arrogue a posse da verdade, e que, portanto, esteja sempre aberta ao diálogo, podendo considerar essa alteridade como algo apenas diferente, mas não necessariamente inferior ou ameaçador.
IHU On-Line - É possível transcender os modelos críticos de Adorno, pensando na política atual, e chegar ao modelo crítico de Nietzsche, ou suas filosofias sempre serão opostas?
Francisco Fianco - As filosofias de Adorno e Nietzsche (10) são opostas apenas em alguns aspectos, como nas propostas políticas ou em algumas considerações sobre arte. A crítica de ambos à sociedade em que viveram foi de mesmo teor e é extensível à nossa sociedade também. Em termos políticos, obviamente, a posição de ambos será díspar. Nietzsche é um filósofo que poderíamos chamar de pré-socrático. Seus escritos de juventude apontam para uma estruturação social e política, até mesmo subjetiva, que tem como modelo a Grécia Antiga, anterior ainda ao racionalismo socrático que ele acusa como precursor da moralidade cristã. As sociedades modernas, de cunho liberal, têm suas bases em valores morais que, mesmo em uma sociedade laica, provêm indisfarçavelmente da ética cristã que dominou o mundo nos dois últimos milênios, como a compaixão, a liberdade individual, a igualdade de todos e o altruísmo, por exemplo.
Além da hipocrisia factual que é defender tais valores em um mundo como o nosso, Nietzsche aponta que o seu modelo de ser humano e de sociedade não compactua com tais valores, razão pelas quais suas considerações políticas tendem à defesa de uma aristocracia guerreira que soa aos ouvidos modernos como loucura ou disparate, até mesmo como fascismo, como quiseram interpretar alguns, quando na verdade é apenas megalomania. Com o perdão da ironia, o que Nietzsche propunha em termos de política poderia ser interpretado como uma tentativa de pensar a civilização ocidental sem o cristianismo e seus valores, em tentar imaginar como seríamos hoje se esses preconceitos morais não fizessem parte de nossa subjetividade. Isso pode ser realizado como exercício teórico, mas seria factualmente improvável, seria como tentar fazer com que uma pessoa alfabetizada voltasse a enxergar o mundo como analfabeto. Adorno segue o mesmo trilho do ponto de vista crítico, o de apontar como há algo de perigoso na estruturação psicológica do sujeito ocidental desde a sua gênese, mas como suas críticas ainda levam em conta os valores básicos que sustentam a civilização ocidental, suas considerações e as possibilidades de ação que podemos intuir a partir delas, uma vez que Adorno não tenha nos legado um projeto político, nos parecem mais plausíveis, ou menos chocantes. Portanto, não vejo como antagônicos os modelos críticos de ambos. Vejo apenas que a teorização adorniana é mais contextualizada à nossa realidade do que a de Nietzsche, que mesmo assim acertou na grande maioria dos alvos com sua metralhadora crítica giratória.
IHU On-Line - Como o senhor atualizaria a crítica à Indústria Cultural feita por Adorno, com o advento de tecnologias avançadas de produção e processamento de cultura?
Francisco Fianco - Alguns pensadores viram na Internet surgir uma possibilidade de quebra de paradigma em termos de comunicação em massa. Passaríamos de uma passividade, sustentada por décadas de rádio e televisão, a uma atividade de construção cultural. Hoje vemos que, apesar da possibilidade, as pessoas não têm interesse pela produção cultural, a despeito da facilidade disponibilizada por esses meios. Isso porque sua subjetividade está tão esvaziada que impossibilita uma escolha crítica de suas atividades, preferindo seguir sempre a corrente dominante, ou, em outras palavras, a moda. Somado a isso, a oferta de atividades favorece pouco a cultura, pois na maioria das vezes em que há escolha, as opções ficam entre o produto cultural massificado e insosso A e o produto cultural massificado e insosso B.
Obviamente, muitas pessoas utilizam a Internet para comunicação, pesquisa e produção cultural séria, mas são uma parcela ínfima comparada à abundância de besteiras e propagandas. O recente fenômeno dos blogs poderia servir de exemplo. Eles terminam por ser todos iguais, pois as pessoas são produzidas em massa, e devido a sua vacuidade subjetiva, geralmente não têm nada a dizer. É realmente uma lástima que uma ferramenta de comunicação com tanto potencial seja utilizada tão largamente para produção de superfluidades. Mas o mesmo aconteceu com a televisão. Tenho a impressão de que pouca coisa muda, em termos de possibilidade de acesso à cultura, em comparação dos meios de comunicação em massa clássicos e as inovações atuais, a não ser o fenômeno da tecnologização, que faz com que a relação impessoal e fria do homem com a máquina seja estendida cada vez mais à relação do homem com outros homens. Talvez o desenvolvimento tecnológico tenha trazido muitos benefícios para a vida cotidiana dos seres humanos, mas, acima de tudo, ele transformou essa vida cotidiana em uma relação maquinal do sujeito com os que o cercam e consigo mesmo.
IHU On-Line - Para o senhor, o que há de Kierkegaard em Adorno?
Francisco Fianco - Adorno escreveu uma tese sobre Kierkegaard (11), abordando especificamente o conceito de alienação, que seria crucial para os posteriores desenvolvimentos de sua filosofia. A principal contribuição desse texto para a posterior produção adorniana é que ele lança as bases para a conceitualização da alienação na sociedade contemporânea, conceito que só atingirá a maturidade dentro da filosofia adorniana em obras posteriores, como as reflexões sobre a música, e nas quais já se nota uma influência maior das considerações de Marx sobre esse mesmo conceito. O fenômeno de alienação é, inicialmente, um estranhamento, um afastamento entre a produção cultural e a sociedade, de modo que essa não se reconheça mais naquela. As obras de arte não-autênticas, por sua vez, apesar de sua proximidade com a sociedade, demonstram que a relação entre cultura e sociedade não é mais estética, e sim comercial. Pode-se descrever assim, portanto, o processo resultante da alienação, que é a coisificação do bem cultural, pois é a capacidade de compra e venda de produção, reprodução e consumo o que fundamenta em último grau a existência pálida e fugaz dessas obras. O movimento circular da alienação à coisificação demonstra que, para além do afastamento propiciado por aquela, ocorre o empobrecimento e enfraquecimento de uma produção humana que termina sendo depravada de sua dignidade intrínseca, que vai sendo rebaixada de produção espiritual a mercadoria barata e sem importância, o que a afasta ainda mais da sociedade, perfazendo o círculo vicioso e incessante entre alienação e coisificação, que é, em suma, o processo de transformação das subjetividades humanas e suas manifestações em, respectivamente, consumidores e bens de consumo.
Notas:
(1) Acredita-se que as considerações frankfurtianas são base para qualquer estudo sobre bens culturais enquanto mercadorias, principalmente no que diz respeito a uma cultura que tem em sua essência uma mensagem política.
(2) Sigmund Freud foi um médico neurologista e psiquiatra judeu-austríaco, fundador da Psicanálise. Interessou-se inicialmente pela histeria e, tendo como método a hipnose, estudou pessoas que apresentavam esse quadro. Mais tarde, com interesses pelo inconsciente e pulsões, entre outros, foi influenciado por Charcot e Leibniz, abandonando a hipnose em favor da associação livre. Estes elementos tornaram-se bases da Psicanálise. Seus conceitos de inconsciente, desejos inconscientes e repressão foram revolucionários; propõem uma mente dividida em camadas ou níveis, dominada em certa medida por vontades primitivas que estão escondidas sob a consciência e que se manifestam nos lapsos e nos sonhos. Em sua obra mais conhecida, A interpretação dos sonhos, Freud explica o argumento para postular o novo modelo do inconsciente e desenvolve um método para conseguir o acesso ao mesmo, tomando elementos de suas experiências prévias com as técnicas de hipnose.
(3) Odisséia é um poema de nostos (que significa nostalgia) em 24 cantos atribuído a Homero. O livro segue os eventos da viagem do rei Odisseu, de Ítaca, que voltava da guerra de Tróia.
(4) Walter Benjamin foi um crítico literário e ensaísta alemão. Nos últimos anos da década de 1920, o filósofo judeu interessa-se pelo marxismo, e juntamente com o seu companheiro de então, Theodor Adorno, aproxima-se da filosofia de Georg Lukács. Foi refugiado judeu alemão e, diante da perspectiva de ser capturado pelos nazistas, acabou por se suicidar.
(5) O Teatro Barroco foi significativo durante o século XVII. Chamado de a arte da contra-reforma, o barroco é, ao mesmo tempo, uma reação ao materialismo renascentista e às idéias reformistas de Lutero e Calvino e um retorno à tradição cristã. A princípio sóbrio e depurado, torna-se, com o tempo, rebuscado, com abundância de metáforas.
(6) Max Horkheimer foi um filósofo e sociólogo alemão. Como grande parte dos intelectuais da Escola de Frankfurt, era judeu de origem. Por intermédio de seu amigo Friedrich Pollock, Horkheimer associou-se em 1923 à criação do Instituto para a Pesquisa Social, do qual foi diretor, em 1931 sucedendo o historiador austríaco Carl Grünberg. Teve como importante fonte de inspiração o filósofo alemão Schopenhauer. Suas formulações, sobretudo aquelas acerca da Razão Instrumental, junto com as teorias de Adorno e Marcuse, compõem o núcleo fundamental daquilo que se conhece como Escola de Frankfurt.
(7) O filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel recebeu sua formação no "Tübinger Stift" (seminário da Igreja Protestante em Württemberg), onde manteve amizade com o futuro filósofo Friedrich Schelling. Muitos consideram que Hegel representa o cume do movimento alemão, no que se refere ao idealismo filosófico do século XIX, e que devido a ele houve um impacto profundo no materialismo histórico de Karl Marx.
(8) Adolf Hitler foi o líder do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (também conhecido por Nazi), chanceler e ditador alemão. As suas teses racistas e anti-semitas e os seus objetivos para a Alemanha ficaram evidentes no seu livro de Mein Kampf (Minha luta, de 1924). No período da sua ditadura, os judeus e outros grupos minoritários considerados "indesejados", como Testemunhas de Jeová, eslavos, ciganos, negros, homossexuais, deficientes físicos e mentais, foram perseguidos e exterminados no que foi chamado de Holocausto. Hitler foi derrotado apenas pela intervenção externa dos países aliados no prosseguimento da Segunda Guerra Mundial, que acarretou a morte de um total estimado em 50 ou 60 milhões de pessoas.
(9) Josef Stalin foi o líder máximo da URSS de 1924 até 1953, período designado por stalinismo. Passou anos na prisão e, quando libertado, aliou-se a Vladimir Lenin e camaradas, que planejavam a Revolução Russa. Em novembro de 1922, tornou-se o Secretário-Geral do Comitê Central, um cargo que lhe deu bases para ascender aos mais altos poderes. Após a morte de Lenin, em 1924, tornou-se a figura dominante da política soviética - embora Lenin o considerasse apto para um cargo de comando, ele ignorava a astúcia de Stalin, cujo talento quase inigualável para as alianças políticas lhe rendera tantos aliados quanto inimigos.
(10) Friedrich Nietzsche é um filósofo alemão, conhecido por seus conceitos além-do-homem, transvaloração dos valores, niilismo, vontade de poder e eterno retorno. Entre suas obras figuram como as mais importantes Assim falou Zaratustra (9. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998); O anticristo (Lisboa: Guimarães, 1916); e A genealogia da moral (5. ed. São Paulo: Centauro, 2004). Escreveu até 1888, quando foi acometido por um colapso nervoso que nunca o abandonou, até o dia de sua morte. A Nietzsche foi dedicado o tema de capa da edição número 127 da IHU On-Line, de 13-12-2004. Sobre o filósofo alemão, conferir ainda a entrevista exclusiva realizada pela IHU On-Line edição 175, de 10 de abril de 2006, com o jesuíta cubano Emilio Brito, docente na Universidade de Louvain-La-Neuve, intitulada Nietzsche e Paulo. A edição 15 do Cadernos IHU Em Formação é intitulada O pensamento de Friedrich Nietzsche.
(11) Kierkegaard foi um teólogo e filósofo dinamarquês do século XIX, que é conhecido por ser o "pai do existencialismo". Kierkegaard rejeitou a filosofia hegeliana do seu tempo e aquilo que ele viu como o formalismo vácuo da igreja luterana dinamarquesa. Muitas das suas obras lidam com problemas religiosos tais como a natureza da fé, a instituição da fé cristã, e ética cristã e teologia. Por causa disto, a obra de Kierkegaard é, algumas vezes, caracterizada como existencialismo cristão, em oposição ao existencialismo de Jean-Paul Sartre ou ao proto-existencialismo de Friedrich Nietzsche, ambos derivados de uma forte base ateística.
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Adorno e a sociedade contemporânea. Entrevista especial com Francisco Fianco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU