08 Março 2022
A manifestação mira denúncias contra o pacote de veneno em frente a Syngenta, empresa que é líder do mercado mundial de agrotóxicos.
Foto: Julia Gimenez, Marília Fonseca e Fernanda Bezerra. Portal MST
A reportagem é de Lays Furtado, publicado por Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, 07-03-2022.
Na manhã desta segunda-feira (7), mulheres integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizaram protesto contra o uso de agrotóxicos em frente à fábrica da empresa suíça Syngenta, localizada na cidade de Paulínia, há 120km da capital paulista.
Com faixas, grafites e palavras de ordem, cerca de 70 Mulheres Sem Terra ocuparam a frente da empresa Syngenta, fabricante e líder mundial do mercado de agrotóxicos, denunciando as mortes e envenenamento que geram o lucro de empresas como a Syngenta.
A ação dá largada às mobilizações da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra 2022 em São Paulo, entre outras ações de denúncia e protesto que ocuparão todas as grandes regiões do país, integrando as mobilizações e atos no campo e cidade, com o lema: “Terra, Trabalho, Direito de Existir. Mulheres em Luta não vão sucumbir!”
“Neste momento as Mulheres Sem Terra estão se mobilizando contra o agronegócio. Nós estamos com ações em todos os estados, em especial contra o PL o pacote de veneno que foi aprovado na Câmara dos Deputados, e que vai colocar muito mais veneno no prato da classe trabalhadora” denuncia Cássia Bechara, da direção do Coletivo de Relações Internacionais do MST.
A Syngenta é uma das fabricantes do Paraquat, um dos agrotóxicos mais perigosos do mundo e que já foi proibido em mais de 50 países desde 1989, porém ainda é usado no Brasil e está sendo empurrado para a mesa do povo brasileiro. E segue sendo liberado pelo governo Bolsonaro, bem como defendido pela bancada ruralista, que pretende ampliar a liberação de uso de agrotóxicos no país com a aprovação do Projeto de Lei (PL) 6.229/2002, conhecido como o “pacote de veneno”.
Após tramitar 20 anos entre parlamentares, o PL do Pacote de Veneno é alvo das denúncias das Mulheres Sem Terra. O projeto de lei de liberação de mais veneno é prioritário para o atual governo e trata de um conjunto de propostas que flexibilizam o marco regulatório de agrotóxicos, visando aumento da venda e do uso dos venenos. E, consequentemente, ampliando a intoxicação e morte de crianças, trabalhadoras e trabalhadores, causando prejuízos à população e ao ambiente.
A denúncia contra a morte de crianças por agrotóxicos marcou a manifestação das mulheres e mães Sem Terra. Segundo a investigação “Paraquat Papers”, feita pela organização suíça Public Eye, a Syngenta sabe do efeito letal do Paraquat desde 1990, mas ainda continua a produzi-lo.
Somente o “glifosato”, agrotóxico mais usado no Brasil, usado em larga escala na produção de soja transgênica, está associado à morte de 503 crianças, o levantamento foi feito em pesquisa recente, divulgada pelos pesquisadores/as das universidades de Princeton, FGV (Fundação Getúlio Vargas) e Insper.
Outras pesquisas feitas no país denunciam a presença de glifosato no leite materno de regiões de monocultura de soja. Em 2018, pesquisa da Universidade Federal do Piauí (UFPI), foi constatado a contaminação por glifosato ou ácido aminometilfosfônico (Ampa) – ou ambas as substâncias – em 83,4% das amostras obtidas na maternidade do Hospital Regional Dirceu Arcoverde (HRDA), em Uruçuí, próximo da maior região sojicultora do estado.
As Mulheres Sem Terra também denunciam a compra de parlamentares por parte da empresa para que mais agrotóxico fosse liberado legalmente. O relator da PL do veneno, o deputado Nishimori (PL-PR), que é um dos membros do agronegócio por meio da empresa Mariagro Agrícola Ltda, fez um acordo de R$ 1,5 milhão para quitar uma dívida com a Syngenta. A negociação da dívida foi feita no final de 2020, quando já tramitava na Câmara o Projeto de Lei do PL do Veneno, catorze meses depois o PL é aprovado em votação com regime de urgência impulsionada por ruralistas.
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Mulheres Sem Terra iniciam jornada de lutas com protesto contra os agrotóxicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU