“A questão para a terceira via em 2022 é a seguinte: qual a proporção da base social da direita que, mesmo diante do desastre que foi o governo Bolsonaro, tem interesse em voltar a fazer concessões a quem não tem dinheiro nem armas? Até o momento, bem menos do que seria necessário para eleger um “terceira via”. O apoio a Bolsonaro entre empresários ainda é muito maior do que no resto da população. A atitude da elite brasileira diante de Bolsonaro é a da turma no jantar de Temer com Naji Nahas: para quem continua ganhando dinheiro, o fascismo é até engraçado. Tudo isso ficou claro na passeata do dia 12, quando o jantar do Temer pareceu dizer ao MBL: “Nós não fizemos isso tudo pra ter que voltar a fazer passeata com vocês” – Celso Rocha de Barros, doutor em sociologia – Folha de S. Paulo, 20-09-2021.
“Deixo meu aviso aos jovens liberais que se animaram durante a crise do PT: a média da direita brasileira é isso aí, o jantar do Temer. É difícil organizar um movimento forte para lutar em campo aberto quando tanta gente do seu lado já se dá bem só com jogo dos bastidores” – Celso Rocha de Barros, doutor em sociologia – Folha de S. Paulo, 20-09-2021.
“Eis o problema. Bolsonaro faz parte de uma constelação global em desenvolvimento, que ninguém sabe aonde vai dar. Ela tem traços fascistas, mas não é a reedição do velho fascismo italiano e alemão. Por isso, proponho chamá-la, provisoriamente, de “autocratismo com viés fascista”. A fórmula, algo canhestra e que talvez precise ser modificada adiante, pretende contribuir para uma compreensão, que se revela urgente, do momento brasileiro. Líderes autocráticos do século 21 perceberam que podiam utilizar as redes sociais para operar desde uma espécie de “role-playing game” permanente, no qual fantasia e realidade se misturam, confundindo tudo e todos” – André Singer, professor de ciência política da USP – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“A Escola de Frankfurt percebeu que, embora a raiz do fascismo se encontrasse no modo de produção capitalista, a sua efetividade enquanto movimento político dependia de atingir traços inconscientes dos indivíduos. A hábil propaganda nazista ativava um desejo profundo de punir bodes expiatórios, canalizando contra eles uma raiva que advém do andamento da sociedade, sentido como adverso e perigoso. Envolvidos por essa publicidade enlouquecedora, poder-se-ia imaginar, de maneira bem simplificada, que os aderentes a Bolsonaro acreditam fazer parte de um povo oprimido, cuja “liberdade” está ameaçada por uma coalizão que vai de Lula ao Supremo Tribunal Federal (STF), passando pela China e a Faria Lima” – André Singer, professor de ciência política da USP – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“Aí o perigo representado pelo 7 de Setembro de 2021, a primeira ocasião em que o autocratismo de viés fascista demonstrou capacidade de mobilizar massas no Brasil. Para elas, a “prova” de autoritarismo do “sistema” Lula-China-Faria Lima-STF estaria nas prisões determinadas pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes” – André Singer, professor de ciência política da USP – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“No Brasil, o melhor meio de barrar o autocratismo seria o impeachment de Bolsonaro. Para tanto, é indispensável criar uma unidade ativa entre forças de esquerda, centro e direita, que de resto possuem visões antagônicas de como dirigir a nação caso o presidente seja impedido. De imediato, portanto, o passo necessário é o mútuo reconhecimento das profundas diferenças que dividem essa possível frente democrática, sobretudo no que diz respeito ao programa econômico. Sem legitimar as distinções, a confiança recíproca não se estabelece, e o entusiasmo se esvai” – André Singer, professor de ciência política da USP – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“Com cerca de 590 mil mortos e perto de 10% da população tendo sido infectada pelo coronavírus, o Brasil tem um presidente que não se vacinou, combateu o distanciamento e defendeu a cloroquina. Seu primeiro chanceler orgulhou-se por ter colocado o país na condição de pária, os agrotrogloditas continuam derrubando as florestas e o pelotão palaciano, que relutou em reconhecer o resultado da eleição americana, tornou-se sucursal do trumpismo eletrônico. Nunca na história da República se viu coisa igual, o governo de Pindorama está com os dois pés fincados no atraso. Isso nunca aconteceu na República, mas no Império aconteceu, custando caro à terra das palmeiras onde canta o sabiá” – Elio Gaspari, jornalista – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“Há ocasiões em que países decidem andar para trás. Quando isso acontece, uma névoa embaça a percepção. Só com o tempo é que as coisas ficam claras. É temerário pretender fixar num dia o triunfo da insensatez” – Elio Gaspari, jornalista – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“O risco político está consolidado na personalidade intrínseca do presidente, não na persona do paz e amor da carta de Michel Temer. Pelo histórico dele, não há mínima possibilidade de reduzir a temperatura política. As crises fiscal, hídrica etc só vêm agravar ainda mais o cenário” – Lawrence Pih, investidor – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“Ameaça golpista, reprovação crescente, fantasma do impeachment? Ainda vem muita turbulência? O impeachment está nas mãos do Arthur Lira, político muito mais hábil e sofisticado que Eduardo Cunha. Lira irá até o limite e extrairá o máximo do Bolsonaro antes de jogar ele embaixo de um ônibus, como dizem os americanos. Aliás, hoje, Bolsonaro não governa mais. É o centrão que governa. Dá pena” – Lawrence Pih, investidor – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“O Lula está virtualmente com a mão na taça. No campo da terceira via tem ao menos uma dúzia de candidatos. É quase impossível chegarem a um acordo. Os egos e a fome não dão espaço a uma composição. Neste ínterim, o Lula deve estar a todo vapor costurando alianças. O centrão sucumbirá ao charme do Lula sedutor. Cargos e verbas. O Lula já está sinalizando seu eterno amor ao mercado com Luiza Trajano na pauta. Lembra do José Alencar [vice-presidente de Lula]? Há uma onda rosa varrendo a América Latina e a América Central. O nosso país também está embarcando nesta onda, e não necessariamente é ruim. Pode até reduzir a desigualdade pornográfica do país. Lula e PT devem ter aprendido lições com os erros do mensalão, corrupção e a incompetência da Dilma. Vamos torcer” – Lawrence Pih, investidor – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“Lula come esse angu de caroço quente pelas bordas. Procura aliados por quase toda parte ou, pelo menos, tenta conter o risco de que se forme uma coalizão que possa vir a triturá-lo. Lula quer ser outra vez normalizado. Almoça com FHC, visita Tasso Jereissati, negocia ou faz pazes com possíveis desgarrados do centrão ou caídos do MDB. Hoje, seu adversário é Jair Bolsonaro, que quase bate no primeiro turno. Amanhã, sabe-se lá. Até a transviada terceira via pode vir a ser viável” – Vinicius Torres Freire, jornalista – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“Como é óbvio, Lula terá de lidar com isso, “reformas”, a ruína do teto de gastos, os destroços de uma década de regressão econômica; com o exército ainda maior de inempregáveis e o precariado expandido. Isso em um país em que a extrema direita se tornou grande força, em que a religião voltou a ser partido e assunto político, em que as periferias se tornaram de vez feudos de milícias e facções ou em que os empresários novos-ricos e o agro ogro promovem o reacionarismo” – Vinicius Torres Freire, jornalista – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
Falta saber se a costura de Lula irá tão longe: arrumar um “político” de confiança e que consiga levar para um governo petista “liberais” de prestígio e com alguma cintura. De menos especulativo, Lula parece tentar criar as condições para que sua candidatura e um possível governo sobrevivam. O país anda mais feroz, e faz menos de dois anos o ex-presidente estava na cadeia, convém lembrar" – Vinicius Torres Freire, jornalista – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“Quanto maior for a vulnerabilidade política de Bolsonaro, maior o interesse do Centrão de continuar a protegê-lo. Essa estratégia possibilitará a extração de maiores recursos do Executivo, fundamentais para que os parlamentares do Centrão se reelejam e formem uma bancada federal ainda maior, consolidando a sua posição de pivô no Legislativo, independentemente de quem venha a se tornar o majoritário vencedor em 2022. Mesmo que Bolsonaro venha a apresentar níveis de popularidade extremamente baixos e/ou perca ainda mais competitividade eleitoral, não é racional que o Centrão venha a “abandonar o barco” de Bolsonaro, pois muito provavelmente terá um barco em 2022, ainda que com um timoneiro diferente” – Carlos Pereira, professor da FGV EBAPE, Rio – O Estado de S. Paulo, 20-09-2021.
“É fato que teremos cada vez menos emprego formal como conhecemos no regime CLT, um modelo criado nos anos 1940 que se mostra cada dia mais distante. (...) Mas é preciso que a legislação englobe estas novas maneiras de produção intelectual para garantir um trabalho decente, como preconiza a OIT [Organização Internacional do Trabalho]”, afirma. “O direito tem que refletir os valores da sociedade” - André de Melo Ribeiro, especialista em direito do trabalho, do escritório Dias Carneiro Advogados, segundo ele, o fenômeno da “gig economy” —ou economia dos bicos, que começou no setor de tecnologia com plataformas como o Uber, que prometiam que cada um seria o seu patrão— transbordou para as mais diferentes áreas e atingiu a classe média intelectualizada – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“É fato que teremos cada vez menos emprego formal como conhecemos no regime CLT, um modelo criado nos anos 1940 que se mostra cada dia mais distante. (...) Mas é preciso que a legislação englobe estas novas maneiras de produção intelectual para garantir um trabalho decente, como preconiza a OIT [Organização Internacional do Trabalho]. O direito tem que refletir os valores da sociedade” - André de Melo Ribeiro, especialista em direito do trabalho, do escritório Dias Carneiro Advogados, segundo ele, o fenômeno da “gig economy” —ou economia dos bicos, que começou no setor de tecnologia com plataformas como o Uber, que prometiam que cada um seria o seu patrão— transbordou para as mais diferentes áreas e atingiu a classe média intelectualizada – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“Se o trabalho prestado pelo PJ não for um complemento da renda, ao contrário, a renda do PJ depender daquele trabalho, é uma relação empregatícia disfarçada” - André de Melo Ribeiro, especialista em direito do trabalho, do escritório Dias Carneiro Advogados, lembrando que a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) é muito clara: um prestador de serviços PJ não se submete a uma remuneração fixa mensal, não cumpre horário e não usa equipamentos da empresa contratante, uma vez que essas premissas caracterizam um emprego formal” – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“As condições para o trabalho remoto, por exemplo, não estão definidas. E muitas pessoas vão continuar neste formato ou, pelo menos, no híbrido. Mas os gestores não estão preparados para lidar para esta nova realidade (Muitos gestores acreditam que trabalhar em casa significa estar disponível 24 horas por dia, sete dias por semana para a empresa. “Isso não funciona, está gerando cada vez mais casos de burnout, depressão e problemas psiquiátricos” - André de Melo Ribeiro, especialista em direito do trabalho, do escritório Dias Carneiro Advogados – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“Existe uma enorme subutilização da força de trabalho no Brasil. Além dos informais, o país tem 5,6 milhões de desalentados e 14,4 milhões de desempregados. São cerca de 55 milhões de pessoas que deveriam estar produzindo e não estão. Ver tantas coisas por fazer e ver tanta gente parada é de uma irracionalidade absurda” – Ladislau Dowbor, economista – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“É uma piada dizer que o mercado de trabalho se resolve sozinho. O nível de desemprego dos jovens de 16 a 29 anos já chega a 31%. Muitos são de classe média e, não por acaso, quase metade deles quer deixar o país, por falta de oportunidades de trabalho" – Ladislau Dowbor, economista – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“Uma maneira como o ativismo da última década elaborou as consequências desse aprendizado foi a tendência, cada vez mais disseminada, de conceber movimentos como “ecologias”. Contra uma posição estritamente “vertical”, que veria a centralização como um fim em si mesma, essa ideia sugere que a pluralidade é uma dimensão irredutível da política: um movimento tem vários centros, e isto é, em princípio, saudável. Contra um “horizontalismo” estrito, por outro lado, ela afirma que ter centros, em vez de uma rede inteiramente plana onde nenhum ponto tenha mais influência que outro, é tanto necessário quanto positivo para dar ao movimento consistência e coordenação” – Rodrigo Nunes, professor de filosofia da PUC-Rio – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“No Brasil, esse processo de aprendizado foi dificultado, primeiro, pelo fato de que 2013 agravou o cisma entre a esquerda institucional e demandas mais radicais; e, segundo, por uma guinada à direita que rebaixou em muito tanto o horizontes de possibilidades quanto as condições de debate”. Não é impossível imaginar, todavia, que a “linha evolutiva” quebrada possa ser retomada em outro ponto, levando à constituição de ecologias que reúnam, por exemplo, as lutas indígenas, movimentos de “ocupação da política institucional” como o Muitas, de Belo Horizonte (MG), e as novas formas de organização laboral que despontam entre os trabalhadores de aplicativo” – Rodrigo Nunes, professor de filosofia da PUC-Rio – Folha de S. Paulo, 19-09-2021.
“Não concebo fenômenos políticos de direita populista, como Trump e Bolsonaro, sem as mídias sociais. O surgimento das redes não explica totalmente fenômenos como esses, mas é razoável argumentar que os viabiliza. Na República de Weimar (regime anterior ao nazismo), o primeiro político a perceber a importância do rádio e do cinema, as mídias sociais da época, foi Hitler. Manipulou a opinião pública por meio do rádio e do cinema, contratou cineastas, (Joseph) Goebbels estudou encenação, cenografia, até tom de voz, para ajudar a criar um impacto gravíssimo. E Hitler chegou ao poder pela via eleitoral” – Eduardo Giannetti da Fonseca, economista – Zero Hora, 20-09-2021.
“O governo Bolsonaro hoje está completamente de joelhos, depende de acordos escusos com o que há de mais podre na política brasileira” – Eduardo Giannetti da Fonseca, economista – Zero Hora, 20-09-2021.