15 Outubro 2021
Visitando Madrid para inaugurar o curso da Universidade de São Dâmaso, o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Luis Francisco Ladaria, s.j., reivindica o papel dos leigos na Igreja e recorda que “somos responsáveis todos de todos”.
A entrevista é de Rodrigo Pinedo, publicada por Alfa&Omega, 07-10-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Você se formou, entre outros lugares, na Pontifícia Universidade de Comillas, aqui em Madrid, e agora vem abrir o curso acadêmico da Universidade São Dâmaso, que cumpre 25 anos. Por que são importantes centros assim?
A Igreja não é um monocórdio, é sinfônica, e isto já dizia Santo Irineu de Lyon há muitos séculos. A Igreja é a voz de muitas águas, como a Bíblia as reúne, e a teologia tem que ser sinfônica. Está certo que haja diferentes vozes, diferentes faculdades... tudo enriquece e ninguém tem que crescer acima dos outros, mas sim que todos participamos juntos nesta sinfonia da fé, que é o que importa.
A teologia importa, naturalmente, porém o que importa é a fé, e a teologia está a serviço da fé. Se a teologia não serve para que cresçam a fé e o amor de Deus, contraproducente.
Sobre a teologia do Pai, fonte e origem, perdemos essa referência no Ocidente?
Não, de modo algum. Esta expressão, fons et origo, a tirei dos concílios de Toledo, que se inspiraram muito em Santo Agostinho.
Não me refiro tanto ao âmbito da teologia, mas entre as pessoas comuns...
Sempre temos que voltar às verdades fundamentais. Em minha conferência faço algumas reflexões inatuais porque inatual quer dizer que é de sempre, que não é uma coisa de interesse de hoje. O Pai é a fonte e Jesus se dirigia sempre ao pai, o que isso significa? Jesus nos convida a rezar o Pai-Nosso, o que significa isto? Muda tudo.
Agora vamos falar sobre seu trabalho como prefeito... Seu último documento foi a rejeição da bênção das uniões homossexuais. O que diria a quem vê uma contradição em acolher estas pessoas a pedido do Papa?
Eu diria a você uma coisa muito simples: leia com atenção o que o Papa Francisco diz e leia com atenção o texto da Congregação. Não são coisas diferentes, mas são perfeitamente coerentes.
O Papa, por exemplo, quando voltou recentemente da Eslováquia, insistiu muito no que significa o casamento cristão. Ao mesmo tempo, todos temos que acolher essas pessoas, quem questiona isso? Deus também as ama, quem pode questionar? Se houve rejeição social, isso não funciona, é contra a fé e contra a moralidade cristã. Isso é muito claro.
Há pouco se institucionalizou o acesso das mulheres aos ministérios do acolitado e do leitorado. É um passo para a participação real e efetiva de cada batizado na missão da Igreja. Ainda há um caminho a percorrer?
Sempre há um caminho a percorrer. Qual era o início dessa modificação do Ministeria quaedam desde o tempo de Paulo VI Estava claro que o acólito e o leitorado eram ministérios leigos. No início, devido ao peso da história, foram reduzidos a homens. E agora chegamos à conclusão de que, se são ministérios leigos [sublinhe as sílabas], são para todos os leigos e, portanto, também para os leigos. As mulheres não podiam ser excluídas. Isso é muito positivo para a Igreja e abre caminho, porque se diz que outros ministérios podem ser criados – seja na Igreja universal ou nas diferentes conferências episcopais – conforme as necessidades pastorais.
O papel das mulheres na Igreja está crescendo e, no Vaticano, existem mulheres com cargos de grande responsabilidade. O fato de o ministério sacerdotal estar reservado aos homens desde o início da Igreja não é discriminatório. Na Igreja, o princípio mariológico é muito importante: Maria não era sacerdote, nem foi São Pedro, nem tinha as chaves do Reino, mas é a pessoa que mais veneramos depois de Nosso Senhor. Isso tem que nos iluminar, tem que abrir nossos horizontes.
Entendo que este processo estará muito conectado ao caminho sinodal...
Claro.
No último ano se falou em cuidar da vida e de abordar a moralidade das vacinas, ressaltando que são boas para proteger a população, principalmente os mais vulneráveis, mas que ao mesmo tempo devem ser voluntárias. Como manter o equilíbrio?
Sem cair na casuística, acredito que temos uma obrigação conosco e com os outros. Não é algo que toca apenas a mim pessoalmente, mas que toca a sociedade. Somos todos responsáveis por todos.
O Papa insiste que avance a vacinação nos países menos desenvolvidos...
Devemos garantir que os bens da terra sejam de todos. Esses bens são comida e bebida, mas também saúde.
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“A Igreja não é um monocórdio e a teologia tem que ser sinfônica”. Entrevista com o cardeal Luis Ladaria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU