23 Março 2022
"Pegada Hídrica foi um conceito criado pelo pesquisador holandês Arjen Hoaektre, há cerca de 20 anos, como um modelo para mensurar o volume de água utilizado ao longo de toda a cadeia de produção de um bem ou serviço, da matéria prima ao produto final. O assunto saiu do mundo acadêmico e ganhou aderência de empresas dos mais diversos segmentos, que estão apostando em embalagens reutilizáveis e inciativa de economia circular da água, bem como de consumidores atentos, que estão dispostos a repensarem seus hábitos de consumo", escreve Naiana Madureira, em artigo publicado por EcoDebate, 22-03-2022.
No Dia Mundial da Água, Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água (ALADYR) chama atenção para ao uso indireto de água ligado aos nossos hábitos de consumo e convoca sociedade civil, poder público e empresas a pensarem em alternativas sustentáveis que garantam o fornecimento de recursos hídricos para as próximas gerações.
De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), um brasileiro consome, em média, cerca de 152,1 litros de água por dia para realizar tarefas básicas como escovar os dentes, tomar banho e limpar a casa. Esse dado contempla apenas o uso direto, ou seja, a água que usamos para beber, lavar e cozinhar; ele deixa de lado o uso indireto, a “água virtual” incorporada nos processos produtivos de bens e mercadorias que fazem parte do nosso dia a dia.
Para confeccionar a calça jeans que vestimos foram utilizados mais de 5 mil litros de água, na xícara de café consumida nas primeiras horas da manhã foram gastos 132 litros de água para sair das plantações e chegar a nossa mesa, o bife que acompanha o tradicional PF brasileiro utilizou 15.415 litros de água para cada quilo de carne comercializada. A plataforma Water Footprint Network, especializada em contabilizar a pegada hídrica de mercadorias e atividades comerciais, estima que cada brasileiro consuma em média 5.600 litros de água por dia, considerando o uso direto e o indireto.
Pegada Hídrica foi um conceito criado pelo pesquisador holandês Arjen Hoaektre, há cerca de 20 anos, como um modelo para mensurar o volume de água utilizado ao longo de toda a cadeia de produção de um bem ou serviço, da matéria prima ao produto final. O assunto saiu do mundo acadêmico e ganhou aderência de empresas dos mais diversos segmentos, que estão apostando em embalagens reutilizáveis e iniciativa de economia circular da água, bem como de consumidores atentos, que estão dispostos a repensarem seus hábitos de consumo.
Para o cálculo da pegada hídrica de um produto, são considerados três tipos de consumo de água: a Pegada Hídrica Verde, que considera apenas a água de precipitações (chuvas e neve) utilizada na evaporação, transpiração ou que é incorporada pelas plantas; Pegada Hídrica Azul, toda água proveniente de recursos hídricos subterrâneos ou superficiais que evapora ou é agregada durante a produção de um bem, ou ainda disposta no mar; por fim temos a Pegada Hídrica Cinza, que se refere apenas a água limpa utilizada para diluir água poluída oriunda dos processos de produção, até que se alcance os padrões de potabilidade estabelecidos em legislação.
“Se consideramos que a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que em 2050 teremos quase 10 bilhões de habitantes no planeta, faz cada vez mais sentido nos preocuparmos com a quantidade de água consumida em nosso dia a dia, utilizada para a produção dos bens de consumo e para desenvolvimento da economia, bem como discutirmos alternativas sustentáveis para aumentar a oferta de água, seja através de projetos de reuso de água ou dessalinização da água do mar ou salobra”, destaca Juan Miguel Pinto, engenheiro e presidente da Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reuso de Água (ALADYR).
Criado em 1992 pela ONU, o Dia Mundial da Água é celebrado em 22 de março de cada ano, como um esforço da comunidade internacional para conscientizar todas as pessoas sobre a importância deste recurso natural e inspirar ações em prol do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 6 – água e saneamento para todos. Em um relatório apresentado no 8º Fórum Mundial da Água, realizado em Brasília, a ONU afirmou que a falta d’água pode afetar 5 bilhões de pessoas até 2050.
Neste ano o tema escolhido é “Águas subterrâneas: Tornando o invisível visível”, uma vez que quase toda a água doce do mundo está disponível em reservas subterrâneas. Segundo citações do Ministério do Meio Ambiente, as reservas de água subterrânea brasileiras estão estimadas em 112 mil quilômetros cúbicos, enquanto que a contribuição multianual média à descarga dos rios é da ordem de 2.400 quilômetros cúbicos por ano. Enquanto isso, na Argentina, a contribuição multianual média à descarga dos rios é da ordem de 128 km³/ano, no Paraguai, de 41 km³/ano e no Uruguai, de 23 km³/ano.
Um dos maiores reservatórios subterrâneos de água doce do mundo está situado no centro-sul do Brasil e em parte dos territórios da Argentina, Paraguai e Uruguai. O Aquífero Guarani abrange parte dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, uma área maior que 1 milhão de quilômetros quadrados e comporta aproximadamente 33 trilhões de litros de água.
A água subterrânea é um tesouro escondido sob nossos pés e que está sob ameaça iminente, tanto pela intensificação das mudanças climáticas, como pela ação humana. Entre as principais fontes de contaminação dos mananciais subterrâneos estão os lixões e aterros mal operados; uso incorreto de agrotóxicos e fertilizantes; vazamentos de esgoto e efluentes; armazenamento, manuseio e descarte inadequado de produtos e resíduos oriundos da atividade industrial; entre outros.
Segundo o Programa Mundial de Avaliação da Água da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o consumo de água no mundo deve crescer entre 20% e 30% nos próximos 28 anos. Em virtude disso, se faz ainda mais necessário pensar na preservação dos mananciais e reservatórios subterrâneos.
Para Marcelo Bueno, diretor da ALADYR para o Brasil, os cenários projetados para as próximas décadas confirmam a urgência em passarmos de um status de discussão para a real aplicação de tecnologias de reuso de água e dessalinização como modelos de complementação do abastecimento de água. “As tecnologias existem e os seus benefícios são múltiplos. Estamos falando de plantas de dessalinização que podem garantir água potável em regiões que antes era impensável ter água, ou mesmo iniciativas que promovam o tratamento de efluentes e reuso de água para abastecer grandes complexos industriais e, assim, reduzir a captação de águas superficiais e subterrâneas”, destacou o engenheiro.
O projeto Aquapolo Ambiental mostra que as iniciativas apontadas pela ALADYR já são uma realidade. A maior planta de produção de água industrial da América Latina, resultado de uma parceria entre a GS Inima Industrial e a SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), fornece água de reuso para o Polo Petroquímico de Capuava e indústrias da Região do ABC Paulista, utilizando como insumo o esgoto tratado pela Estação de Tratamento de Esgoto ABC da Sabesp (ETE-ABC).
Para Márcio José, diretor presidente do Aquapolo Ambiental, projetos que buscam um melhor aproveitamento dos recursos hídricos tem um papel fundamental tanto econômico, como social. “Esse papel é muito claro, pois a cada litro de água reciclada utilizado por nossos clientes do segmento industrial, outro litro de água potável é liberado para usos mais nobres como o consumo humano”, destaca Márcio.
Com nove clientes atendidos diretamente, 14 plantas industriais utilizando a água de reuso produzida, o AQUAPOLO tem capacidade para fornecer 1 mil litros de água de reuso por segundo, volume suficiente para abastecer uma cidade de 500 mil habitantes.
Os representantes da ALADYR fazem um chamado não só para este dia, mas em todos, para que sejamos mais conscientes em nossas casas, indústrias, trabalhos, escolas e em qualquer ação sobre o consumo e uso da água. Faz-se necessário conhecer a origem e o trabalho despendido para que todos tenham acesso a esse recurso, observar se estamos contribuindo ou não para a poluição de rios, lagos e reservas subterrâneas; bem como entender como podemos melhorar a forma de devolução dos recursos hídricos utilizados aos mananciais e bacias hidrográficas. É vital tomarmos ações que previnam os cenários alarmantes que estão previstos.
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Pegada Hídrica: qual o impacto ambiental do nosso consumo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU